Embora a eletrificação seja frequentemente associada à descarbonização do transporte, o Brasil enfrentaria um custo entre *USD 220 bilhões e USD 300 bilhões* para desenvolver a infraestrutura necessária, tornando essa solução economicamente inviável a curto prazo, segundo especialistas. A renovação da frota e o uso de biocombustíveis surgem como alternativas essenciais.
O processo de eletrificação envolve uma série de desafios, especialmente no que se refere à infraestrutura e à formação de profissionais qualificados. A interoperabilidade é fundamental para garantir o funcionamento dos veículos elétricos, como destaca Flávia Luciane Consoni de Mello, professora do Instituto de Geociências da UNICAMP. Ela explica que nos eletropostos – estações de recarga para veículos elétricos – todos os sistemas precisam se comunicar de forma eficiente. “É necessário falar o mesmo ‘idioma’ para que o abastecimento seja possível”, aponta Flávia, ressaltando a demanda por profissionais capacitados.
Esse tema foi um dos principais tópicos de debate no evento organizado pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS) em parceria com o Insper, que discutiu a economia verde e as soluções sustentáveis para o setor de transporte.
Além da eletrificação, a renovação da frota pode ser uma solução mais imediata. Estudos indicam que entre 5 a 10% da frota mais antiga e descalibrada é responsável por mais de 50% da poluição, impactando diretamente a qualidade do ar nas cidades brasileiras. Esse é um dos motivos pelos quais o investimento no transporte público é altamente incentivado. “Apesar de apenas 25% das viagens serem feitas em transporte individual, essa área recebe cerca de 90% dos recursos, o que evidencia uma distorção nas prioridades de investimento”, comenta Adalberto Felício Maluf Filho, Secretário Nacional de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental.
Biocombustíveis, como o etanol, também são alternativas viáveis para reduzir as emissões do setor de transporte, embora enfrentem desafios. A produção de etanol ainda depende de diesel e fertilizantes com alta pegada de carbono, resultando em uma emissão de 22 gramas de CO2 por megajoule de energia. Programas como o RenovaBio têm possibilitado uma análise mais detalhada da cadeia produtiva, identificando onde as emissões podem ser reduzidas. “Ao utilizar resíduos da cana-de-açúcar para produzir biometano, é possível reduzir significativamente a pegada de carbono, substituindo até 70% do diesel utilizado no processo de produção”, afirma Evandro Gussi, Presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (ÚNICA).
Flávia Luciane Consoni reforça que a discussão sobre descarbonização não deve se limitar à eliminação dos motores à combustão interna. “O problema é a emissão de combustíveis fósseis. Alternativas como o diesel verde, HVO e biocombustíveis ainda utilizam motores à combustão interna, mas com menor impacto ambiental”, explica.
A descarbonização do transporte deve ser tratada como uma questão multifacetada, que envolve tanto o presente – com a necessidade de reduzir as emissões da frota atual – quanto o futuro, que trará novas tecnologias e demandas. “A incorporação de etanol na frota atual é crucial, enquanto para o futuro, é importante explorar diferentes combinações tecnológicas, considerando as tendências internacionais em mobilidade sustentável”, conclui Flávia.