O Governo brasileiro aprovou o aumento no percentual de biodiesel na mistura com o diesel, passando de 14% para 15% (B15). A medida, que entrou em vigor em 1° de agosto, tem o objetivo de reduzir a dependência externa de combustíveis e diminuir a emissão de poluentes. No entanto, a alteração gera preocupação no setor de transporte, que alerta para os potenciais impactos negativos na manutenção das frotas, como o aumento nos custos e a necessidade de adaptações técnicas.
A partir de 1º de agosto de 2025, o percentual de biodiesel adicionado ao diesel no Brasil aumentou de 14% para 15%, uma medida aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). As justificativas do Governo para essa mudança são tanto econômicas quanto ambientais. Economicamente, o aumento da mistura visa reduzir a dependência do Brasil em relação à importação de combustíveis, especialmente em um cenário de tensões geopolíticas que desestabilizam o preço do petróleo. Do ponto de vista ambiental, o Governo argumenta que uma maior porcentagem de biodiesel no diesel resulta em uma diminuição na emissão de poluentes.
Apesar das intenções do Governo, a decisão foi recebida com ressalvas pelo setor de transporte. A Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) manifestou preocupação em uma nota oficial, destacando os impactos negativos já comprovados. Um estudo técnico da entidade revelou que o aumento do biodiesel encurtou o prazo para a troca de filtros de combustível. Essa necessidade de manutenção mais frequente resultou em um aumento de 7% nos gastos de manutenção por veículo, o que impacta em 0,5% o custo integral das operações.
A alteração no percentual de mistura exige cautela por parte das transportadoras, que se preocupam com o bem-estar de suas frotas e com os gastos futuros com manutenção. Marcel Zorzin, CEO da Zorzin Logística e presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do ABC (SETRANS), reconhece a intenção do Governo em buscar maior estabilidade nos preços internos. No entanto, ele ressalta a importância de avaliar a aplicabilidade da medida no transporte rodoviário de cargas, pois alterações como essa impactam diretamente a operação, desde o desempenho dos motores até os custos de manutenção.
O Transporte Rodoviário de Cargas enfrenta desafios para manter sua regularidade, e mudanças diretas como essa podem gerar prejuízos financeiros e afetar o fluxo de caixa das empresas. Marcel Zorzin alerta que o aumento do teor de biodiesel pode causar problemas técnicos, como entupimento de filtros, aumento da oxidação e maior formação de borras nos sistemas de injeção. Esses riscos são especialmente preocupantes para veículos mais antigos. Ele destaca que, inevitavelmente, essas condições levam a um aumento de manutenções preventivas e corretivas, impactando tanto os custos quanto a disponibilidade da frota.
Para mitigar esses riscos, algumas transportadoras, incluindo a Zorzin Logística, já utilizam bactericidas nos tanques de combustível para evitar contaminação. O presidente do SETRANS enfatiza que é fundamental que o setor seja ouvido e que haja um acompanhamento técnico contínuo dessas implementações. Ele defende a necessidade de planejamento e estratégias para implementar e investir em novas tecnologias, em vez de apenas se adaptar à medida.
Como exemplo de adaptação, a Zorzin Logística já está se preparando para reestruturar sua frota e acompanhar de perto o desempenho dos veículos. A empresa reforça o acompanhamento técnico junto aos fabricantes, promove treinamentos com suas equipes e revisa os protocolos internos de monitoramento de combustíveis. As análises de qualidade dos combustíveis adquiridos e o controle dos intervalos de manutenção, principalmente dos sistemas de filtragem e injeção, também foram intensificados. Essa abordagem proativa visa minimizar os potenciais impactos negativos da nova mistura de biodiesel e garantir a eficiência e a saúde da frota a longo prazo.
A medida do Governo traz um dilema significativo: o benefício macroeconômico e ambiental versus o impacto microeconômico e operacional nas empresas. Embora a intenção de fortalecer a indústria nacional de biocombustíveis e reduzir a poluição seja nobre, a implementação sem um planejamento detalhado e um diálogo contínuo com os transportadores pode levar a custos e prejuízos que afetam diretamente a cadeia logística. A sustentabilidade no setor de transporte não se limita apenas à diminuição de emissões, mas também à viabilidade econômica e operacional das frotas, um ponto que precisa ser avaliado com cautela para garantir o sucesso da política a longo prazo.
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Biodiesel – combustível renovável e biodegradável, produzido a partir de óleos vegetais ou gorduras animais.
Combustível B15 – mistura de diesel que contém 15% de biodiesel em sua composição.
Bactericidas – substâncias químicas usadas para prevenir ou tratar a contaminação microbiológica em combustíveis, que pode levar à formação de borras e entupimentos.
Borras no sistema de injeção – resíduos que se formam no combustível e que podem entupir filtros e bicos injetores, prejudicando o desempenho do motor.