O sucesso estrondoso da Equipe Nissan de Fórmula E em 2025 é resultado direto da transferência de tecnologia entre os departamentos de engenharia do Japão e o time de competição na Europa, mostrando como inovação e integração podem transformar desempenho em vitórias.
O plano Ambition 2030, anunciado pela Nissan em 2021, foi muito além de uma visão corporativa sobre eletrificação. Ele foi o ponto de partida para uma revolução estratégica: usar a Fórmula E como campo de testes real para desenvolver tecnologias que serão aplicadas em seus veículos elétricos comerciais. E os resultados já começaram a aparecer.
Antes da era GEN3, iniciada em 2023, a Nissan assumiu o controle total de sua equipe na categoria, transformando-a em uma extensão direta de seu setor de Pesquisa e Desenvolvimento (R&D). Foi então que Tadashi Nishikawa, engenheiro japonês com quase duas décadas de casa, foi nomeado Engenheiro-Chefe de Powertrain. Sua missão era clara: conectar o conhecimento técnico da sede japonesa à performance da equipe nas pistas.
Transferido para a base europeia da equipe, na França, Tad trouxe ideias novas, dados robustos e uma visão ousada, o que inicialmente causou desconfiança nos engenheiros do automobilismo. Mas bastaram alguns meses de trabalho e simulações precisas para conquistar a confiança do grupo e provar o valor de sua abordagem baseada em dados e experiências acumuladas na engenharia automotiva.
Esse intercâmbio rendeu frutos imediatos: a Nissan lidera atualmente todas as classificações do campeonato da Fórmula E na Temporada 11, incluindo os desempenhos consistentes dos quatro carros equipados com o motor Nissan e-4ORCE 05 — dois da equipe oficial e dois da cliente NEOM McLaren. A eficiência e potência do novo trem de força, desenvolvido por Tad, são apontadas como fatores centrais dessa arrancada de sucesso.
O chefe de equipe, Tommaso Volpe, destaca que o diferencial está justamente na sinergia entre a engenharia tradicional da marca e a competitividade das pistas: “A transferência de expertise do setor automotivo para a pista é vital. Mostra o valor global da nossa equipe e da nossa tecnologia”.
Nishikawa explicou que, apesar das diferenças de foco entre o setor automotivo e o automobilismo, a lógica de desenvolvimento, testes e refinamento com base em dados permanece a mesma. Ele acredita que o sucesso vem de saber equilibrar compromissos técnicos entre diferentes sistemas do carro, buscando sempre maximizar o desempenho global — desde a simulação até os testes físicos.
Com o sucesso consolidado, a Nissan já pensa no futuro. Em março de 2024, tornou-se a primeira fabricante a se comprometer oficialmente com a era GEN4 da Fórmula E, garantindo presença até pelo menos 2030. Isso marca o compromisso mais duradouro da história da empresa com o automobilismo de alto nível.
Agora, Tad se despede do time europeu com a missão cumprida, e passa o bastão para Takuro Iwase, outro engenheiro japonês que deve continuar esse ciclo virtuoso de inovação. Em suas palavras de despedida, Tad ressalta que a experiência de trabalhar na equipe de Fórmula E foi transformadora: “Foi um desafio enorme, mas recompensador. A integração da equipe foi essencial para tudo isso acontecer”.
O desempenho inicial da temporada indica que a Nissan está mais forte do que nunca, mas a equipe mantém os pés no chão. “Todos estão tentando nos alcançar. Precisamos seguir evoluindo até a última bandeirada em Londres”, conclui Volpe.
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Trem de força (Powertrain): Conjunto formado pelo motor, transmissão e sistemas que transferem a energia gerada para as rodas. No caso dos carros elétricos, inclui também inversores e sistemas de controle eletrônico.
GEN3/GEN4: Termos usados na Fórmula E para definir diferentes gerações de carros. A GEN3 trouxe veículos mais leves, potentes e eficientes. A GEN4, prevista para estrear em 2026, deve elevar ainda mais esses níveis.
Simulação: Processo computacional que permite testar diferentes configurações e estratégias do carro em ambiente virtual, economizando tempo e custos antes dos testes reais nas pistas.