O Brasil se destaca no mercado global de lubrificantes, considerado um “oásis” em meio à estagnação em países desenvolvidos, segundo especialistas. O IX Congresso Internacional de Lubrificantes e Graxas, em Campinas, abordou temas como a transição energética, o combate a fraudes com o uso de inteligência de dados, a logística de distribuição e a importância contínua dos motores a combustão para o mercado nacional. A programação também destacou a busca por maior eficiência e sustentabilidade no refino e na formulação de lubrificantes.
A Associação dos Produtores e Importadores de Lubrificantes (SIMEPETRO) promoveu, em Campinas (SP), o IX Congresso Internacional de Lubrificantes e Graxas. O evento, realizado entre os dias 3 e 4 de setembro, discutiu o potencial do mercado brasileiro, impulsionado pela grande quantidade de motores a combustão no país.
Na abertura, o presidente executivo da SIMEPETRO, Nilson Morsch, abordou os desafios do setor, incluindo a transição energética, a descarbonização, as novas regulamentações e a necessidade de atrair novos talentos.
O superintendente de Abastecimento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Júlio Nishida, destacou a importância da fiscalização para a saúde do mercado. Ele mencionou a Operação Carbono Oculto e enfatizou a necessidade de garantir que todas as empresas sigam as regras, evitando que as honestas sejam prejudicadas.
No cenário mundial, o CEO da FactorK, Sérgio Rebelo, descreveu o mercado de lubrificantes como estagnado, em contraste com o Brasil, que se apresenta como um “oásis”. Ele explicou que essa estagnação é reflexo da queda nas vendas de veículos leves em países como a Europa, Japão e Estados Unidos, além do crescimento do transporte público e de serviços de compartilhamento.
O segmento de lubrificantes é um dos mais competitivos no Brasil, com mais de 200 marcas disputando espaço. A distribuição é um desafio devido à grande dimensão territorial e à infraestrutura. Por isso, os participantes do painel “Distribuição e seus Desafios” defenderam a necessidade de uma logística colaborativa, com fabricantes utilizando os serviços de distribuidores.
Para combater fraudes, a ANP mudou sua metodologia de fiscalização, conforme detalhado por Júlio Nishida no painel “Combate a fraudes e irregularidades no mercado de lubrificantes”. A agência agora utiliza um trabalho de inteligência prévia para direcionar suas ações de forma mais eficaz.
Esse novo método resultou em um aumento de 40% na taxa de acerto em 2023, comparado ao ano anterior, e de 80% em relação à média dos últimos cinco anos. O sistema SIFA (Sistema Integrado de Fiscalização do Abastecimento) combina dados para identificar alvos com maior precisão antes de enviar equipes de fiscalização.
A ANP também atua em outras frentes. A coordenadora de Petróleo, Lubrificantes e Produtos da agência, Maristela Lopes, revelou um acordo com o Mercado Livre para remover anúncios de produtos clandestinos da plataforma. Mais de 1.640 anúncios de lubrificantes e metanol irregulares já foram retirados.
Um dos pontos de destaque do congresso foi a palestra de Marcelo Guimarães, gerente executivo de óleos básicos da Iconic, que ressaltou o papel do Brasil como importador líquido desses óleos. A tendência é que a dependência de importações diminua, favorecendo empresas já estabelecidas no país.
A estratégia da Petrobras para refinarias e o futuro dos óleos básicos foi apresentada por Rodrigo Abramof, Carlos Antonio Machado e Ulysses Donadel. Abramof explicou que a produção da empresa não acompanhou o crescimento do mercado de lubrificantes devido à necessidade de importar petróleo.
Carlos Machado falou sobre o Complexo de Energias Boaventura, uma unidade que visa diversificar a matriz energética e promover a sustentabilidade, trocando equipamentos movidos por outras formas de energia. Ulysses Donadel afirmou que a Reduc produziu 500 mil metros cúbicos de óleos e parafinas no ano anterior, desmistificando a dificuldade de ser cliente da Petrobras.
A descarbonização no setor automotivo foi tema da apresentação de Everton Lopes da Silva, da Mahle. A empresa prevê que até 2035 as vendas de veículos leves no Brasil serão 15% elétricos, 30% híbridos e 55% ainda com motores a combustão interna. Essa projeção reforça a importância contínua do setor de lubrificantes.
O mercado de veículos elétricos e híbridos no Brasil é um nicho em expansão, mas os motores a combustão interna ainda dominarão a frota por um longo tempo, mantendo a relevância dos lubrificantes e do refino. Essa realidade brasileira, com o país ainda muito dependente de sua frota atual, contrasta com mercados mais maduros, onde a eletrificação avança de forma mais acelerada. Isso faz com que a indústria de lubrificantes tenha um fôlego maior para se adaptar e inovar, focando em produtos que atendam às necessidades específicas da frota nacional, como os desafios impostos pelo uso de biodiesel.
Carl Kernizan, da KV Tech Consulting, representando o NLGI (National Lubricating Grease Institute), apresentou conceitos de confiabilidade. Para ele, confiabilidade vai além do simples desempenho da graxa, englobando sustentabilidade, viabilidade econômica, redundância e relubrificação de longo prazo.
Jesus Rosas, da Afton Chemical, discutiu as tendências e exigências globais para lubrificantes de veículos pesados. Ele apontou a sustentabilidade e as emissões como os principais motores de mudança, especialmente na Europa, China e Índia.
Nas Américas, Rosas destacou a introdução da especificação API CK-4 nos EUA e no México. No Brasil, a exigência do API CI-4 em 2016/2017 já havia modernizado o mercado, aumentando a demanda por óleos de maior desempenho e preparando a frota para os desafios futuros, como o uso de biodiesel P8 e P15.
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ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, órgão do governo brasileiro responsável por regular o setor de combustíveis.
Óleo Básico – Principal componente na formulação de lubrificantes, responsável por suas propriedades de viscosidade e lubrificação.
API CI-4 e API CK-4 – Classificações da American Petroleum Institute (API) que definem o nível de desempenho e qualidade de óleos lubrificantes para motores a diesel.
Descarbonização – Conjunto de ações para reduzir as emissões de dióxido de carbono e outros gases poluentes.
Biodiesel P8 e P15 – Mistura de 8% e 15% de biodiesel ao diesel de petróleo, respectivamente, exigindo adaptações nos lubrificantes para evitar problemas no motor.
SIFA – Sistema Integrado de Fiscalização do Abastecimento, ferramenta da ANP que usa inteligência de dados para combater fraudes e irregularidades no mercado.