Importação de mais de 5.500 veículos pela BYD pelo porto do Espírito Santo revela os desafios para o desenvolvimento de uma indústria automotiva nacional no Brasil.
A BYD, gigante chinesa especializada em veículos eletrificados, deu mais um passo em sua estratégia de expansão no Brasil ao trazer um grande lote de 5.524 carros elétricos e híbridos. O cargueiro BYD EXPLORER N° 1, que transportou os modelos das famílias Dolphin, Song e Yuan, atracou no porto de Aracruz (ES), após escalas em Singapura e Port Louis.
Entre os modelos importados, destaca-se o Denza D5, que será lançado em breve no Brasil, adicionando mais expectativa sobre a marca no país. Contudo, essa importação massiva de veículos é um reflexo de um processo lento de nacionalização da produção, o que evidencia os desafios da indústria automotiva nacional em alavancar sua competitividade.
Esse movimento por parte da BYD traz à tona uma discussão importante sobre o impacto da produção local no Brasil. O país, um dos maiores mercados automotivos do mundo, ainda se vê dependente da importação de veículos, sem conseguir aproveitar plenamente as oportunidades de geração de empregos e fortalecimento da cadeia produtiva local.
Embora a chegada do cargueiro tenha gerado um otimismo momentâneo, é importante destacar que a montadora ainda não iniciou sua produção local. A montagem de veículos com kits importados (regime SKD) está prevista para o final deste ano, mas a produção efetiva com peças nacionalizadas (regime CKD) só começará no ano seguinte, o que adia a possibilidade de transformar o Brasil em um polo industrial para veículos elétricos.
A expectativa em torno da produção local da BYD no Brasil é grande, mas ainda distante da realidade. De acordo com a empresa, a produçã 100% nacional está prevista para 2027. Esse adiamento coloca em risco o objetivo de estabelecer uma indústria automotiva nacional sustentável e competitiva.
O fato de o Brasil continuar a ser um ponto de venda para produtos importados, enquanto a indústria local permanece em desenvolvimento, enfraquece a posição do país como um hub global de produção de veículos eletrificados. O país ainda está longe de aproveitar todo o potencial da produção interna, o que pode resultar em uma dependência excessiva das flutuações do mercado global.
Enquanto a BYD se adapta ao mercado brasileiro, sua estratégia de importação e a continuidade dos investimentos em sua planta na Bahia não garantem uma indústria automotiva local forte e robusta. Para o Brasil, é fundamental que a nacionalização da produção seja acelerada.
A produção com kits importados e a futura nacionalização das peças são passos importantes, mas o verdadeiro avanço ocorrerá quando o país conseguir integrar a produção de forma totalmente local, o que deve acontecer, segundo a montadora, apenas em 2027.
Ainda que a BYD tenha investido fortemente no Brasil, a dependência de importações pode ser vista como uma oportunidade perdida para o fortalecimento da indústria automotiva brasileira. A medida que o Brasil ainda aguarda uma produção 100% nacional, as importações de veículos continuam a predominar, prejudicando o desenvolvimento de uma cadeia produtiva local mais robusta e autossustentável.
Esse cenário de dependência das importações e a demora na concretização da produção local põem em questão o real potencial de transformação da indústria automotiva no Brasil. O país tem à sua disposição as ferramentas para se tornar um hub de produção de veículos elétricos e híbridos, mas as condições para que isso se torne realidade estão longe de ser atingidas.
A BYD, com seus investimentos e importações, tem um papel importante nesse processo, mas é preciso que as promessas de produção local se concretizem o quanto antes.
O futuro da indústria automotiva no Brasil está em jogo, e a BYD, com seus investimentos e importações, está apenas no começo de uma jornada que poderá definir a posição do país como um player importante na produção de veículos eletrificados no futuro.