Foi na década de 1980, no Autódromo de Hockenheim, onde se realiza o Grande Prêmio da Alemanha do Campeonato Mundial da Fórmula 1, durante a edição do IAA de Frankfurt, conhecido como Salão de Frankfurt.
Naquela época, a organização do IAA reservava um dia inteiro para que os jornalistas especializados de todo o mundo pudessem dirigir, em Hockenheim, os veículos apresentados no salão.
Eram modelos das diferentes marcas, como Mercedes-Benz, Ferrari, Rolls Royce, Lamborghini, BMW, Audi, Porsche, Volkswagen, assim como Ford, Chevrolet, Chrysler e outros famosos fabricantes.
E, também, outras da Itália, Estados Unidos, Espanha, França, China, Índia, Japão, enfim de todo o mundo.
Além das novidades apresentadas e explicadas por diretores, engenheiros e profissionais de marketing e de outras especialidades, o Salão de Frankfurt tinha uma atração especial que, para os jornalistas, era uma espécie de Disneylândia automotiva, verdadeiro parque de diversão para apaixonados por automóveis, até para jornalistas mais idosos, que se rejuvenesciam ao dirigir carros que nunca puderam adquirir.
Um programa extremamente agradável e exclusivo para os profissionais da área, do qual participei de uma edição, por sinal, a última de uma longa série.
Por coincidência, um dos carros que dirigi, uma BMW M3, foi protagonista de um acidente alguns minutos mais tarde.
Para conduzir os carros, bastava entrar em uma das filas de diferentes empresas ou aguardar a chamada da senha, de acordo com a forma de organização de cada fabricante. Até a espera era agradável.
Todos tinham a oportunidade de conversar com um diretor, engenheiro ou designer famoso ao sabor de café, chocolate, lanches diversos à moda germânica.
Cada empresa com uma deliciosa atração. Por ser Alemanha, tinha saborosos salsichões.
O BMW M3 que dirigi e acabou de “pernas para o ar” mais parecia um protótipo ainda em desenvolvimento, muito veloz, mas sem permitir uma tranquila relação com seu condutor.
O carro não era agradável e não me transmitiu a sensação de conforto e confiança que se deseja de todos os veículos esportivos.
E foi justamente a participação de brasileiros que provocou o encerramento do programa. Sabem por quê?
Um famoso jornalista brasileiro, também engenheiro e considerado um dos mais conceituados profissionais, conhecedor de mecânica, com programa de TV e de rádio em que transmite ensinamentos sobre automóveis, responsável por um site e que fez dupla com Wilsinho Fittipaldi em corrida realizada em Belo Horizonte, sofreu um acidente.
É Bóris Feldman, profissional com a coragem de criticar fabricantes de veículos por erros de projeto ou de estratégias de comunicação.
Ele teve a infelicidade de deixar um BMW de rodas para o ar no final da longa reta da pista, onde existia uma chicane, para redução da velocidade e entrada para a parte mais sinuosa da pista.
Naquele ano, o BWW M3 era uma das atrações do estande da marca alemã, de alta performance, com motor de 4 cilindros, 2.302 cm3, com potência de 200 cv, velocidade de 230 km/h e 0 a 100 km/h em 6,8 segundos. Os mais velhos naturalmente diriam: um foguete.
As características do automóvel despertaram interesse em Bóris que foi acompanhado por Marco Piquini, também especializado em automobilismo e, hoje, proprietário da empresa Piquini Comunicação Estratégica, em Belo Horizonte.
Ao completar algumas voltas e se aproximar dos boxes, Bóris reduziu a velocidade para Piquini assumir o volante, mas ele preferiu que o mineiro continuasse no comando da BMW por gostar de suas virtudes ao volante do automóvel.
Depois de passar em frente aos boxes e vencer a reta Jim Clark, o BMW chegou à chicane, que exigia a redução de velocidade.
Mas, na entrada da chicane, ocorreu o problema no trambulador que os engenheiros haviam alertado.
Ao reduzir de quinta para a quarta marcha, o trambulador escolheu a canaleta de segunda. Como o carro já estava na entrada da curva, a redução de velocidade foi exagerada, provocando a derrapagem do automóvel e o seu capotamento.
Marco Piquini contou que, ao sentir o problema, Bóris gritou “Chi, dei azar”, enquanto o carro rodopiava na pista, até bater no guard-rail e tombar, parando com as rodas para o ar no asfalto, como se estivesse repousando sobre um confortável sofá.
Bóris conseguiu sair rapidamente do carro, mas Piquini teve dificuldade para soltar o cinto de segurança e de encontrar os óculos, sem os quais tem visão comprometida.
Mas, lúcido, com sua tradicional calma e usando as mãos para apalpar os objetos misturados aos cacos de vidros do acidente, conseguiu localizá-los.
Felizmente, ninguém se feriu. Só Piquini enfrentou dor na altura dos ombros, que dificultou a sua movimentação por alguns dias.
O maior prejuízo do acidente foi o encerramento do programa, que a cada dois anos entusiasmava os jornalistas de todo o mundo.
Isso porque os salões automotivos, realizados em muitos países do mundo, exercem forte atração pelos carros apresentados, novas tecnologias e tendências que provocam euforia aos visitantes.
Principalmente aos jornalistas especializados que contam com dias dedicados exclusivamente à imprensa para conhecer as atrações apresentadas.
Até hoje, quando encontra o Piquini, Bóris recorda o emocionante episódio e diz a ele: a última vez que o vi, você estava de cabeça para baixo.
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