Nos dias atuais, o cenário automotivo é de produção padronizada, com a busca permanente por veículos customizados, com valor agregado e baseada na experiência de uso, levando em consideração o crescimento frenético da internet, mídias sociais e da conectividade.
Diante disso, faz-se necessário discussões para progredir quando o assunto é a indústria automotiva nacional, já que gargalos de manufatura proporcionam custos elevados de produção, logística, além da necessidade de satisfazer o desejo do consumidor que atualmente vai além do automóvel, como facilidades no atendimento e manutenção.
Com o objetivo de contribuir diante desta atual conjuntura, a AEA – Associação Brasileira de Engenharia Automotiva promoveu ontem (17), no auditório da Unip, em São Paulo (SP), o Seminário de Manufatura Automotiva, com o tema “Indústria 4.0 no Brasil: Impactos na Indústria e na Sociedade”.
“Estamos na 4ª Revolução Industrial, com o setor automotivo pautado pelo Innovar-Auto e, em poucos meses, a entrada da nova política industrial, o Rota 2030. Em ambos programas, a AEA vem desempenhando um papel fundamental com conhecimento aprofundado da indústria e domínio das tecnologias, inovação e pesquisas, essenciais para promover plataformas de soluções com qualidade a preço competitivo e avanços com bases sólidas”, disse Edson Orikassa, presidente da entidade.
O evento recebeu cerca de 120 participantes e contou com uma programação extensa de 10 palestras (divididas em três painéis) ministradas por especialistas renomados.
O gerente de planejamento da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Bruno Jorge Soares, abriu os trabalhos em palestra de abertura, com dados relevantes: 48% das indústrias utilizam alguma tecnologia da indústria 4.0, 8% contam com automação online de linhas flexíveis e 4% apenas incorpora serviços em novos modelos de negócios.
A palestra “Fatores de impacto na Competitividade das Nações e nas empresas. Qual o papel da Inovação?”, ministrada pelo professor doutor da EAESP/ FGV, Luiz Di Serio, iniciou as apresentações do Painel I – Impactos na Sociedade.
Segundo Di Serio, “não se pode falar de competitividade sem integrar as ações e, quando falamos em inovação, apenas 3% sobrevive”.
Ainda na visão do palestrante, “não basta apenas oferecermos um produto e termos a tecnologia, precisamos saber como chegar no mercado; a indústria brasileira é fraca quando o assunto é implementação. Perdemos nos últimos anos, 18 posições no ranking mundial de competitividade, por consequência da interferência política e má condução na macroeconomia”, enfatizou.
A Indústria 4.0 é o principal tema de discussão da atualidade, tendo em vista o desafio que representa. Entretanto, existem muitas dúvidas sobre o que significa ser uma Indústria 4.0 e partindo deste princípio, Elcio Brito, sócio- diretor da SPI, explorou de forma holística cenários para se tornar uma Indústria 4.0 no setor Automotivo.
“É preciso elevar a produtividade com pesquisa, consultoria e implementacão. Estamos entrando na era da 4ª Revolução Industrial com descompasso, necessidade de adaptação imediata para as novas tecnologias, com produção personalizada – cada carro é um carro”, disse.
Uma reflexão do que já temos hoje para aplicação, questões básicas para implantação e seus desafios bem como expectativa de resultados baseado em análises e pesquisas no Brasil e no mundo foi compartilhada por Antonio Carlos, assessor de Diretoria da Facens Tech – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Utilidade Pública Federal sem fins lucrativos e certificada como filantrópica pelo Conselho Nacional de Assistência Social, em apresentação “Indústria 4.0 – Visão de Tendência no Brasil e no mundo”.
O Painel I foi encerrado após um amplo debate entre os painelistas que contou com a mediação de Anderson Suzuki, gerente geral de Comunicação e Relações Publicas da Toyota do Brasil, também diretor de Comunicação da AEA.
Painel II – Impactos na Indústria – “Transformações de indústrias e profissões na Era Cognitiva” foi a temática da apresentação de Ricardo Pelegrini, CEO da Quantum4 Soluções e Inovação. Na ocasião, Pelegrini partilhou sua visão sobre a evolução das tecnologias exponenciais que impactam a sociedade e detalhes possíveis dos desdobramentos para o setor. Como soluções, o CEO comentou sobre a necessidade de antecipação das empresas em trabalhar para gerar mudanças culturais e comportamentais de aprendizado constante, direcionamento das energias nesta agenda por parte das entidades setorias e sociais e a mobilização do governo na criação de condições para gerar estas mesmas mudanças.
Para David Carlos Domingos, gerente de Operações do Instituto Fraunhofer, responsável pela apresentação “Indústria 4.0 – Tecnologias avançadas de fabricação dentro da produção integrada digitalmente” são três os patamares que devem ser alcançados no contexto 4.0.
“Objetos inteligentes, interconectados inclusive nas próprias peças; fábrica inteligente onde o sistema conta com máquinas que tomam decisões de forma autônoma e o smart enterprise, que permite a possibilidade de testar, simular o mundo conectado para a otimização de processos, features.
Em “Industria 4.0: Casos de Sucesso em PME”, Sergio Soares, diretor do Instituto SENAI de Inovação para Tecnologias da Informação e Comunicação, apresentou projetos pilotos que estão em execução pela aliança em segmentos como agronegócio, petróleo e gás, alimentos e eletrodomésticos.
“Esses projetos gerarão produtos, ferramentas e metodologias de Industria 4.0 para a Indústria Brasileira”, comentou.
Painel III – Impactos na Educação – “Existe um consenso global principalmente na parte da engenharia de que os profissionais precisam ter, além das habilidades técnicas, habilidades de relação pessoais e cognitivas integradas. E existem propostas principalmente baseadas na resolução de problemas complexos onde além do caráter técnico, essas habilidades são também desenvolvidas em conjunto. Algumas faculdades já estão mudando inclusive suas grades para incorporar todo esse contexto”, informou Anderson Borille, Professor Doutor do ITA em apresentação “Demandas da Indústria 4.0 na Educação do Futuro”.
“Em aproximadamente 20 anos, a produção da indústria cai 60%”, informou Miguel Sacramento, Professor Doutor da EAESP/ FGV, em apresentação “O papel da indústria no século XXI”. Já na visão de Fabio Pires, especialista de Desenvolvimento Industrial da CNI, e responsável por ministrar palestra Impactos da Industria 4.0 na educação e Alternativas de Maximização dos Impactos Positivos, a robótica colaborativa é um dos grandes benefícios da inovação e da Indústria 4.0, como grande facilitador de tarefas para os profissionais, além de elevar a produtividade, aumentando o nível de qualidade de entrada.