O mercado automotivo global está passando por uma transformação, com uma crescente preferência por veículos híbridos, enquanto o entusiasmo pelos carros elétricos diminui. A pesquisa anual da Deloitte revela como a tecnologia, sustentabilidade e questões econômicas estão moldando as decisões de compra de consumidores ao redor do mundo.
Nos últimos anos, a popularidade dos veículos híbridos tem crescido significativamente, enquanto o interesse pelos carros elétricos parece ter estagnado. O estudo Global Automotive Consumer, realizado pela Deloitte, revela que, apesar da urgência mundial para avançar em direção ao transporte com emissão zero, os consumidores estão cada vez mais inclinados a optar por veículos híbridos devido a benefícios como a redução no consumo de combustível, menor emissão de carbono e a maior autonomia de rodagem. Para muitos, essa opção parece mais vantajosa do que os carros elétricos, que ainda enfrentam desafios como a infraestrutura de recarga limitada e longos tempos de espera para completar o ciclo de energia.
No EUA, o estudo revelou que a maioria dos consumidores (62%) ainda preferem comprar veículos à combustão interna na próxima aquisição, enquanto 20% consideram um híbrido e apenas 5% se interessam por um carro totalmente elétrico. Este cenário reflete uma tendência global observada também no Japão e na China, onde 40% dos consumidores indicaram interesse por carros movidos exclusivamente por gasolina ou diesel. Contudo, nesses países, a soma de veículos híbridos e elétricos somou 60% no Japão e 46% na China, destacando o avanço dos modelos eletrificados.
A pesquisa da Deloitte também apontou que, ao longo dos últimos anos, o número de consumidores dispostos a investir em veículos híbridos tem crescido significativamente, especialmente nos EUA, onde a intenção de compra de carros híbridos aumentou 5 pontos percentuais. Isso é visto como uma adaptação dos consumidores às mudanças tecnológicas e ao mercado, uma vez que, ao contrário dos carros elétricos, os híbridos oferecem uma alternativa mais prática para aqueles que buscam a sustentabilidade sem abrir mão da comodidade.
Embora o foco no estudo tenha sido global, a realidade brasileira também merece destaque. Nos últimos dois anos, montadoras como BYD, GWM e Stellantis têm lançado modelos elétricos e híbridos em território nacional, com destaque para os carros híbridos com plug-in que, embora ainda representem uma parcela pequena do mercado, vêm ganhando popularidade. O Brasil registrou em 2024 a venda de 177.358 veículos eletrificados, sendo que um terço dessa quantidade foi de híbridos plug-in. Porém, o volume representa menos de 7% do total de carros vendidos no país.
Em relação à tecnologia automotiva, o estudo da Deloitte destacou a crescente demanda por Inteligência Artificial (IA) nos carros. Sensores, câmeras e radares equipados com IA já são vistos como ferramentas essenciais para aumentar a segurança e a conectividade dos veículos, especialmente em mercados como Índia e China, onde mais de 75% dos entrevistados afirmaram ter interesse por carros equipados com esse tipo de tecnologia. Além disso, a conectividade com smartphones também é uma exigência crescente, com consumidores exigindo que seus veículos integrem facilmente dispositivos móveis.
Outro ponto relevante é a divisão de opiniões sobre os veículos autônomos. Apesar de um interesse crescente por carros que possam operar sem a intervenção humana, muitos consumidores ainda demonstram resistência, especialmente em países como a Índia e o Reino Unido, onde mais de 60% dos entrevistados expressaram preocupação com a ideia de conviver nas estradas com robotáxis e veículos comerciais autônomos.
Ao mesmo tempo, os fatores tradicionais de compra, como preço, qualidade do produto e desempenho, ainda são os principais motivadores para a maioria dos consumidores ao redor do mundo. Esses elementos continuam sendo cruciais para a decisão de compra, com metade dos consumidores afirmando que esses aspectos são os mais importantes ao escolher um novo carro. A lealdade à marca também varia de acordo com a cultura de cada país, com maior fidelidade observada no Japão, enquanto os consumidores dos EUA estão mais divididos e os da China tendem a ser mais abertos à experimentação.
Por fim, o estudo da Deloitte destacou a crescente importância das novas gerações, especialmente a Geração Y (18 a 34 anos), que demonstrou uma mudança significativa no interesse por mobilidade compartilhada e soluções de transporte coletivo. Essa geração está mais disposta a abrir mão da posse do veículo, preferindo serviços de transporte sob demanda, especialmente em países como a Índia, onde 70% dos entrevistados dessa faixa etária estão inclinados a adotar modelos de mobilidade integrada.