Texto de Gabriel Lima – Criada em 1923, as 24 Horas de Le Mans completam 100 anos em 2023. Apesar de ser apenas a 91ª edição da famosa prova, realizada em trechos de estradas e de autódromo permanente, no Circuito de la Sarthe, a ocasião é também bastante especial dado o fato que o grid pela primeira vez em muitos anos estar em grande forma, com a entrada de diversas montadoras como Ferrari, Porsche, Peugeot e Cadillac se juntando à Toyota – que chega como a favorita para a edição deste ano.
Para 2024 há ainda a promessa da chegada à categoria Hypercar de nomes de peso como BMW, Alpine e Lamborghini, o que para muitos marca o início de uma nova “era de ouro” das corridas de longa duração – e em especial das 24 Horas de Le Mans.
“Com certeza é um grande momento estar mais uma vez no grid de Le Mans, e principalmente com tantos bons pilotos e bons carros”, disse o brasileiro André Negrão, piloto do Alpine #35, que disputa pela sétima vez a corrida, vencida por ele na categoria LMP2 em 2018 e 2019.
“Vamos buscar um bom resultado na LMP2 neste ano. Eu já venci duas vezes a prova por essa categoria. Mas, é claro, é uma prova de 24 horas. Tudo e sempre pode acontecer. E é por isso que você vê muitas equipes comemorando apenas o fato de ter terminado a corrida. Muita gente até chorando. É um grande esforço para todos, mas se você consegue chegar ao fim sempre se sente recompensado”, completou Negrão.
Início: teste de resistência – Organizada pelo ACO (Automobile Club de l’Ouest), a primeira prova ocorreu em 26 e 27 de maio de 1923. Inicialmente, os organizadores queriam promover uma corrida que testasse a ainda incipiente tecnologia dos automóveis, com muitas pequenas fábricas espalhadas especialmente pela Europa.
O formato era diferente: o carro vencedor seria aquele que conseguisse cobrir a maior distância após três edições das 24 horas. Mas a ideia foi abandonada em 1928, com os vencedores de cada edição sendo reconhecidos como os ganhadores.
A prova não foi realizada em nove anos entre 1923 e 2023. Primeiro em 1936, devido a uma greve geral na França, e depois pela Segunda Guerra Mundial, entre 1940 e 1948, quando a pista também precisou ser reconstruída.
Era dourada – Com a retomada da prova em 1949, diversas montadoras passaram a se interessar pela competição. O ano marcou também a primeira vitória da Ferrari, com um modelo 166MM – carro que inspirou a canção “Red Barchetta”, da banda canadense Rush. Em 1953, com a formação do Mundial de Protótipos, a prova ganhou um campeonato organizado que orbitava em torno dela – como acontece até hoje, nos últimos anos como Mundial de Endurance.
A edição de 1955 viu acontecer um grande susto: a maior tragédia da história do automobilismo. O francês Pierre Levegh bateu na reta principal. Seu carro foi parar em uma área de espectadores e matou 84 pessoas, o que motivou preocupações e melhorias de segurança e também o abandono das corridas por parte da Mercedes Benz e, um pouco mais tarde, a proibição de provas na Suíça.
Com o avanço dos carros, nos anos 1960 os modelos chegavam aos 320 km/h na reta Mulsanne – ainda sem chicanes, que foram apenas colocadas em 1990. Neste período, uma das grandes histórias do automobilismo se criou em Le Mans, quando a Ford derrotou a Ferrari na prova francesa em 1966 – episódio retratado no filme “Ford vs. Ferrari” (2019). Para aumentar o peso dessa saga, a marca de Maranello – que ganhou de 1960 até 1965 – não vence as 24 Horas de Le Mans desde então. Neste período, a popularidade da prova aumentou, com edições chegando a ter mais de 300 mil espectadores.
Nos anos 1970, a famosa largada com os pilotos correndo até os carros foi abandonada em detrimento de mais segurança, primeiramente por uma largada parada (1970) e posteriormente em movimento (1971). O segundo grande momento das 24 Horas de Le Mans veio nos anos 1980 com a criação do Grupo C – que uniu regulamentos de campeonatos pelo mundo. Nesta época, diversas montadoras levaram carros que até hoje são relembrados com carinho pelos fãs para a corrida francesa.
Entre as marcas estava a Porsche, que conseguiu a façanha de em 1983 fazer nove dos 10 primeiros colocados na prova e anotar a maior média de velocidade da história em uma volta em 1985, 251,815 km/h. Outras fábricas que construíram seus nomes na corrida e fizeram modelos hoje considerados lendários são Jaguar, Mazda (primeira japonesa a vencer, em 1991), Toyota, Nissan, Mercedes por meio da equipe Sauber, e Peugeot (dona do recorde de velocidade da reta Mulsanne em 1988, 405 km/h).
