O crescimento da frota de veículos elétricos no Brasil traz um novo e urgente desafio para a infraestrutura urbana e residencial. Com mais de 80% dos novos imóveis em São Paulo sendo apartamentos, a questão da recarga em condomínios verticais se torna inevitável. Enquanto a instalação de carregadores já é debatida em espaços públicos, a adaptação das garagens residenciais, onde a maioria das recargas acontece, é um passo crucial. No entanto, a viabilidade de instalação varia muito, dependendo da idade do edifício, de sua capacidade elétrica e da gestão do condomínio.
A preparação dos edifícios para a recarga de veículos elétricos é menos complicada nos prédios mais modernos. Projetos recentes já incluem infraestrutura elétrica e estrutural para a instalação de carregadores em cada vaga, mesmo que o equipamento não seja instalado de imediato.
Além disso, a capacidade elétrica desses edifícios é mais robusta, permitindo que soluções de controle de demanda sejam aplicadas de forma eficiente. Isso significa que é possível instalar mais carregadores do que a capacidade do prédio suportaria de uma vez, já que raramente todos serão utilizados simultaneamente.
Para edifícios com menos de 20 anos, a adaptação é viável e, geralmente, menos custosa. Embora não tenham sido construídos com infraestrutura específica para recarga, seus padrões elétricos são mais modernos e permitem pequenas intervenções.
O uso de carregadores compartilhados ou a instalação individual por meio de intervenções menores são soluções inteligentes para esses casos. O conceito de fator de demanda também se aplica, otimizando o uso da infraestrutura existente ao considerar o uso real de energia, e não a soma total da potência.
O maior desafio, no entanto, está nos prédios mais antigos, construídos entre as décadas de 1950 e 1960. A infraestrutura elétrica obsoleta, com dutos de fiação estreitos e quadros de distribuição defasados, torna a modernização complexa e cara.
Em alguns casos, a reforma necessária para adaptação pode custar tanto quanto o próprio apartamento. Para esses edifícios, a melhor alternativa pode ser a instalação de carregadores compartilhados em vagas rotativas, uma solução que, embora limitada, representa um avanço possível diante das restrições estruturais.
Outro obstáculo significativo é a participação de inquilinos. Por não serem proprietários, eles frequentemente enfrentam resistência para investir na instalação de carregadores, mesmo arcando com os custos. Estudos internacionais indicam que apenas uma pequena porcentagem de inquilinos obtém autorização para a instalação.
Nesse cenário, o síndico tem um papel estratégico, podendo liderar a busca por soluções como a instalação de medidores individuais, a criação de modelos de cobrança integrados à taxa condominial, ou a utilização de softwares para gerir a cobrança diretamente do usuário.
A adaptação para a recarga de veículos elétricos pode se tornar um diferencial competitivo no mercado imobiliário. Ter infraestrutura de recarga valoriza o imóvel, atraindo novos moradores e podendo até justificar um aumento no valor do aluguel. Essa preparação é um investimento no futuro e uma resposta direta à crescente demanda por mobilidade sustentável.
Embora os desafios nos condomínios sejam reais, a maior barreira para a eletrificação da frota no Brasil continua sendo a infraestrutura urbana. A escassez de pontos de recarga em cidades como São Paulo, que lidera as vendas de elétricos, mostra que a expansão da rede pública é essencial. No entanto, a preparação dos condomínios é um passo fundamental e inevitável para que a transição energética nos transportes seja bem-sucedida.
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Controle de Demanda – Sistema inteligente de gestão de energia que distribui a potência disponível de forma eficiente, evitando sobrecarga na rede elétrica.
Fator de Demanda – Índice que relaciona a potência máxima de uso de energia de um prédio em um determinado período com a potência total instalada.
Carregadores Compartilhados – Pontos de recarga de veículos elétricos instalados em áreas comuns do condomínio, que podem ser utilizados por todos os moradores mediante agendamento ou cobrança.
Dutos de Fiação (Conduítes) – Tubos por onde passam os cabos elétricos, protegendo-os e organizando-os dentro das paredes ou estruturas de um edifício.
Este artigo foi escrito por Ayrton Barros, Diretor Geral da NeoCharge, empresa referência em soluções para recarga de veículos elétricos.