O Brasil é reconhecido internacionalmente como exemplo de utilização de energia limpa, oriunda de base renovável.
Na área de combustíveis, tem a possibilidade de mover a sua frota de automóveis de passeio, hoje predominantemente flex, com etanol, combustível limpo e de baixíssima emissão de gases de efeito estufa.
No segmento Diesel, entretanto, essa abrangência é limitada: o Diesel brasileiro contém apenas 8% de biodiesel, combustível renovável e produto da agricultura e da pecuária brasileiras, e o restante, 92%, de Diesel fóssil.
Em que pese a lei, que prevê a introdução nos próximos anos, de outros 7% de biodiesel, aumentando a quantidade para 15%, ainda permanecem 85% de oportunidade de penetração de renováveis em nossa matriz Diesel.
Esse foi o tema debatido no workshop “Combustível Renovável para Motores Diesel – HVO”, no dia 26 de outubro último, na Instituto Mauá de Tecnologia, promovido pela AEA- Associação Brasileira de Engenharia Automotiva.
O HVO, sigla em inglês para Hydrotreated Vegetable Oil, é a versão renovável do Diesel, obtido a partir de óleos vegetais ou gordura animal, tratados com hidrogênio. Difere do biodiesel (éster), tem a estrutura de hidrocarboneto muito semelhante à do Diesel.
O HVO, novidade na América do Sul, já é comercializado na Europa, Ásia e América do Norte.
Apesar da penetração ainda incipiente, em 2016 foram comercializados 5,9 bilhões de litros no mundo.
Para se ter uma ideia, esse volume equivaleria a um B12 no Brasil.
Os mecanismos de inserção, provavelmente à base de incentivos fiscais, já que o HVO é mais caro do que o Diesel comercial, não foram explorados no evento, mas o fato é que o HVO viabilizou-se em vários países, o que significa que, dependendo de vontade política, é possível.
Essa vontade política pode ser o Renova Bio, mecanismo brasileiro de comércio de carbono, que também foi apresentado no evento, e que está em vias de ser anunciado no Brasil.
Os fabricantes de sistemas de injeção anunciaram que não fazem qualquer restrição ao uso do HVO, em qualquer proporção, e que, aparentemente, parece fazer uma boa dupla com o biodiesel, aproveitando-se de sua excelente lubricidade.
Já os fabricantes de veículos apontaram uma expressiva redução das emissões tradicionais, melhoria no consumo e redução da emissão dos gases de efeito estufa.
Atestaram a excelente qualidade deste combustível renovável. Uma solução que parece fazer todo o sentido se for de interesse da nação.
Outra oportunidade que se debateu, ligada ao tema, foi a condição extraordinária do Brasil de prover a base vegetal necessária para a produção desse biocombustível, dada a enorme extensão do território nacional, com sol e água o ano inteiro, com áreas degradadas ainda por serem exploradas.
Mais: essa nova demanda, no país, não compete com a produção de alimentos, problema apontado pelos europeus como limitante para esse produto.
É fato que o Brasil passa por momento difícil em vários campos, mas as oportunidades surgem e podem deixar de fazer sentido muito rapidamente.
O Brasil parece ser o país mais naturalmente capacitado para ser o campeão mundial dos biocombustíveis.
Não faria sentido iniciarem-se discussões para que possamos nos transformar em gigantes, antes que a competição com mercados já maduros, dificultem ainda mais a sua implementação?
Apenas as mortes evitadas pela inalação do material particulado dos motores diesel que se utilizam de diesel fóssil já valeria o esforço. O meio ambiente, a economia das famílias produtoras, e a engenharia nacional agradeceriam.