Neste período, a FIA decidiu impor aos times do Grupo C, em 1992, que apenas carros com motores 3.5L e com arquitetura em V competissem no Mundial de Protótipos, igualando seu regulamento ao da Fórmula 1. Os custos subiram excessivamente e, assim, as montadoras tiveram que fazer uma opção e iniciaram uma retirada do campeonato, que em 1993 foi cancelado devido à falta de participantes.
Criação do WEC – As 24 Horas de Le Mans ficaram sem um campeonato oficial entre 1993 e 2010. Em 2011 a prova contou para o Intercontinental Le Mans Cup, porém em 2012 um novo campeonato nasceu para contemplar a prova: o Mundial de Endurance, ou World Endurance Championship, que permanece até hoje.
Desde sua formação, o WEC possui entre três e quatro classes, englobando também carros de GT – s superesportivos vendidos ao público que se popularizaram na prova após o fim do Grupo C. Nesta fase, a Audi iniciou dominando (vencendo 13 edições entre 2000 e 2014) antes de sair do campeonato em 2016. Após isso, a Porsche conquistou as últimas três de suas 19 vitórias em Le Mans – recorde para uma montadora – antes de também sair no fim de 2017.
Já nos últimos cinco anos a Toyota – que amargou uma derrota na última volta em 2016 para a Porsche após uma falha mecânica – conquistou cinco vitórias seguidas. As duas primeiras com o espanhol Fernando Alonso, bicampeão de Fórmula 1, ao volante.
A marca japonesa chega como grande favorita em 2023, mas agora com nomes de peso a seu lado, como Ferrari, Porsche, Peugeot e Cadillac. Elas competem na categoria dos Hipercarros, criada em 2021 para substituir a antiga LMP1, a principal do grid.
O Brasil em Le Mans – Até hoje, 35 pilotos brasileiros já participaram das 24 Horas de Le Mans. Porém, se por um lado nunca um deles chegou ao lugar mais alto do pódio na categoria geral, vários já estiveram no top 3 e quatro conseguiram vencer a corrida em classes intermediárias.
André Negrão e Daniel Serra, que estarão no grid da prova neste ano, foram os últimos a triunfar, em 2019. Negrão pela LMP2 – segunda categoria mais importante – e Serra pela LMGTE-Pro. As vitórias de ambos foram suas segundas na tradicional corrida francesa. André ganhou pela primeira vez em 2018 (LMP2), já Serra faturou pela primeira vez as 24 Horas em 2017 (LMGTE-Pro).
Além dos dois, Thomas Erdos – primeiro vencedor brasileiro em Le Mans – ganhou na classe LMP2 em 2005 e 2006, com Jaime Melo na GT2 em 2008 e 2009. Já em pódios gerais, o Brasil foi representado por seis nomes na história. O mais bem-sucedido e o único a repetir pódios é Lucas Di Grassi, terceiro em 2013 e 2016 e segundo em 2014. O primeiro pódio da história foi de José Carlos Pace em 1973, com o campeão do Mundial de Protótipos de 1987 – Raul Boesel – sendo segundo em 1991.
Já em 2008, foi a vez de Ricardo Zonta levar a bandeira do Brasil ao terceiro lugar do pódio. Em 2020, Bruno Senna foi o segundo e André Negrão em 2021 levou pela última vez o Brasil a um pódio geral, em terceiro.
Programação da 91ª edição das 24 Horas de Le Mans
(horário de Brasília):
Quarta-feira, 7
9h – Treino livre 1
14h – Q1
17h – Treino livre 2
Quinta-feira, 8
10h – Treino livre 3
15h – Hyperpole
17h – Treino livre 4
Sábado, 10
7h – Treino livre 5
11h – Largada para as 24h de Le Mans
Michelin comemora centenário das 24h de Le Mans – A Michelin e seus parceiros comemoram este mês o centenário das 24 Horas de Le Mans, a competição automobilística mais difícil e célebre do mundo. A empresa francesa celebra este marco revendo as inúmeras inovações que a clássica prova de 24 horas contribuiu para desenvolver nos últimos 100 anos.
