Doze palestras compuseram a 4ª edição do Simpósio de Eficiência Energética, Emissões e Combustíveis, organizado e promovido pela AEA – Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, no último dia 14 de junho, no Milenium Centro de Convenções, em São Paulo (SP), sob o macrotema “Qual o futuro da matriz energética e da mobilidade no Brasil?”
Quase trezentos participantes puderam ouvir especialistas sobre veículos elétricos, híbridos, veículos à combustão, etanol, combustíveis fósseis, biodiesel, célula de combustível, HVO. Um amplo debate, mas ao final do evento a preferência brasileira em matrizes energéticas recai sobre os biocombustíveis.
É o que o presidente da Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, Antonio Megale, e seu diretor técnico Henry Joseph Junior, propuseram à plateia, na medida em que o Brasil é rico em combustíveis renováveis. “Mas, como um importante centro de pesquisa e desenvolvimento, o Brasil não deve deixar as demais tecnologias de lado. Os veículos elétricos já uma realidade no mundo. Nós também temos de ter o domínio do conhecimento dessas tecnologias”, afirmou Megale.
Pouco antes da palestra de abertura da Anfavea, o presidente da AEA, Edson Orikassa, já havia explicitado o pensamento da entidade, ou seja, o Brasil é privilegiado em combustíveis renováveis, com domínio pleno do conhecimento dessas tecnologias. “Passamos pelo Inovar-Auto e agora às vésperas do Rota 2030… Em ambos os programas, a AEA teve papel preponderante. Sabemos da importância das novas tecnologias elétrica, híbrida e de célula de combustível. No entanto, vale salientar que o Brasil possui um dos ciclos de vida, em se tratando de matrizes energética, mais limpos com os combustíveis renováveis”, destacou.
O Painel 1 “O Futuro da Matriz Energética no Brasil” teve início com a apresentação de Ricardo Gomide, coordenador-geral de Desenvolvimento da Produção e do Mercado de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia. Com o tema “RenovaBio”, política definida em lei para induzir eficiência energética e ambiental na matriz brasileira de biocombustíveis, Gomide informou que o programa tem como os principais instrumentos as metas compulsórias de redução de emissões de CO2 para o mercado de combustíveis. “Do poço à roda, os biocombustíveis são uma solução pronta e eficiente nos aspectos ambiental, econômico e social”, afirmou.
“O Diesel de Origem Vegetal (HVO – Hydrotreated Vegetable Oil) é produzido a partir de resíduos e frações de gordura residual provenientes de alimentos, peixes e indústrias de matadouros, bem como de fracções de óleos vegetais não alimentares”, informou Nilton Shiraiwa, gerente de Desenvolvimento de Produto da Mercedes-Benz. Ainda de acordo com ele, a montadora aprovou o uso do HVO uso nos motores de ultima geração (Euro VI) em 2016.
Entre as vantagens do HVO, vale destacar o maior poder calorífico e número de cetanas que o Biodiesel, o uso das mesmas matérias primas que o biodiesel (óleo vegetal ou gordura animal), aparecimento no cenário mundial como alternativa ao diesel fóssil, reduzindo a emissão total de CO2, além da excelente estabilidade a oxidação, ou seja, não causa os problemas conhecidos do Biodiesel; não requer cuidados especiais de manuseio e estocagem como o Biodiesel.
Na palestra “Etanol Único”, Ricardo Abreu, vice-presidente de Sistemas de Motores e Desenvolvimento de Componentes de Produtos da Mahle Metal Leve, exibiu um teste realizado em um motor 1.6 Flex de 4 cilindros que apresentou melhoria da autonomia de 6,8% com o etanol (98,4%) em comparação com o etanol básico (93%). O painel foi encerrado após debate entre os palestrantes ministrado por Vicente Pimenta.
