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Polo Automotivo Jeep: reflexos econômicos e sociais

Paralelamente à construção do Polo Automotivo Jeep, outro grande desafio foi vencido: atrair, organizar, contratar e treinar a mão-de-obra necessária em uma região sem tradição industrial, estruturando equipes para construir o polo industrial e, posteriormente, para operá-lo. “Encaramos esse desafio como uma oportunidade. Nosso objetivo primário era compreender a realidade local e os desafios que projetos dessa magnitude poderiam apresentar. Para isso, vários colegas de RH da América Latina se envolveram e se juntaram aos admitidos em Pernambuco e aos principais gestores locais. Juntos, agrupamos várias competências”, explica Adauto Duarte, diretor de Recursos Humanos para o Polo Automotivo Jeep.

Ainda em 2010, bem antes do início das obras, a equipe de Recursos Humanos buscou conhecer os costumes locais e estabelecer uma relação próxima com a comunidade. Para isso, foram realizadas várias pesquisas para farta coleta de dados sobre a região. Durante vários meses, a região de Goiana foi toda mapeada e um perfil do Estado foi elaborado. Adauto e seus colegas de RH foram também conhecer grandes obras do Brasil, como o do Porto de Suape, as usinas hidrelétricas do Madeira (Jirau) e obras da Copa, para saber quais os principais obstáculos durante a implantação de cada uma.

A partir daí, desenharam-se políticas de gestão de pessoas para o projeto, reunindo algumas ações já consolidadas no grupo e criando-se outras. “O desafio era trabalhar políticas para construir um ambiente harmônico no polo, coordenando a atuação de 320 empresas fornecedores de serviços, e mais de 11 mil pessoas no pico da obra, em 17 prédios agrupados num mesmo local”, explica.

Os resultados colhidos concretizam a expectativa inicial de que a implantação do agora Polo Automotivo Jeep representaria um legado para a FCA, para o Estado e para a sociedade. O objetivo maior foi conquistado: desenvolver um novo time de profissionais, capazes de integrar, desenvolver e aplicar conhecimentos mais avançados da indústria automotiva para um mercado em evolução. E na implantação de uma nova marca: Jeep.

Para atrair e recrutar talentos, do nível básico ao altamente especializado, a área de Recursos Humanos lançou mão de vários métodos. Utilizou desde websites para receber currículos até carros de som nas ruas dos bairros humildes de Goiana e da região para dar acesso às pessoas ao processo seletivo. Outra decisão importante foi a opção por aproveitar trabalhadores locais em vez de trazê-la de outro lugar.

Também optou-se por não erguer grandes alojamentos no canteiro da obra, porque a experiência em outras grandes obras mostrou que a alta concentração de gente em alojamento aumenta os índices de violência, prostituição, tráfico e consumo de drogas. No período de construção, 70% de mão-de-obra na construção era local. Os 30% restantes vieram de fora e foram alocados, de forma planejada, em uma série de moradias integradas à cidade, chamadas de ‘repúblicas’, além de apartamentos, pequenos hotéis alugados ou casas reformadas, com a característica comum de abrigarem um número reduzido de trabalhadores.

Para garantir o equilíbrio social nas repúblicas, visitas noturnas com palestras foram realizadas com frequência em uma articulação da FCA com a Polícia Militar, Secretaria de Ação Social e Conselho Tutelar. Durante a ação, eram discutidos temas de interesse da sociedade como a Lei Seca e o combate à prostituição infantil. Em paralelo, grupos folclóricos apresentavam a cultura local para os recém-chegados a Pernambuco.

O projeto de qualificação de pessoas para o Polo Automotivo Jeep passou por três momentos. Numa primeira etapa, foram treinadas pessoas para a construção civil e instalação de máquinas e equipamentos. O governo do Estado e as prefeituras, em parceria com a FCA, ofereceram ferramentas de qualificação de trabalhadores para as construtoras para permitir que as pessoas da Zona da Mata Norte pudessem trabalhar na construção do Polo.

Nesse estágio, o desafio foi vencer, muitas vezes, o baixo índice de escolaridade dessa mão-de-obra. Muitos precisaram passar por qualificação básica em matemática e português para depois entrarem na capacitação profissional propriamente dita. Muitos vieram do comércio local, como balconistas, ou trabalhavam com cana-de-açúcar. “Apenas nesse estágio de construção civil e implantação de máquinas e equipamentos, capacitamos 8 mil pessoas”, revela Adauto. Tal esforço permitiu que esse contingente migrasse de atividade econômica.

Na fase seguinte, já na fase de contratação de funcionários para a indústria, também em articulação com o governo do Estado e com o Senai, foram preparados e oferecidos vários cursos técnicos (de mecânica, elétrica, eletrônica etc.) na Zona da Mata Norte de Pernambuco. Parte das pessoas empregadas no polo saiu desse processo. Paralelamente, a equipe de RH passou a articular a formação de pessoas com graduação.

