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A corrida pelo “Windows” do automóvel

Por Florian Scheibmayr

O Grupo Volkswagen, maior grupo automobilístico, acaba de anunciar que vai investir €27 bilhões em software, o que representa mais do que 1/3 do seu orçamento de investimento em novas tecnologias durante os próximos cinco anos.

Já é considerado fato consumado que a nova liderança no setor automobilístico será de quem desenvolve o melhor sistema operacional para automóveis, e não mais quem desenvolve o motor mais potente.

A presente corrida é de quem consegue estabelecer um novo padrão para um sistema operacional, igual a Microsoft alcançou com seu sistema operacional para os PCs ou Google/Android e Apples/IOS para um mundo móvel.

Evidentemente, este novo sistema operacional precisa ser capaz de ir além de lidar com os requisitos técnicos atuais, como acionando os controles para funcionamento do carro, fornecer funcionalidades para a navegação, segurança e incorporar as demandas do carro elétrico, como também antecipar os princípios para o carro completamente autônomo daqui uns anos.

Esta evolução requer do setor automotivo e seus departamentos de engenharia uma disrupção na concepção e construção de carros.

Desenvolver software e peças mecânicas são disciplinas distintas. Lead-times como os de cinco a sete anos, dos primeiros desenhos até o produto final de um novo carro, são impensáveis.

Os princípios do DevOps e Continuous Delivery serão os novos determinantes do supply chain automobilístico, ironicamente pouco tempo depois de as software houses aprenderem os princípios de Lean Production, Kanban e Controles de Qualidade com a manufatura do setor automobilístico como o da Toyota.

Há ainda muito espaço para melhorias, porque, evidentemente, para este novo sistema operacional dos automóveis terão outras exigências do que para os aplicativos dos computadores pessoais, pois os mesmo padrões rígidos como Six Sigma não serão mais suficientes, já que ninguém vai arriscar um “reboot” do sistema operacional do seu automóvel a 200 km/h.

A camada Fog Computing, com é chamada a camada intermediária quando há necessidade de mais processamento nos equipamentos Edge – quando, por exemplo, os sensores IoT’s não conseguem executar, pois a latência inviabiliza processamento na Cloud-, precisa ser melhor explorada e fortalecida.

Assim que superar os desafios tecnológicos e dos determinantes do novo supply chain digital, este novo carro deverá viabilizar novos modelos de negócio.

Por exemplo: poderá receber um adicional de 60 CV potência on-flight na renovação do contrato, via Software Update.

Os carros-base não serão mais predominantemente adquiridos, mas, sim, alugados, compartilhados ou até envolvidos em transações do tipo comodato.

Já os próprios sistemas operacionais seguirão os modelos via assinatura, onde features podem ser habilitados ou desabilitados via chamada remota.

O hype da ação da Tesla demostra que os investidores acreditam que ela é a empresa que melhor entendeu este novo mundo automobilístico, seja pelos seus carros, ou seja pela necessidade de uma infraestrutura, como uma rede de reabastecimento elétrico.

O anúncio do gigantesco investimento da Volkswagen comprova que a empresa entendeu o recado e está prestes a reagir.

Se o mundo vai experimentar um novo normal, o setor automobilístico terá um novo normal em dose dupla.

*Florian Scheibmayr é consultor da TGT Consult, empresa brasileira de pesquisa e consultoria em tecnologia.

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