1923 – Triunfo para Chenard & Walcker com pneus Michelin desmontáveis
1951 – Primeiro pneu radial a competir na categoria de topo
1967 – Primeira aparição de pneus slick com banda de rodagem lisa
2005 – Pneus para o Audi R10 TDI, primeiro protótipo Diesel a competir em Le Mans
2014 – Pneus para os protótipos LMP1 (5 a 6 cm mais estreitos, 15% mais leves)
2014 – Pneus slick intermediários MICHELIN Hybrid
2021 – Pneus para a nova categoria Hypercar desenvolvidos integralmente no simulador
Ao longo de décadas, a Michelin considera as 24 Horas de Le Mans um desafio capaz de acelerar a aparição de inovações sustentáveis. Mais do que nunca, o motorsport serve como um importante campo de testes e acelerador das principais inovações. As condições extremas próprias das corridas oferecem a oportunidade perfeita de inovar, experimentar em tempo recorde, aprender, conceber novas soluções e acelerar o desenvolvimento de soluções sustentáveis que beneficiem a todos.
Para a edição do centenário das 24 Horas de Le Mans, a Michelin promove a sua nova campanha #WeRaceForChange (#CorremosPorMudanças). O objetivo é explicar em que medida o motorsport contribui para a inovação e conta com aquela que é, provavelmente, a trajetória mais completa e brilhante desta modalidade. Porém, a principal razão para apostar na competição é para dar forma à mobilidade do futuro, desenvolvendo pneus 100% sustentáveis e não simplesmente para conseguir títulos e troféus.
Durante a prova, o stand da Michelin trará as inovações da empresa francesa. Entre os produtos expostos, destaque para o novo pneu desenvolvido para o protótipo de competição a hidrogénio H24 GreenGT, que incorpora 63% de materiais sustentáveis. Este pneu cumpre com perfeição a meta da Michelin de utilizar materiais sustentáveis em toda a sua gama, cumprindo com o objetivo do Grupo de utilizar exclusivamente matérias-primas de origem biológica, recicladas ou renováveis em todo o seu portfólio até 2050.
Para as pistas, a Michelin desenvolveu uma nova gama de pneus para a categoria Hypercar, concebida exclusivamente em simulador. A capacidade da Michelin para reproduzir com precisão o comportamento dos seus pneus em formato digital deve-se à sua ampla base de dados e à sua capacidade para processar dados inteligentes, utilizando os mais avançados algoritmos matemáticos.
Mais de duas décadas de experiência em tecnologia de simulação avançada ajudaram a Michelin a produzir a Tame Tire, uma ferramenta única, patenteada e codificada de modelagem para o desenvolvimento de pneus.
Ao reproduzir dinamicamente os efeitos que as flutuações de temperatura têm sobre as matérias-primas e sobre a pressão dos pneus no circuito, a Tame Tire contribui de forma significativa para o desenvolvimento não só dos pneus de competição, mas também dos utilizados nos automóveis de passeio.
Além disso, permite analisar a forma como os pneus e o chassis interagem à medida que os fabricantes apostam mais na eletrificação de veículos, incluindo a forma como a distribuição do peso, e as características de carga, dos seus respetivos modelos variam durante a utilização.
Para reforçar ainda mais a sua capacidade digital, a Michelin adquiriu recentemente a empresa britânica Canopy Solutions, especialista em simulação de tempo de volta. A sua experiência é reforçada pelo simulador de trajetória desenvolvido para acrescentar à equação um fator de “piloto virtual” de alto desempenho. Graças a estes conhecimentos, a Michelin pode acelerar o seu programa de desenvolvimento, atribuindo a estes “pilotos virtuais” tarefas padronizadas, que atualmente são realizadas por pilotos reais em simuladores dinâmicos.
Cem anos depois da sua primeira vitória nas 24 Horas de Le Mans, em 1923, a capacidade de inovação da Michelin continua a acelerar e a competição desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de uma estratégia baseada no progresso tecnológico.
Guia da gama de pneus Michelin para as 24 Horas de Le Mans 2023:
Nova gama de pneus Hypercar da Michelin compete pela primeira vez em Le Mans
Três cores para os pneus MICHELIN Pilot Sport:
Marca branca no flanco: composto MACIO,
Marca amarela no flanco: composto MÉDIO,
Marca vermelha no flanco: composto DURO.
Novo pneu MICHELIN Pilot Sport de CHUVA, único e especialmente versátil, para os protótipos Hypercar, em lugar das duas opções anteriormente disponíveis para piso molhado
Gama Michelin para os LM GTE Am idêntica à de 2022
37 dos 62 carros inscritos no centenário das 24 Horas de Le Mans competem com pneus MICHELIN
8 mil pneus MICHELIN disponíveis para as 24 Horas de Le Mans de 2023