No XVII Simpósio Internacional de Lubrificantes, Aditivos e Fluidos, realizado em São Paulo, a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) debateu alternativas para a descarbonização da mobilidade, abordando a importância do biometano, do gás natural renovável e da infraestrutura de recarga para veículos elétricos. Com palestras de líderes de empresas e especialistas do setor, o evento reforçou o compromisso com a sustentabilidade e inovação na indústria automotiva.
O simpósio, promovido pela AEA e realizado no Millenium Centro de Convenções, em São Paulo, reuniu importantes nomes da engenharia automotiva para debater o macrotema “Evolução automotiva, produtividade e desenvolvimento sustentável”. Marcus Vinicius Aguiar, presidente da AEA, abriu o evento, e Simone Hashizume, coordenadora do simpósio, apresentou o primeiro palestrante: Murilo Ortolan, diretor de Tendências Tecnológicas da AEA. Ortolan introduziu o Programa MOVER, uma iniciativa da AEA que visa elevar a qualidade dos automóveis nacionais, focando em tecnologia, eficiência energética e inovação, aspectos essenciais para a mobilidade sustentável.
O uso de biometano como alternativa para a descarbonização foi um dos principais temas abordados. Marisa Maia de Barros, da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, destacou o Plano Estadual de Energia 2050, que projeta um aumento na demanda de biometano para 49% do setor de transportes não elétricos até 2050. Marisa enfatizou o papel das políticas públicas na promoção de inovações na cadeia de combustíveis renováveis, com o biometano surgindo como um possível substituto do gás natural.
Marcos Garcia, representante da Scania, reforçou o potencial do biometano, destacando que o Brasil possui capacidade de produzir 43 bilhões de litros do combustível, o que poderia suprir até 75% da atual demanda de diesel. Garcia lembrou que o uso do biometano é uma solução real e viável para o presente, com infraestrutura e tecnologia já disponíveis para uma implementação rápida no setor de transportes. “O gás é o presente e o futuro”, afirmou ele, sublinhando a importância da eficiência energética e da eletrificação.
Além do biometano, o gás natural renovável (RNG) também foi tema de discussão. Rafael Ribeiro, da Oronite, apresentou as vantagens dessa alternativa para motores pesados, que podem reduzir as emissões de gases de efeito estufa em até 85% no ciclo completo (well-to-wheels). Ribeiro destacou como o RNG oferece uma alternativa viável ao diesel, especialmente em veículos de transporte pesado, onde as emissões de poluentes como NOx são particularmente elevadas.
O simpósio também abordou o impacto dos biocombustíveis no mercado de lubrificantes. Pamela Barreto, da Vibra, explicou como a indústria de lubrificantes tem se adaptado às novas demandas energéticas, desenvolvendo produtos que maximizam a eficiência dos motores e reduzem o impacto ambiental. Segundo ela, a indústria de lubrificantes está investindo em inovações que atendam aos requisitos de sustentabilidade e eficiência energética, colaborando com montadoras para explorar soluções mais verdes.
Ayrton Barros, da Neocharge, discutiu a infraestrutura de recarga para veículos elétricos no Brasil, que ainda apresenta gargalos, com apenas um carregador para cada 17 veículos elétricos no país, enquanto a recomendação da Agência Internacional de Energia é de um para cada 10. Barros pontuou que a expansão da infraestrutura é um desafio financeiro, mas essencial para que o país avance na mobilidade elétrica e alcance uma maior acessibilidade a veículos eletrificados.
Outro ponto de destaque foi a necessidade de adaptação das oficinas para atender a demanda crescente de veículos eletrificados. Prof. José Martinho destacou a importância de capacitar profissionais do setor de pós-vendas para garantir o suporte adequado a esses veículos, incluindo manutenção e atualização de tecnologias.
Na parte de lubrificantes, Sergio Rebelo, da FactorKline, apresentou um panorama de mercado e ressaltou a potencialidade do Brasil, que está investindo em modernização de fábricas, expansão de portfólio de aditivos e práticas de ESG para coleta e reciclagem de embalagens. Esse foco em sustentabilidade é uma resposta ao crescimento da demanda por soluções que minimizem o impacto ambiental.
No segmento de óleos básicos, Aylla Kipper, da LWART, reforçou a necessidade de uma abordagem sustentável para a transição energética e a economia circular. Ela destacou que o compromisso com a neutralidade de carbono exige a colaboração de todos os fornecedores e fabricantes, que devem adotar tecnologias de baixa intensidade de carbono para minimizar a pegada ambiental.
Carolina Silva, da Infineum Brasil, abordou o impacto das novas regulamentações de emissões sobre o mercado de lubrificantes para motocicletas, ressaltando a necessidade de encontrar um equilíbrio entre desempenho, economia de combustível e durabilidade dos produtos. Segundo ela, o setor de lubrificantes precisa acompanhar as inovações tecnológicas no mercado de duas rodas e atender à crescente demanda por produtos que reduzam emissões.
O evento encerrou com a apresentação de Marcus Vercelino, da Lubrizol, sobre como aditivos podem melhorar a durabilidade dos motores, reduzindo a frequência de manutenção e descartes de lubrificantes, contribuindo assim para a sustentabilidade. Vercelino compartilhou resultados de testes que mostram como aditivos avançados podem trazer benefícios tanto para a produtividade quanto para o meio ambiente.
Por fim, foi entregue o Prêmio SIMEA 2024, em reconhecimento aos melhores trabalhos técnicos apresentados na 31ª edição do Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva, ocorrido em agosto.