O aumento das dimensões dos veículos no Brasil, especialmente entre SUVs e picapes, está em descompasso com a estrutura tradicional dos condomínios, gerando uma crescente onda de insatisfação entre motoristas que se deparam com vagas de garagem que não comportam mais seus carros.
Segundo Fábio Ramos, diretor-geral da Plenno Arquitetura, “enquanto a frota de veículos cresce em tamanho, os espaços das vagas continuam, na maioria, projetados para comportar carros pequenos e médios”. Isso significa que, mesmo em condomínios mais novos, os motoristas enfrentam problemas para manobrar ou estacionar, comprometendo não só a comodidade, mas a segurança de todos.
Esse descompasso se tornou ainda mais evidente com a ascensão dos SUVs compactos e médios, além das caminhonetes médias e grandes, cuja presença nas garagens se tornou comum. Por exemplo, um sedã médio dos anos 1980 media cerca de 4,36 metros de comprimento. Hoje, um “sedã compacto” ultrapassa os 4,49 metros, enquanto uma caminhonete como a Toyota Hilux ou Ford Ranger pode ultrapassar 5,36 metros.
Apesar de a legislação urbanística de cada município estabelecer medidas mínimas, muitas vezes elas não acompanham a realidade atual do mercado automotivo. Ramos observa que há casos em que “a estruturação das vagas está diferente do projeto aprovado na prefeitura”, o que reforça a importância de consultar o mapa original e a legislação vigente.
Vaga apertada, problema ampliado
Nos condomínios mais antigos, a escassez de espaço era comum, mas a situação não é exclusiva dessas edificações. “Condomínios novos frequentemente oferecem vagas maiores, mas com espaço de manobra reduzido, o que limita a funcionalidade do estacionamento”, comenta o arquiteto.
Além disso, há outro agravante: a tendência de imóveis com metragem cada vez mais compacta, impulsiona a criação de mais unidades por terreno, o que pressiona o dimensionamento da garagem. Isso faz com que construtoras otimizem ao máximo a área de estacionamento, muitas vezes sacrificando mobilidade e conforto dos usuários.
Segundo a experiência da Plenno Arquitetura, “é imprescindível preservar a segurança do veículo e do motorista, considerando não só os tamanhos das vagas, mas a visibilidade dos espaços de manobra e circulação”. Isso inclui observar rampas, colunas, vigas e muros que podem dificultar a entrada e saída dos veículos.
O que fazer se o carro não cabe?
Diante desse cenário, especialistas recomendam que o proprietário:
- Verifique a planta original do projeto na prefeitura;
- Consulte o código de obras e posturas do município;
- Avalie, com um arquiteto ou engenheiro, a possibilidade de reconfiguração das vagas sem comprometer as áreas comuns;
- Analise junto à administração do condomínio alternativas de realocação de vagas ou permuta consensual com outros condôminos;
- Considere instalar sistemas de baliza assistida ou câmeras adicionais, para ampliar a segurança durante a manobra em espaços reduzidos.
Questão vai além dos condomínios residenciais
Nos edifícios comerciais, o problema também é recorrente. Ramos alerta para o cumprimento das normas específicas sobre vagas especiais para idosos, pessoas com deficiência (PcDs), motocicletas e bicicletas, que devem seguir dimensões e sinalizações padronizadas e apresentar quantidade mínima proporcional à ocupação da edificação.
A falta de adequação e fiscalização pode comprometer o uso eficiente do espaço e prejudicar a acessibilidade e segurança de todos os usuários.
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- SUV (Sport Utility Vehicle): veículo utilitário com dimensões elevadas e maior altura do solo, que conquistou forte popularidade nos últimos anos.
- Código de Obras: conjunto de normas técnicas e urbanísticas que regulamentam construções e reformas em cada município.
- Projeto Aprovado: planta registrada junto à prefeitura com todas as especificações de construção, incluindo vagas, áreas comuns e circulação.
- Espaço de manobra: área útil destinada às manobras de entrada e saída dos veículos na garagem.
