Criador da expressão “o carro é o cigarro do século XXI”, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner surpreende e revela que está desenvolvendo o projeto de um veículo.
Trabalhando com uma equipe de jovens arquitetos, ele concebeu um automóvel feito de material reciclagem, pequeno, “em que eu mesmo caberia”.
A revelação foi feita em palestra magna de abertura da II Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo, que o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) promove até o dia 10 no Rio de Janeiro.
“Estou sempre com um brinquedo novo. Procuro fazer de cada dia uma alegria”, diz ele, ressaltando que não abandonou suas ideias sobre a solução para as cidades baseada em apenas três medidas: usar menos carro, morar perto do trabalho e separar e reciclar o lixo.
Jaime Lerner criticou a insistência em soluções rodoviaristas, dando ainda mais espaços para carros, e programas habitacionais superados, como o “Minha Casa Minha Vida meu fim de mundo”, trocadilho que inventou.
“O problema está na concepção da cidade, quanto mais tivermos nas cidades moradia, trabalho, mobilidade juntos, mais perto estaremos da solução”, disse.
Ele explicou que não há como destinarmos 25m² para guardar o carro em casa e mais 25m² para guardá-lo no trabalho, é preciso dedicar esse espaço para construir cidades melhores.
“Em São Paulo, há 5 milhões de carros. Vocês podem imaginar o que poderia ser feito se conseguíssemos distribuir melhor esse espaço para conseguir moradias mais próximas”.
O arquiteto foi três vezes prefeito de Curitiba, duas vezes governador do Paraná e presidente da União Internacional dos Arquitetos (UIA).
Em 2010, foi escolhido pela revista “Time” como um dos 25 pensadores mais inovadores do mundo.
Celebrado como um dos mais importantes urbanistas em atividade, Jaime emocionou mais de 500 arquitetos e urbanistas presentes no evento com lições poderosas sobre otimismo, inovação e a construção de cidades mais justas e sustentáveis.
“Temos que ter a coragem de fazer coisas simples e imperfeitas. A Arquitetura as vezes é um compromisso com a simplicidade e imperfeição. Temos que ter orgulho da nossa constelação de arquitetos-estrelas, mas precisamos mais de uma constelação de arquitetos preocupados com as cidades. Menos ego-arquitetos, mais eco-arquitetos”, afirmou.
“Nós estamos cada vez mais formando especialistas que estão com farol nas costas, que não conseguem focar no futuro com uma visão sustentável, que criam slogans como ‘cidades resilientes’, ‘smart cities’, tudo no sentido de vender gadgets. Por isso mercados orientados por gente que não sabe fazer acontecer”, disse.
A solução para o trabalho do arquiteto, segundo Jaime Lerner, está na simplicidade.
“Rapidez é importante. As vezes nós demoramos porque queremos ter todas as respostas, não podemos ser tão prepotentes assim. Precisamos entender que planejamento é uma trajetória onde nós podemos começar mas temos que deixar que a população nos corrija quando estivermos no caminho errado. Começar, fazer rápido. Queremos discutir demais, perdemos a oportunidade da mudança”.
“Não é um momento de otimismo, mas conheço o pais, conheço os arquitetos, sou um otimista incorrigível em relação futuro de nossa prática”, finalizou.