Um novo estudo realizado pelo Boston Consulting Group (BCG) em parceria com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e com o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) mostra que mais de 80% dos fornecedores automotivos acredita que o Brasil conviverá com veículos flex enquanto avança no processo de eletrificação, e 34% deles já está pronto ou se preparando para o crescimento na demanda de componentes de EVs. O BCG ouviu 65 empresas do setor automotivo brasileiro, sendo 23 delas com mais de R$ 300 milhões em faturamento.
Os resultados mostram que grande parte dos fornecedores automotivos estão de fato apostando na penetração de veículos híbridos nos próximos 5 a 10 anos, e já estão se preparando para atender esta demanda. “Devemos conviver com diferentes tecnologias em paralelo enquanto avançamos no processo de eletrificação no Brasil. Esta perspectiva demonstra alinhamento com a visão dos fornecedores automotivos. O Brasil está inserido na cadeia de suprimentos automotiva global e deve refletir sobre suas oportunidades e desafios neste momento de transição tecnológica”, afirma Masao Ukon, diretor executivo e sócio do BCG.
Para 30% dos entrevistados, o Brasil deve focar sua infraestrutura e capacidade para desenvolver veículos híbridos. 28% acreditam que o país deve se tornar o centro de exportação de peças e componentes para motores de combustão, considerando que alguns países do mundo também terão uma transição mais lenta para os elétricos. Quando questionados sobre como a cadeia de fornecimento deve impactar o mercado no processo de eletrificação, 66% dos participantes afirmaram que a evolução da base de fornecedores pode atrasar a adoção de veículos eletrificados, enquanto 30% acreditam que a base de fornecedores irá se adaptar às necessidades da indústria e não deve impactar a transição para frotas elétricas.
Os principais desafios citados pelas empresas de fornecimento de peças são a previsibilidade de demanda, competitividade da indústria (versus mercado internacional), e a capacidade de investimentos – afirmaram 66%, 62% e 51% dos participantes, respectivamente. Nesse sentido, a análise do BCG aponta que o estreitamento do relacionamento entre OEMs (Fabricantes de equipamentos originais, na sigla em inglês) e fornecedores se torna mais relevante para aumentar a transparência e alinhamento de perspectivas sobre demanda e tecnologias, facilitando o desenvolvimento do setor.
“Fornecedores no Brasil terão maior tempo para adaptar seu portfólio de produtos e capacidade produtiva local para atender novas tendências tecnológicas de veículos eletrificados. Entretanto, em virtude dos largos tempos de desenvolvimento do setor (5-10 anos), já existe a necessidade para tomada de decisões estratégicas”, afirma Juan Sanchez, sócio do BCG. A pesquisa mostra que 44% dos entrevistados acreditam que devem diversificar seus portfólios de produtos para cobrir novas tecnologias de veículos eletrificados, e apenas 13% afirmaram que pretendem manter o portfólio atual – mesmo que seu foco seja em motores de combustão.
Segundo a análise do BCG, são cinco os principais insights tirados da pesquisa:
- Fornecedores enxergam convivência de diferentes tecnologias nos próximos 5-10 anos, e veículos híbridos como primeira etapa no processo de eletrificação;
- Participantes da pesquisa indicam que transição deve ocorrer de forma gradual, com adaptação do portfólio e de plantas conforme evolução da demanda;
- Previsibilidade da demanda, competitividade e capacidade de investimento são os principais desafios apontados pelos fornecedores para avançarem neste processo;
- Colaboração entre montadoras e fornecedores pode facilitar o processo de transição tecnológica e mitigar riscos;
- O Brasil pode aproveitar oportunidades de exportação de tecnologias de motores à combustão, alavancando a infraestrutura e conhecimento local.
“Ainda veremos muitas mudanças no cenário automotivo nacional. É importante acompanhar essa transformação com o contexto do Brasil, levando em consideração tanto os usuários do mercado interno quanto as possibilidades de exportação. E o momento de agir é agora: empresas preparadas para o futuro terão resiliência e se adaptarão melhor às demandas que virão”, finaliza Masao.
O estudo completo está disponível no site do BCG.