O gerente da Petrobrás, Frederico Kremer, também marcou presença no evento da AEA com o tema “Estratégia futura para o abastecimento de combustíveis fósseis”. Na oportunidade Kremer destacou os hidrocarbonetos renováveis entre os combustíveis alternativos. Segundo ele, traz compatibilidade com frota e infraestrutura atual, segurança energética, menor emissão, além de flexibilidade. Ainda na avaliação do gerente da Petrobrás, “os derivados do petróleo ainda têm importante papel para desempenhar no futuro e devemos considerar a contribuição de biocombustíveis avançados obtidos no coprocessamento com derivados de petróleo”, afirmou.
De acordo com estudo apresentado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) do Ministério de Minas e Energia, em palestra “A Importância atual e futura da Energia elétrica na matriz energética”, por Amílcar Guerreiro, diretor de Estudos de Energia Elétrica da EPE, até 2026, indústrias, transportes e residências responderão 72,1% do consumo final de energia no País refletindo a redução da participação de petróleo e derivados na matriz.
“A busca pela eficiência energética visa uma redução do custo operacional assim como CO2, mas para isso significa ter uma abordagem mais abrangente passando por motor, pós-tratamento, transmissão, eletrificação, conectividade, além dos combustíveis alternativos”, afirmou George Glyniadakis da AVL, durante temática “Do Motor Diesel ao Powertrain: Roadmap para a Eficiência Energética”.
O Diagnóstico Preditivo melhora a satisfação do cliente e fidelidade à marca, além de proativamente gerar contatos do cliente e otimizar o processo de manutenção. A engenheira de Desenvolvimento de Produto da Robert Bosch, Karine Bauer, em apresentação “Predictive Diagnostics Beyong Big Data”, ainda informou que o programa minimiza custos no caso de serviço, traz benefícios para operadores de frota e oferece maior disponibilidade de veículos com a melhor utilização de uma frota.
“A poluição causou 9 milhões de mortes prematuras em 2015, sendo 16% de todas as mortes no mundo. E é crucial entendermos o mecanismo físico e químico de geração dos poluentes atmosféricos, as emissões. Nos centros urbanos, os veículos são a fonte mais importante de poluição do ar”, alertou Sérgio Ibarra da USP durante palestra “O programa VEIN: mapeamento de emissões veiculares em condições de trafego urbano real”.
A palestra, “Gerenciamento de Energia Veicular”, ministrada por André de Oliveira, gerente de Engenharia de Serviços da Siemens, fortaleceu a necessidade da introdução de novas tecnologias para transmissões como uma importante aliada na corrida da economia de combustível.
No Painel 2 “O Futuro da Mobilidade no Brasil”, a temática “Veículos Híbridos” foi introduzida por Anderson Suzuki, gerente de Comunicação da Toyota. “Acreditamos que os motores se diversificarão de acordo com o tamanho do veiculo, distância percorrida e tipo de combustível, ou seja, acreditamos que novas categorias de mobilidade surgirão, já que os motores a combustão em veículos de passageiro serão gradualmente substituídos por hibridos e hibridos plug-in”.
Ainda de acordo com Suzuki, “a adoção de carros 100% elétricos é limitada pela autonomia e tempo de carregamento da bateria. Assim, VEs são mais apropriados para distancias curtas. Já os carros movidos a célula de combustível têm maior autonomia e abastecimento rápido, o que os torna apropriados para várias aplicações. Entretanto requerem o estabelecimento de nova infraestrutura antes de sua popularização. Nosso objetivo é contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade de mobilidade sustentável com conforto, segurança e de forma ambientalmente amigável”.
Atualmente são 3 milhões o número de veículos elétricos que circulam no mundo. De acordo com Luiz Fernando Oliveira, engenheiro e Coordenador do Projeto VE da Renault, para limitar o aumento de temperatura da Terra abaixo de 2 graus até o final do século, o número de veículos elétricos necessita atingir 220 milhões até 2030”, concluiu Oliveira.
O Painel 2 foi encerrado após debate com a participação do publico presente e mediado por Fernando Calmon, engenheiro e jornalista especializado. O evento foi encerrado por Renato Linke, um dos coordenadores da comissão organizado, ao lado de Alfredo Castelli, Sergio Viscardi e Vicente Pimenta.