O futuro da indústria automotiva brasileira passa por uma transformação que coloca o conhecimento como um ativo estratégico, segundo o professor Marcelo A. L. Alves, docente da Poli-USP e coordenador do Centro de Engenharia Automotiva. O Brasil já sustenta atividades de desenvolvimento, simulação e testes com competências técnicas consolidadas, o que permite ao país exportar serviços de engenharia, independentemente da produção fabril. Entretanto, o desinteresse pela formação em engenharia, com uma queda de 23% entre 2014 e 2023, é um alerta que pode comprometer a competitividade brasileira neste novo cenário global.
A indústria automotiva brasileira está passando por um momento de profunda transformação, que exige uma reavaliação de sua posição estratégica.
O professor Marcelo A. L. Alves, docente do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da USP (Poli-USP) e coordenador do Centro de Engenharia Automotiva, avalia que o futuro do setor dependerá da capacidade de gerar conhecimento e não apenas de produção.
Ele destaca que o Brasil já possui competências técnicas consolidadas capazes de sustentar atividades de desenvolvimento, simulação e testes.
Essa base técnica amplia significativamente a presença do país na cadeia global de engenharia automotiva.
O professor Alves observa que os serviços de engenharia podem prosperar sem a necessidade de depender exclusivamente das linhas de montagem de veículos.
Um exemplo citado é o caso da Ford, que, mesmo após reestruturar sua produção local, manteve e expandiu suas operações de engenharia no país.
O setor automotivo brasileiro é robusto, sendo responsável por 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos.
Segundo dados da ANFAVEA, a indústria produziu 2,55 milhões de veículos no ano de 2024.
Com essa base industrial sólida, o Brasil está em posição de exportar conhecimento e serviços de engenharia de alto valor agregado.
As áreas com maior potencial de destaque incluem o software automotivo, a simulação computacional e a realização de testes veiculares.
A transição para veículos elétricos e conectados é outra frente de destaque para o país, onde a inovação e o conhecimento técnico serão cruciais.
O professor Marcelo Alves faz um alerta sobre o desinteresse pela formação em engenharia no Brasil.
Houve uma queda de 23% no número de matrículas em cursos de engenharia no país entre os anos de 2014 e 2023.
Sem a implementação de medidas de estímulo, o país corre um sério risco de desperdiçar oportunidades valiosas na exportação de serviços de engenharia.
Para reverter esse quadro e fortalecer a competitividade brasileira, são sugeridas parcerias entre universidades e indústrias.
Programas de internacionalização e incentivos à formação universitária, como o duplo diploma e projetos competitivos, são essenciais.
A atuação do professor Alves integra a pesquisa, o ensino e a indústria, com foco em educação superior, inovação tecnológica e desenvolvimento econômico.
Sua análise sugere que, enquanto competidores diretos, como a China e a Índia, investem massivamente na formação de engenheiros, o Brasil não pode negligenciar sua base de conhecimento.
A capacidade intelectual do país é o que o diferencia, permitindo que a engenharia automotiva brasileira se posicione na ponta da inovação tecnológica, superando as limitações da flutuação da produção física.
A aposta no conhecimento permite ao Brasil competir com vantagem em um mercado global cada vez mais focado em soluções digitais e veículos elétricos.
O risco de não estimular a formação é perder o ativo estratégico do conhecimento para concorrentes globais, comprometendo o crescimento futuro.
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Cadeia Global de Engenharia Automotiva – O conjunto de processos de projeto, desenvolvimento e teste de veículos, que é distribuído entre diversos países e empresas ao redor do mundo.
Simulação Computacional – Uso de softwares avançados para criar modelos virtuais de componentes e veículos, permitindo testar seu comportamento sem a necessidade de protótipos físicos.
Software Automotivo – Sistemas e códigos de programação que controlam as funções dos veículos modernos, como infoentretenimento, segurança ativa e gerenciamento do motor.
Duplo Diploma – Modalidade de formação universitária que permite ao estudante obter dois diplomas de nível superior em um período de tempo menor ou com a participação em duas instituições, frequentemente em países diferentes.