Quero prestar homenagem póstuma a Pelé, o rei do futebol, que começou a encantar o mundo ainda menino, com 17 anos de idade, quando ajudou o Brasil a conquistar a primeira Copa do Mundo em 1958, realizada na Suécia.
Exemplo de futebolista, teve seu trabalho reconhecido por ter participado da conquista de três copas do mundo e marcado mil gols como profissional, sendo eleito o Melhor Atleta do Século 20, por uma votação entre jornalistas da área esportiva promovida, em 1980, pelo jornal francês L’Equipe.
O que nem todos sabem é que, como jornalista profissional, antes de cobrir o automobilismo, realizei a cobertura de diferentes esportes como basquete, turfe e também futebol. Por isso, acompanhei a carreira de Pelé, mas, por não ter a responsabilidade de cobrir o Santos, tive apenas duas oportunidades de o entrevistar pessoalmente. A primeira ocorreu no aeroporto de Congonhas no regresso do Santos de uma sequência de jogos realizados em países da América do Sul.
Naquela época era diferente, muito mais fácil o contato com os jogadores, inclusive com o astro-rei do futebol mundial. Na sala de Imprensa do aeroporto, tive a oportunidade de um diálogo com Pelé sobre o seu desempenho e saber, também como foi tratado pelo público e pelos adversários durante os jogos.
O contato frequente com Pelé foi de meus cunhados Paulo de Aquino, do jornal O Estado de S. Paulo e da TV Cultura, e José Maria de Aquino, pela revista Placar e jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde e, a partir de 1982, pela TV Globo, onde ingressou para comentar a Copa do Mundo e, em seguida, passou a chefe de redação da área esportiva.
Na cobertura das atividades de Pelé, José Maria conquistou, em 1969, o Prêmio Esso de jornalismo, em parceria com o colega Michel Laurence, com uma série de reportagens calçadas em uma frase dita pelo rei “Jogador é um escravo”.
Mesmo com toda a fama conquistada, Pelé jamais se endeusou e sempre dedicou atenção aos jornalistas que o procuravam para um simples contato, entrevistas ou para um autógrafo ou mensagem quando recebia pedido de amigos e de torcedores.
Essa atenção foi confirmada por mim, no dia em que Paulo de Aquino me convidou para o acompanhar em uma viagem a Santos para a transmissão, pela TV Cultura, de um jogo de futebol de salão disputado no ginásio de esportes do Santos, na Vila Belmiro.
No dia em que o Santos jogaria à tarde pelo Campeonato Paulista, após o café manhã, alguns jogadores que estavam concentrados na sede do clube, decidiram assistir ao jogo de futebol de salão e, ao vê-los, Paulo me pediu para ir ao grupo e transmitir a Pelé que fosse até ele para uma rápida entrevista.
Pelé aceitou o convite e Paulo de Aquino, ao apresentá-lo, anunciou que eu faria a entrevista. Imaginem o susto que sofri com aquela surpresa e, além de não imaginar o que perguntar a Pelé, estava paralisado mentalmente pela emoção de estar ao seu lado.
Mas o Atleta do Século, demonstrando elegância e sensibilidade, revelou também as virtudes de compreensão e de generosidade ao notar o meu vacilo. Assumiu a iniciativa de puxar um assunto comigo e me ajudou a sair daquele transe. Assim, superei minha paralisia mental e pude conversar com ele quase naturalmente.
José Maria, íntimo de Pelé e de todos de sua família, acompanhou toda a sua carreira, desde que chegou ao Santos, trazido pelo ex-jogador Waldemar de Brito, especialmente nas fases mais importantes, como em 1969, no milésimo gol, que o tornou no único jogador a atingir essa marca mundial.
Em 1970, no México, quando a seleção brasileira conquistou o tricampeonato mundial e, posteriormente, na sua contratação pelo Cosmos, com o objetivo de popularizar a prática do futebol nos Estados Unidos. O relacionamento de José Maria e Pelé e outras histórias vividas está registrado no livro Minha Vida de Repórter, de sua autoria, produzido pela Editora Letras do Brasil.
Formado em Direito pela PUC, José Maria nasceu para ser jornalista e, com esse dom, só desempenhou a advocacia pelos amigos, especialmente em casos de separação dos casais, ocasiões em que, muito religioso, atendia pedidos de amigos para assisti-los em divórcios.
Mas antes de assumir essa responsabilidade, conversava com os casais na tentativa de demovê-los da decisão alertando-os sobre a importância de preservação da família. Era mais um pároco do que advogado.
Embora abatido com a perda do jogador e amigo, considerou ser preciso entender que a vida só é agradável para pessoas com plena saúde e que Pelé estava sofrendo já há alguns anos. Sem saúde, devemos agradecer a Deus por ele, Pelé, ter sido escolhido para ser um mensageiro do entusiasmo e da alegria em todo o mundo, como foi o Atleta do Século.
Para finalizar, Pelé também gostava de carros, mas não tinha paixão ou os colecionava. Segundo José Maria, o rei teve paixão mesmo apenas por um veículo, um Mercedes-Benz que sempre dirigiu.
Sua história com o Mercedes-Benz começou em 1969, quando ganhou do empresário alemão Roland Endler, que foi presidente do clube alemão Bayern de Munique, um sedã modelo 250 W114 depois de marcar o seu milésimo gol.
Em 1974, às vésperas da Copa da Alemanha, a montadora trocou o 250 W114 por um 280-S, que Pelé vendeu alguns anos depois.
Em 2004, quando o milésimo gol completou 35 anos, a Mercedes devolveu o carro a Pelé totalmente restaurado, depois de ter passado por 18 diferentes proprietários.
Além do Mercedes, Zé Maria destaca também o primeiro fusquinha, entregue ao Rei do Futebol em 1956, ano que marcou a sua chegada ao Santos Futebol Clube, pelo alemão Walter Herbert, então gerente de um galpão da Volkswagen em Santos.
Crédito das imagens: Arquivo de Internet
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