Como exemplo, a FCA estabeleceu uma parceria com o governo do Estado, juntamente com a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEP), para possibilitar a dupla graduação de estudantes de segundo ano do curso de engenharia das universidades locais, em intercâmbio com o Instituto Politécnico de Turim, na Itália. Foram selecionados 20 estudantes brasileiros que foram enviados à Itália e voltaram com dupla titulação e já foram contratados pela FCA.

A criação de talentos para o polo é um processo sem fim. Por isto, foi constituído o Polo de Educação Automotivo, firmada em dezembro de 2014 com a assinatura de um protocolo de intenções entre a Jeep e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade de Pernambuco (UPE), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI-PE) e Instituto Euvaldo Lodi (IEL-PE).

 Reflexos econômicos e sociais – O Polo Automotivo Jeep é um ativo valioso não apenas para a FCA. Ele representa um grande impulso para o desenvolvimento econômico e social da região em que está instalado, de Pernambuco e do próprio Nordeste. A indústria automobilística é um poderoso indutor de desenvolvimento.

O setor e sua cadeia produtiva respondem por cerca de 5% do Produto Interno Bruto total do Brasil e por 23% do PIB industrial. É denominado “indústria de indústrias”, tal a sua capacidade de estruturar em seu entorno parques de empresas transformadoras de matérias-primas e produtoras de componentes vinculados a inúmeros setores da economia, abrangendo toda a escala de complexidade tecnológica.

Os reflexos são mensuráveis. Estudo realizado pela consultoria Ceplan projeta que, em 2020, o Polo Automotivo Jeep vai contribuir com 6,5% do PIB de Pernambuco. Será uma curva ascendente, considerando que já em 2015, primeiro ano de operação, terá participação de 2,5% no conjunto de riquezas produzidas dentro do Estado. Essa geração de riquezas será feita predominantemente com o emprego de mão-de-obra local, o que significa que produzirá efeitos sociais positivos.

Novas práticas sustentáveis – O Polo Automotivo Jeep reúne em um só lugar os melhores processos produtivos da Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e também as melhores práticas orientadas para a sustentabilidade. A FCA se propôs a missão de contribuir para a promoção da cidadania nas comunidades do entorno e, para isso, desenvolve e apoia ações nas áreas de educação, saúde, meio ambiente e cultura.

Na vertente da educação, o Polo Automotivo Jeep, criou uma série de ações para estimular e desenvolver o aprendizado de crianças, jovens e adultos. Para isto, estabeleceu compromisso com a Prefeitura de Igarassu, o Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação (ICE) e Instituto Qualidade no Ensino (IQE), a fim de melhorar o ensino público do município. O termo de cooperação prevê a qualificação dos docentes, reforço escolar em Matemática, Português e Ciências, e implantação de escolas em tempo integral.

Também estabeleceu parcerias com as principais universidades e centros de ensino de Pernambuco e da Paraíba, para a criação do Polo de Educação Automotiva, inspirado na experiência de sucesso do Vale do Silício, nos Estados Unidos. Outras duas iniciativas foram a distribuição de kits escolares para os filhos dos funcionários e o Compromisso Criança na Escola, através do qual todos os colaboradores com filhos em idade escolar devem comprovar sua matrícula em instituições de ensino.

Práticas avançadas do sistema de gestão ambiental também foram adotadas. A Jeep trabalha na perspectiva de reciclar 100% de seus resíduos sólidos, dentro no programa Aterro Zero, e de recircular e reusar 98% da água utilizada no processo industrial. O projeto de biodiversidade Nosso Verde é baseado em estudo inédito para resgate histórico da flora da Zona da Mata Norte. Ao todo, foram inventariadas mais de 600 espécies nativas e, já no início do projeto de paisagismo, foram selecionadas cerca de 250 espécies diferentes, que estão sendo plantadas no entorno da fábrica.

Na vertente do bem-estar, o Polo Automotivo Jeep contribui para melhorar a saúde da população do entorno, através da construção de uma Unidade de Pronto Atendimento Especializado (UPAE), em Goiana, para ampliar a oferta de atendimento médico em diversas especialidades e pequenas cirurgias. Preventivamente, os trabalhadores do Polo Automotivo de Pernambuco participam de programas de conscientização nas áreas de alimentação e saúde com foco na prevenção de doenças crônicas como diabetes e hipertensão. Os restaurantes do polo oferecem alimentação diversificada e balanceada, como parte do programa.

Pernambuco possui uma infinidade de manifestações culturais próprias e, para valorizá-las, foram desenvolvidos projetos culturais, como o Sentidos Culturais Jeep, para que artistas populares da Zona da Mata Norte consigam expandir a divulgação de seus trabalhos.

Os restaurantes da fábrica e o Communication Center (na recepção e nos escritórios), receberão trabalhos de artistas pernambucanos ou radicados no Estado. Além disso, uma plataforma digital está sendo elaborada, com o intuito de salvaguardar e possibilitar a difusão de conteúdo sobre manifestações culturais espalhadas em toda a Zona da Mata do Estado e em seus arredores.

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