Entre janeiro de 2020 e novembro de 2025, os preços dos carros usados saltaram 80,5%, enquanto os veículos novos registraram alta de 51,9%, impulsionados pela migração da demanda.
A dinâmica de preços no Brasil sofreu uma ruptura drástica nos últimos cinco anos. O estudo divulgado pelo banco BV aponta que a inflação do setor automotivo foi sentida com muito mais intensidade por quem buscou o mercado de seminovos e usados, transformando o perfil de consumo no país.
A pandemia de Covid-19 foi o estopim desse movimento. Com a crise de componentes e o aumento nos custos de produção, os preços do SUV e do compacto zero-quilômetro dispararam, empurrando uma massa de consumidores para os modelos de segunda mão.
Esse excesso de demanda no mercado de usados gerou um efeito inflacionário em cadeia. Como a oferta de seminovos depende da renovação das frotas de novos, o represamento na produção afetou diretamente o estoque das lojas multimarcas em todo o Brasil.
O economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, destaca que a sensibilidade do brasileiro ao preço é o que dita esse ritmo. Sempre que o carro novo sofre um reajuste, o usado reage com variações ainda mais agressivas, tentando equilibrar a relação de oportunidade.
Atualmente, marcas como Peugeot e Lexus enfrentam um mercado onde o seminovo com pouco uso chega a custar próximo ao valor de nota fiscal de quando foi faturado. Isso criou uma distorção onde o automóvel, historicamente um bem de consumo, passou a ser visto quase como um ativo financeiro.
A metodologia do IBV Auto é robusta e utiliza o ano de 2019 como base inicial. O índice monitora transações reais de modelos a combustão, híbridos e elétricos, permitindo entender como a desvalorização afeta diferentes tipos de propulsão no mercado nacional.
No segmento de veículos comerciais, montadoras como a Iveco também observam uma valorização nos caminhões usados. O transportador que não consegue renovar a frota com modelos Euro 6 novos acaba recorrendo ao mercado de usados, mantendo os preços em patamares elevados.
Para o diretor executivo de Varejo do banco BV, Jamil Ganan, o planejamento financeiro tornou-se vital. Com preços em níveis recordes, o acesso ao crédito e a escolha consciente do modelo são as únicas formas de viabilizar a troca sem comprometer a renda familiar.
A análise de mercado indica que, embora haja sinais de acomodação no final de 2025, os preços dificilmente retornarão aos níveis pré-pandemia. A base de custos da indústria subiu de forma permanente, o que mantém o piso dos usados elevado.
Em termos de tecnologia e dirigibilidade, os carros fabricados entre 2020 e 2025 já trazem itens de segurança avançada, o que sustenta o desejo de compra mesmo com valores altos. O consumidor prefere pagar mais por um usado equipado do que por um novo básico.
A sustentabilidade do setor agora depende da estabilização das taxas de juros. Com o carro usado custando 80,5% a mais do que há cinco anos, o financiamento longo tornou-se a ferramenta principal para o fechamento de negócios nas concessionárias.
A comparação regional do IBV Auto mostra que grandes centros como São Paulo e Minas Gerais ditam a tendência nacional. Veículos híbridos (HEV) e elétricos (BEV) começam a aparecer no índice, mostrando uma desvalorização ainda em fase de ajuste no mercado secundário.
Pela ótica da Mecânica Online®, o comprador de usado deve redobrar a atenção. Com preços tão altos, o estado de conservação mecânica é o que define se o negócio é bom. Um carro valorizado exige uma manutenção rigorosa para não se tornar um prejuízo futuro.
A inspeção pré-compra tornou-se essencial. Em um cenário onde um SUV usado de três anos custa quase o dobro do que custava em 2019, negligenciar a saúde do motor, suspensão e sistemas eletrônicos é um risco financeiro inaceitável.
Como o Mecânica Online® é Media Partner do Salão do Automóvel de São Paulo, acompanhamos o esforço das montadoras para lançar modelos de entrada que possam frear essa pressão sobre os usados, buscando reequilibrar a balança do mercado brasileiro.
Mecânica Online® – Mecânica do jeito que você entende.
Depreciação Automotiva: Processo natural de perda de valor de mercado de um veículo ao longo do tempo, influenciado pelo uso, quilometragem, lançamento de novas gerações e estado de conservação dos componentes mecânicos e estéticos.
IPC-Fipe: Índice de Preços ao Consumidor calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, utilizado no setor automotivo para balizar os preços médios de venda de veículos novos e usados em todo o território nacional.
Propulsão ICE (Internal Combustion Engine): Termo técnico que identifica veículos equipados com motores de combustão interna, sejam eles movidos a gasolina, etanol, diesel ou sistema flex, representando a maior parte da frota atual de usados.
