A BYD, maior fabricante mundial de veículos elétricos, criou discretamente um departamento interno dedicado ao desenvolvimento de robôs humanóides, sob a liderança direta de seu presidente Wang Chuanfu, que define a iniciativa como parte da terceira fase estratégica da revolução automotiva: a era dos veículos não tripulados.
A trajetória da BYD, que já domina a eletrificação automotiva, agora se amplia para setores mais avançados de automação e inteligência artificial. Após consolidar sua posição em veículos elétricos (fase 1) e expandir sua atuação em veículos inteligentes (fase 2), a montadora agora aposta no desenvolvimento de tecnologias voltadas para robôs humanóides e sistemas de direção completamente autônomos (fase 3), visando antecipar-se ao novo paradigma da mobilidade.
A movimentação estratégica acontece em meio a um cenário de forte crescimento nas vendas domésticas de veículos na China. Segundo dados consolidados de maio de 2025, o mercado de automóveis de passageiros movimentou 1,93 milhão de unidades no varejo, crescimento de 13% em relação ao ano anterior e 10% sobre o mês anterior. O atacado registrou 2,329 milhões de veículos vendidos (+14% ano a ano). Já os veículos de energia nova (NEVs), incluindo 100% elétricos e híbridos plug-in, somaram 1,056 milhão no varejo (+30% A/A) e 1,24 milhão no atacado (+37% A/A).
Esses avanços não são isolados. Empresas como Mercedes-Benz, BMW, Tesla, Hyundai e a varejista Amazon também estão testando e implementando robôs humanóides turbinados por inteligência artificial (IA) em suas fábricas e centros logísticos. A BMW já emprega nos EUA os robôs da Figure AI, enquanto a Tesla desenvolve seu próprio modelo, o Optimus, que poderá atuar dentro e fora das linhas de montagem. A Hyundai, por sua vez, comanda a Boston Dynamics, reconhecida pelos robôs mais avançados em mobilidade.
Essas máquinas são bípedes, possuem braços articulados, mãos funcionais, sensores, câmeras, microfones e circuitos capazes de aprender com o ambiente para executar tarefas complexas de forma autônoma. Segundo o Goldman Sachs, o mercado de robôs humanóides pode atingir US$ 38 bilhões até 2035, com expectativa de redução de 40% no custo médio por unidade — que já caiu de um patamar entre US$ 50 mil e US$ 250 mil para algo entre US$ 30 mil e US$ 150 mil desde 2023.
A Mercedes, inclusive, testa desde março na Alemanha o robô Apollo, desenvolvido pela americana Apptronik. Com 1,73 metro de altura e 72 kg, o Apollo é responsável por transportar kits de peças entre diferentes estações de montagem de veículos, mostrando que a robótica avançada já é uma realidade em processos industriais críticos.
No campo da inteligência veicular, a Huawei anunciou avanços com o Huawei ADS 4, que alcançará nível de automação L3 em rodovias até o fim de 2025. Modelos como o Zunjie S800 receberão atualizações no terceiro trimestre, com perspectivas de adoção de L4 em tráfego urbano a partir de 2026. O sistema coloca a Huawei como protagonista no setor de direção autônoma, em sintonia com a visão da BYD para a próxima fase industrial.
A agenda tecnológica chinesa ganhou novo capítulo com a autorização do governo para exportação temporária de terras raras para as norte-americanas General Motors, Ford e Stellantis, por seis meses. O gesto visa aliviar as tensões na cadeia de suprimentos global, especialmente para motores elétricos e baterias, áreas críticas que dependem de elementos como neodímio, disprósio e lantânio.
Outro destaque do mercado chinês é a NIO, que projeta entregas entre 72.000 e 75.000 veículos no segundo trimestre de 2025, aumento de até 30,7% sobre o mesmo período de 2024. A receita prevista varia entre 19,51 e 20,07 bilhões de yuans, crescimento de até 15%. Os números consolidam a marca como uma das principais concorrentes da BYD no segmento premium de NEVs.
A BYD, por sua vez, continua enfrentando críticas de rivais locais. Em 2023, a Great Wall Motors denunciou possíveis irregularidades nos tanques de combustível atmosféricos dos modelos BYD Qin PLUS DM-i e Song PLUS DM-i. A Geely Auto também voltou a criticar publicamente o caso durante o Fórum Automotivo de Chongqing de 2025, classificando o episódio como um exemplo de crime ambiental não resolvido, exigindo uma resposta das autoridades regulatórias.
Apesar das polêmicas, a BYD segue adiante com um plano ambicioso de evolução tecnológica e diversificação. Com forte liderança em veículos eletrificados, a empresa pretende agora ampliar sua atuação para além do transporte, explorando o potencial da robótica como ferramenta de mobilidade autônoma, automação fabril e solução para escassez de mão de obra.
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- Robôs humanóides: máquinas com aparência e movimentos inspirados em humanos, com sensores, articulações e IA embarcada para executar tarefas de maneira autônoma.
- NEVs (New Energy Vehicles): veículos que utilizam fontes alternativas de energia, como eletricidade ou célula de combustível, incluindo modelos 100% elétricos (BEV) e híbridos plug-in (PHEV).
- Condução autônoma nível L3 e L4: sistemas em que o veículo assume controle total sob certas condições (L3), ou opera de forma totalmente independente em determinados ambientes (L4).
- Terras raras: grupo de 17 elementos químicos fundamentais na fabricação de motores elétricos, componentes eletrônicos e baterias de alta performance.