Por Lucia Camargo Nunes* – Se o ano passado foi historicamente o melhor ano em vendas de eletrificados – híbridos e elétricos – no Brasil, 2022 tem tudo para fazer esse bolo crescer mais. Vamos aos números e depois aos fatos.
Mesmo que você veja pouquíssimos elétricos ou híbridos por onde anda, eles fecharam 2021 com 1,8% de participação de mercado (no ano anterior o market share foi de 1%). Automóveis e comerciais leves somaram 34.990 unidades, sendo 2.860 só de elétricos e mais 32.130 de híbridos (boa parte de Corolla, Corolla Cross e Volvos). Os números são da Anfavea.
O crescimento desse mercado se deve ao expressivo aumento de oferta, tanto de marcas que passam a impor (no bom sentido) apenas eletrificados, como fez a Volvo, de fabricantes que estrearam seus elétricos por aqui (Peugeot e Fiat, por exemplo).
Se o exemplo vem de cima, marcas premium – Porsche, Audi, Mercedes-Benz, Jaguar e BMW, entre outras – apostam em novos produtos, nascidos elétricos – supercarros com muito mais autonomia.
Junto a isso, há também um esforço em melhorar a infraestrutura, com investimentos das marcas e outras empresas na expansão dos pontos de carregamento – embora ainda muito concentrado nas regiões Sudeste e Sul do país. Conte ainda, com a vinda de novos players, como os chineses BYD e Great Wall que chegam com produtos competitivos.
Tudo isso chama a atenção do consumidor, que dá seu voto de confiança e aposta nas novas tecnologias, mais limpas e sustentáveis.
O que está chegando? – Em 2022, o consumo de carros elétricos e híbridos vai crescer. Além de lançamentos de BYD e GWM, lançamentos eletrificados tornam-se cada vez mais frequentes.
A Volvo acaba de lançar o C40, SUV cupê 100% elétrico, equipado com dois motores, que combinados geram 408 cv de potência de 67,3 kgfm de torque. Com baterias de 78 kWh, o C40 chega a 440 km de autonomia. Seu preço: R$ 419.950.
Antes disso, a marca de origem sueca já havia anunciado no final do ano passado que seu XC40 passaria a ser vendido apenas na versão 100% elétrica, por R$ 409.950.
Chinesa oferece mimo – A chinesa BYD iniciou na semana passada, a pré-venda do Tan EV, por R$ 487.590. Seus dois motores entregam 517 cv e 69,3 kgfm de torque. As baterias de 86,4 kWh lhe dão alcance de 437 km.
Por enquanto, o TAN EV está exposto em um shopping center da capital paulista e pode ser negociado por consultores da Eurobike, rede que promete para março a abertura da primeira loja da BYD no país. A expectativa é ter representantes em 45 cidades brasileiras.
Um atrativo é presentear os primeiros compradores com um wallbox de 7,2 kWh, que pode carregar a bateria na garagem de casa em até 3 horas. Alguns modelos de wallbox com capacidade similar no mercado partem de R$ 5 mil.
Mini dá benefícios – Não por acaso, a Mini faz parecido: quem comprar um Cooper S E, versão 100% elétrica do Mini Hatch 3 Portas até o final de março, leva um carregador rápido, além dos pacotes de serviços de manutenção por três anos ou 40.000 km, e o Mini Repair Inclusive, que inclui um ano extra de garantia, totalizando 3 anos. São 3 versões do Mini Cooper S E, por preço entre R$ 249.990 e R$ 284.990. Seu motor de 184 cv permite autonomia de até 234 km.
Com a ajuda de Zeus – A BMW comunicou que as 30 primeiras unidades de seu iX, que custa R$ 654.950 (xDrive40) e R$ 799.950O (xDrive50 Sport) tiveram pré-venda esgotada em 12 horas. Todos os pedidos confirmaram a reserva com o pagamento antecipado.
O novo BMW iX fez “barulho” no intervalo do Super Bowl, no último domingo, com a participação de Arnold Schwarzenegger e Salma Hayek Pinault no disputado intervalo do jogo. Schwarzenegger interpreta Zeus, o Deus Grego dos Relâmpagos, e Salma é sua esposa, a Deusa Hera, quando se aposentam do Monte Olimpo rumo a uma vida tranquila em Palm Springs, na Califórnia. Daí a brincadeira com um carro elétrico.
Recheado de tecnologia, o novo BMW iX promete a maior autonomia do Brasil: 630 km na versão xDrive50. Olha só os mimos: grade frontal com nanotecnologia que a faz capaz de se regenerar (recupera de pequenos danos por conta própria), sonorização feita pelo vencedor da Academia de Cinema e do Grammy Hans Zimmer e dois carregadores incluídos no preço.
Até tu, Ram? – Quem diria que até as picapes grandalhonas Ram, com seus potentes e ruidosos motores V8, caminham para eletrificação. A marca do Grupo Stellantis fez um comunicado na semana passada para apresentar a Ram Revolution, sua futura picape elétrica aguardada para 2024.
Embora distante de seu lançamento, importante é gerar expectativa e aos poucos inserir a nova cultura. A Revolution será montada na Ram 1500 e poderá superar fácil os 1.000 cv de potência.
Entregas sustentáveis – No segmento de frotas, a sustentabilidade caminha a passos largos. A plataforma iFood iniciou uma parceria com a marca de motocicletas elétrica Voltz para lançar, nas próximas semanas, a venda a seus entregadores.
No programa que inicia por São Paulo, a pré-venda prevê descontos e facilidades no financiamento. A companhia não divulga os valores.
Além do apelo ESG, a moto elétrica reduziria, segundo a plataforma, em 70% os custos com combustível e manutenção, em comparação com uma moto a gasolina.
Grupo BMW: 30 lançamentos em 2022 – Em anúncio dos resultados de 2021 e perspectivas 2022 para o Brasil, o Grupo BMW divulgou sua “ofensiva elétrica” e novidades para o mercado nacional – serão 30 lançamentos entre carros BMW, Mini e Motorrad (motos) para este ano no Brasil. Destes, alguns serão eletrificados.
Com o i4 anunciado e iX já em pré-venda no Brasil, a BMW confirmou a vinda ainda neste semestre do iX3, SUV elétrico baseado no X3. Seu motor elétrico de 286 cv e 40,8 kgfm de torque, é movido por baterias de 74 kWh que pelo ciclo WLTP roda até 461 km. Os preços, versões e conteúdos só serão divulgados por ocasião do lançamento.
Junto com a Mini, o Grupo BMW terá 5 modelos totalmente elétricos no Brasil – i3, i4, iX, iX3 e Mini S E. Hoje, cerca de 20% das vendas da BMW são compostas por veículos eletrificados. Já para a Mini, os eletrificados correspondem atualmente a 40% das vendas no Brasil, um dos maiores percentuais globais.
Mas nada ‘made in Brazil’ – O CEO do BMW Group Brasil, Aksel Krieger, conta que o grupo avançou 162% nas vendas de eletrificados em 2021 (elétricos e híbridos plug-in) e que a meta é chegar a 2030 com 50% da gama elétrica.
Mas, por ora, só de importados. O CEO não descarta, mas diz que não há planos de produzir veículos elétricos ou híbridos na planta de Araquari (SC). “Estamos sempre estudando e avaliando. E sempre olhando para o futuro”, completou Krieger.
*Lucia Camargo Nunes é economista e jornalista especializada no setor automotivo. E-mail: lucia@viadigital.com.br