Amazon, DHL Supply Chain e Scania deram início a um projeto pioneiro que coloca em operação o primeiro caminhão 100% elétrico extrapesado em rota de longa distância no Brasil. O modelo Scania 30G 4×2 será testado durante seis meses no trajeto entre Cajamar e Taubaté (SP), com capacidade técnica de 66 toneladas de Peso Bruto Total Combinado (PBTC).
O veículo, utilizado para o transporte de cargas da Amazon, é operado pela DHL Supply Chain e conta com o apoio da iniciativa Laneshift, uma parceria da The Climate Pledge e da C40 Cities, que busca acelerar a transição para o transporte de mercadorias com emissão zero. O projeto faz parte da Aliança Laneshift e-Dutra, lançada oficialmente durante a COP30, em Belém (PA), e tem como objetivo desenvolver um corredor de transporte sustentável ao longo da Rodovia Presidente Dutra (BR-116), conectando São Paulo e Rio de Janeiro.
O Scania 30G 4×2 elétrico é recarregado no centro de triagem Sort Center CGH7, armazém logístico da Amazon em Cajamar, e segue viagem até a base do parceiro transportador To Do Green. Toda a operação é monitorada por telemetria para avaliar o desempenho, a eficiência energética e a viabilidade do uso do caminhão em percursos de longa distância.
Segundo Saori Yano, chefe de Sustentabilidade para Operações da Amazon no Brasil, o objetivo é demonstrar que a eletrificação não se limita às entregas urbanas. “Queremos mostrar que a tecnologia elétrica é viável e eficiente para o transporte de cargas pesadas. É um passo decisivo para acelerar a descarbonização e reduzir as emissões no setor logístico”, explica.
A DHL Supply Chain é responsável pela gestão das cargas e pela logística de operação. Para João Meneghetti, diretor de Sustentabilidade da empresa na América Latina, o teste marca uma mudança de paradigma. “Percursos mais longos são o nosso maior desafio, e é justamente onde o impacto ambiental é mais significativo. Colocar um caminhão elétrico na estrada representa um avanço real rumo ao transporte verde no Brasil”, afirma.
Com autonomia de 250 km, potência de 300 kW (410 cv) e PBTC de 66 toneladas, o modelo é o primeiro cavalo mecânico elétrico da Scania no Brasil. A fabricante sueca reforça que o teste é parte de sua estratégia global para liderar a transição rumo a um sistema de transporte mais sustentável.
Para Alex Nucci, diretor de Vendas de Soluções da Scania Operações Comerciais Brasil, a parceria com gigantes como Amazon e DHL simboliza um avanço estratégico. “A eletrificação é uma jornada. Sabemos que o país ainda enfrenta desafios de infraestrutura, mas iniciativas como esta apontam o caminho e geram aprendizados para todo o setor”, comenta.
Nucci destaca ainda que a sustentabilidade precisa equilibrar os pilares ambiental, econômico e social. “O foco é oferecer soluções adaptadas à realidade energética do Brasil. Hoje trabalhamos com combustíveis de transição, como gás natural, biometano e biodiesel, mas o futuro é a eletrificação, que elimina as emissões de CO₂”, conclui.
O teste com o Scania 30G 4×2 faz parte de um movimento mais amplo para criar corredores rodoviários descarbonizados no país. A Laneshift e-Dutra tem como meta implementar o primeiro corredor de transporte de cargas 100% elétrico do Brasil, com hubs de recarga rápida ao longo da BR-116.
Em setembro, uma viagem-piloto entre Resende (RJ) e Sorocaba (SP), utilizando um Volkswagen e-Delivery de 11 toneladas, já havia comprovado a viabilidade da tecnologia. O percurso de 800 km contou com paradas em pontos estratégicos de recarga e coletou dados sobre autonomia, tempo de abastecimento e condições de infraestrutura.
O corredor elétrico prevê estações de recarga de 120 kW em locais estratégicos, como os postos Graal e PIT São José dos Campos, criando a base para o transporte de longa distância com emissões reduzidas.
De acordo com Cristina Argudo, diretora adjunta da C40 América Latina, o projeto representa mais do que um simples teste. “Estamos validando a tecnologia em condições reais, incentivando investimentos em infraestrutura e mostrando que é possível descarbonizar o transporte rodoviário”, reforça.
A experiência de seis meses permitirá às empresas avaliar custos operacionais, desempenho das baterias, tempo de recarga e impactos ambientais, consolidando dados essenciais para a expansão da mobilidade elétrica de carga no país.
Embora o alto custo inicial e a infraestrutura de recarga limitada ainda sejam desafios, o teste da Amazon, DHL e Scania sinaliza um avanço concreto na eletrificação dos pesados, segmento dominado por motores a diesel e que responde por grande parte das emissões de CO₂ no transporte terrestre brasileiro.
Com essa iniciativa, o Brasil se aproxima das tendências europeias e norte-americanas, onde caminhões elétricos já operam comercialmente em corredores logísticos sustentáveis. A experiência também poderá influenciar políticas públicas e investimentos privados no setor.
O projeto Laneshift e-Dutra, apoiado por Volkswagen, Smart Freight Centre, Calstart e C40 Cities, mostra que a transição energética no transporte de cargas é um processo em curso — e o Scania 30G 4×2 é um marco dessa evolução.
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Cavalo mecânico elétrico – caminhão projetado para tracionar semirreboques, neste caso com propulsão totalmente elétrica e livre de emissões.
Peso Bruto Total Combinado (PBTC) – medida que representa o peso máximo permitido de um caminhão somado à carga e ao reboque, neste caso, 66 toneladas.
Telemetria – sistema que coleta e analisa dados em tempo real sobre o desempenho do veículo, como consumo, velocidade e eficiência energética.
