A rápida ascensão dos veículos elétricos (VEs) está redefinindo a indústria automotiva global, com a China consolidada como protagonista absoluta no mercado brasileiro, fornecendo 75% das importações entre 2023 e 2025. Essa transformação move o mercado de metais estratégicos, onde o cobre se destaca como insumo essencial, enfrentando uma oferta estruturalmente insuficiente. O Brasil, diante de tarifas crescentes e um potencial mineral em cobre e níquel, precisa de uma estratégia clara para se tornar um fornecedor global e não apenas um receptor de tecnologia.
A mobilidade elétrica não é mais uma mera tendência, mas uma realidade que reconfigura a indústria automotiva e as cadeias de suprimentos. No Brasil, o domínio é evidente: entre 2023 e o início de 2025, 75% das importações de veículos elétricos vieram da China, consolidando o país asiático como o principal fornecedor.
Diante dessa avalanche de carros chineses, na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil, a resposta tem sido o aumento tarifário para proteger as montadoras locais. No Brasil, a elevação gradual das tarifas – de 10% em 2024 para 35% em 2026 – motivou os fabricantes chineses a antecipar embarques para garantir presença no mercado nacional.
Esse movimento comercial é apenas o reflexo mais superficial da transformação nas cadeias de suprimentos dos metais estratégicos que viabilizam a eletrificação. Entre os insumos críticos, o cobre emerge com um lugar central, sendo o fio condutor literal da transição.
O cobre é essencial, presente nos motores, nos cabos de alta voltagem, nas estações de recarga e em tecnologias correlatas como inteligência artificial e data centers. O metal atingiu recordes históricos de preço entre 2024 e o primeiro semestre de 2025.
As altas foram causadas por múltiplos fatores, como gargalos na mineração na América Latina, dificuldades de refino na Ásia e tarifas norte-americanas que alteraram os fluxos de comércio. Mesmo com uma correção recente, o cobre se mantém em um patamar elevado.
A previsão do mercado é que a oferta futura de cobre será estruturalmente insuficiente para atender a demanda exponencial. Embora novos projetos na África possam ajudar, o crescimento da demanda será difícil de ser acompanhado, gerando a expectativa de um “superciclo do cobre” que pode durar por toda a década.
Se o cobre é uma certeza de crescimento, o níquel apresenta uma grande interrogação para o futuro. O metal foi considerado, por anos, insubstituível nas baterias dos veículos elétricos, o que estimulou investimentos bilionários em extração e refino, com a Indonésia se tornando o epicentro da produção global.
No entanto, o cenário está sendo reconfigurado pelo avanço das baterias de lítio-ferro-fósforo (LFP). Essas baterias dispensam o níquel, são mais baratas e estão ganhando uma participação acelerada no mercado.
Em 2024, pouco mais da metade das baterias ainda continha níquel, mas a tendência indica uma erosão gradual dessa participação. Isso cria um paradoxo no mercado de níquel, com excesso de capacidade produtiva em construção e dúvidas sobre a sustentabilidade da demanda futura. O níquel corre o risco de perder seu protagonismo para as tecnologias emergentes.
A corrida pelos veículos elétricos e por seus metais críticos está redesenhando o comércio internacional. No caso brasileiro, a antecipação de exportações chinesas para evitar as tarifas futuras inflou o volume de importações, pressionando a balança comercial e os custos logísticos internos.
Um protecionismo verde semelhante é visto em outras regiões, com a Europa e os EUA impondo barreiras. O objetivo vai além da proteção das montadoras locais: trata-se de definir quem irá controlar as cadeias de valor da eletrificação e, assim, colher os maiores benefícios econômicos da transição energética.
O Brasil ocupa uma posição ambígua neste cenário: é um mercado consumidor prioritário para a China e tem o potencial de ser um fornecedor de insumos críticos, especialmente em cobre e níquel, devido aos seus recursos minerais.
O país, contudo, precisa de uma estratégia clara, com política industrial e investimentos em infraestrutura. Sem isso, o Brasil corre o risco de ser um receptor passivo de tecnologias e um mero importador de veículos, perdendo a chance de se tornar um protagonista na cadeia de valor.
O cobre é, portanto, o símbolo da certeza do futuro elétrico, enquanto o destino do níquel está atrelado às próximas viradas tecnológicas. O Brasil está no cruzamento desses vetores, com a oportunidade de se posicionar como fornecedor estratégico na economia verde global.
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Superciclo do Cobre – Período prolongado, geralmente de uma década ou mais, em que o preço do cobre se mantém alto devido a um desequilíbrio estrutural e persistente entre o crescimento da demanda e a incapacidade da oferta de acompanhá-lo.
Baterias de Lítio-Ferro-Fósforo (LFP) – Tipo de bateria de íon-lítio que utiliza fosfato de ferro-lítio como material catódico, sendo mais barata, mais segura e dispensando o uso de níquel e cobalto.
Protecionismo Verde – Medidas de política comercial (como tarifas ou barreiras não tarifárias) adotadas por países para proteger suas indústrias nacionais na transição para a economia de baixo carbono e o desenvolvimento de tecnologias ambientais.
Cadeias de Valor – Conjunto de atividades, desde a concepção do produto até sua entrega ao consumidor final, que cria valor. No contexto de VEs, envolve mineração, refino, produção de baterias e montagem final
