Com apoio de R$ 2,3 bilhões do BNDES, a Volkswagen reforça seu plano de eletrificação e inovação no Brasil, dentro de um investimento total de R$ 20 bilhões na América do Sul até 2028. O movimento, embora importante, contrasta com montadoras que têm apostado em aportes próprios, como BYD, GWM e Stellantis, ampliando o debate sobre o ritmo da transição energética no país.
A cerimônia de assinatura do contrato aconteceu na fábrica Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP), com a presença do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e dos executivos Alexander Seitz e Ciro Possobom, da Volkswagen.
O investimento será aplicado no desenvolvimento de novos sistemas híbridos HEV flex, que combinam motor elétrico e motor a combustão capaz de operar com etanol e gasolina, além de tecnologias ADAS (Sistemas Avançados de Assistência ao Condutor) e de conectividade inteligente.
A montadora também confirmou que o primeiro veículo híbrido da marca será produzido em São Bernardo do Campo (SP) a partir de 2026, utilizando a nova plataforma MQB37, adaptada para propulsão eletrificada. A iniciativa faz parte de um ciclo regional de R$ 20 bilhões até 2028, sendo R$ 16 bilhões no Brasil, destinados a 17 novos veículos, entre eles híbridos, híbridos plug-in e elétricos.
Segundo Ciro Possobom, presidente e CEO da Volkswagen do Brasil, o aporte reforça o papel estratégico do país na transição energética:
“O apoio do BNDES acelera nossa transformação tecnológica e fortalece nossa engenharia local. Estamos democratizando o acesso à eletrificação, promovendo inovação e desenvolvimento industrial no Brasil.”
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou que o financiamento à inovação é fundamental para a neoindustrialização brasileira:
“O BNDES está comprometido com uma política industrial que prioriza a descarbonização e a competitividade. Apoiar a Volkswagen significa preparar o Brasil para o futuro da mobilidade sustentável.”
Apesar da importância do acordo, o movimento da Volkswagen revela um modelo distinto de financiamento em comparação a outras montadoras instaladas no país, que optaram por investir com capital próprio em seus programas de eletrificação.
A BYD, por exemplo, anunciou um investimento de R$ 3 bilhões na construção de um complexo industrial em Camaçari (BA), sem recorrer a linhas de crédito público. A empresa chinesa, líder mundial em veículos elétricos, prepara a produção nacional de carros elétricos e híbridos plug-in com início previsto para 2025.
Já a GWM (Great Wall Motors) destinou R$ 10 bilhões ao seu projeto no Brasil, incluindo a fábrica em Iracemápolis (SP) e o lançamento de uma linha completa de híbridos e elétricos, como o Haval H6 e o Ora 03, apostando em uma estratégia 100% autofinanciada.
A Stellantis, por sua vez, mantém um plano de R$ 30 bilhões até 2030 para o desenvolvimento de novas plataformas híbridas e elétricas, parte dele já aplicado no Polo Automotivo de Goiana (PE), onde serão produzidos os futuros SUVs eletrificados da Fiat e da Jeep.
Enquanto isso, a Volkswagen adota uma postura mais cautelosa, amparando sua transição energética em créditos subsidiados e parcerias institucionais, como forma de mitigar riscos financeiros e acelerar o desenvolvimento de tecnologias locais. Embora essa estratégia reduza custos e preserve capital, também expõe a defasagem temporal da marca, que chega à eletrificação com atraso em relação às concorrentes asiáticas e ao grupo Stellantis.
A expectativa é que o investimento conjunto entre a Volkswagen e o governo brasileiro estimule a competitividade industrial e fortaleça a cadeia produtiva nacional, impulsionando engenharia, fornecedores e exportações. A marca já é a maior exportadora do setor automotivo brasileiro, com 4,4 milhões de veículos enviados a 147 mercados desde 1970.
Além do financiamento, a Volkswagen destaca seu compromisso ambiental com o programa global Way to Zero, que visa a neutralidade de carbono até 2050. No Brasil, todas as unidades operam com energia 100% renovável e parte do processo produtivo já utiliza biometano, reduzindo em até 99% as emissões de CO₂ em comparação às fontes fósseis.
O apoio público à Volkswagen representa um alinhamento entre política industrial e transição energética, mas também acende o debate sobre a dependência de incentivos estatais em um momento em que o setor automotivo global avança de forma acelerada com recursos privados.
Se por um lado o crédito do BNDES garante fôlego financeiro e acelera a nacionalização da tecnologia híbrida, por outro, o Brasil ainda se move lentamente rumo à eletrificação plena — num cenário em que os concorrentes internacionais já consolidaram fábricas, produtos e infraestrutura própria para a nova era da mobilidade.
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BNDES Mais Inovação – Linha de crédito voltada ao desenvolvimento tecnológico e à descarbonização industrial, apoiando empresas que investem em eletrificação e sustentabilidade.
Plataforma MQB37 – Arquitetura modular da Volkswagen que permite integração de motores híbridos e elétricos, além de tecnologias avançadas de segurança e conectividade.
HEV Flex – Sistema híbrido que combina motor elétrico e motor a combustão flex, compatível com gasolina e etanol, ampliando autonomia e reduzindo emissões.
