Em resposta a uma das crises mais graves de sua história, a Volkswagen planeja fechar fábricas e reduzir salários na Alemanha, uma decisão inédita em 87 anos. Com a concorrência chinesa ganhando força no mercado europeu, a montadora busca cortar custos e retomar sua posição em um cenário cada vez mais competitivo.
A Volkswagen, uma das maiores e mais tradicionais montadoras do mundo, vive um momento crítico e avalia medidas rígidas para conter uma crise que envolve desde o fortalecimento da concorrência até o enfraquecimento da economia alemã. Como parte de uma reestruturação inédita, a montadora cogita fechar três de suas fábricas na Alemanha, medida que, caso implementada, representará o primeiro fechamento de unidades de produção no país em quase nove décadas.
O conselho de trabalhadores da Volkswagen, liderado por Daniela Cavallo, tem dialogado com sindicatos para definir os próximos passos, enquanto surgem rumores sobre a possível demissão de dezenas de milhares de trabalhadores, além de uma redução salarial de 10% para os funcionários remanescentes. As medidas visam tornar a empresa mais competitiva e reduzir gastos, principalmente devido ao avanço das marcas chinesas, que têm ganhado espaço com produtos tecnologicamente avançados e com preços mais acessíveis.
Ainda não foram especificadas quais fábricas serão afetadas, mas fontes indicam que as unidades de Osnabrück e Dresden estão entre as candidatas a fechamento. A Volkswagen, que emprega cerca de 300 mil trabalhadores na Alemanha, estima que as economias decorrentes dessa reestruturação possam superar os 4 bilhões de euros (cerca de R$ 25 bilhões) nos próximos anos.
Além dos fechamentos e das demissões, a Volkswagen pretende suspender aumentos salariais para 2025 e 2026. Essa iniciativa, divulgada pelo jornal alemão Handelsblatt, gerou preocupações entre funcionários e sindicatos, que questionam a falta de clareza do conselho de administração quanto a uma estratégia de longo prazo. Para Cavallo, a companhia “continua focada apenas em reduzir a mão de obra e os custos nas fábricas”, sem apresentar uma visão mais ampla de futuro.
O CEO da Volkswagen, Oliver Blume, e o CEO da marca, Thomas Schäfer, reconhecem que a situação é extremamente tensa e afirmam que a empresa precisa adotar uma nova estratégia para lidar com o impacto da crise econômica alemã e o avanço das fabricantes chinesas, como a BYD, no mercado europeu.
Blume destacou que o cenário de concorrência é desafiador, e a marca está em desvantagem, pois perdeu uma significativa fatia de mercado na China e está enfrentando dificuldades para se manter competitiva na Europa.
A chegada das montadoras chinesas intensificou a concorrência. Com veículos de alto padrão tecnológico e preços competitivos, marcas como BYD estão conquistando consumidores que antes se voltavam para marcas tradicionais.
Essa mudança, segundo Schäfer, exige que a Volkswagen invista em inovações e adote medidas estratégicas que vão além dos cortes financeiros, algo que a empresa vem tentando resolver desde setembro, quando os primeiros rumores sobre a reestruturação começaram a surgir.
A crise também reflete o atual momento da economia alemã, que enfraqueceu devido a vários fatores, entre eles o aumento nos preços de energia e a diminuição das exportações. O impacto direto sobre a Volkswagen, uma das maiores empregadoras do país, levanta debates sobre o futuro da indústria automotiva alemã e sua capacidade de enfrentar concorrentes globais. Enquanto isso, funcionários da empresa aguardam ansiosamente por uma definição sobre o rumo da companhia e seu impacto em suas carreiras e sustento.
A situação coloca a Volkswagen em um dilema: como cortar custos para se manter competitiva sem comprometer a força de trabalho que sempre sustentou seu crescimento. O desfecho das negociações com os sindicatos será crucial para o futuro da montadora e poderá servir como um termômetro para o setor automotivo alemão.