A baixa participação das mulheres em setores de ciência e tecnologia é um assunto que tem ganhado força no Brasil e no mundo. Em 2014, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgou uma pesquisa com resultados que apontam que apenas 30% dos pesquisadores no mundo são mulheres.
Além disso, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada em 2009, no Brasil, mostra que apenas 20% das 520 mil pessoas que trabalhavam com Tecnologia da Informação eram mulheres.
Debora Bina, aluna do terceiro ano do curso de Sistemas de Informação da Universidade Positivo (UP), de Curitiba, é uma das apenas 5 mulheres em uma turma de 35 estudantes e, no trabalho, é a única mulher da equipe de 20 pessoas. Ela conta que a decisão pela área tecnológica não era o esperado para sua vida acadêmica, enquanto mulher.
“Sempre pensei em cursar Moda, mas quando optei por Sistemas de Informação, minha família ficou surpresa. Eu via no rosto deles que pensavam que tecnologia não é para meninas”, afirma.
Segundo Debora, essa situação é uma consequência cultural, uma vez que as meninas são criadas para ter interesse em outras áreas.
“Desde a infância, somos presenteadas com bonecas, enquanto os meninos ganham carros com controle remoto, blocos de construção e robôs”, expõe.
Para ela, as crianças, de todos os gêneros, deveriam ter contato com a programação e disciplinas tecnológicas desde o Ensino Básico.
Os números desiguais estimulam mulheres, e homens, de todo o mundo a criarem iniciativas que incluam o público feminino nessas áreas.
Para apoiar e valorizar a atuação feminina no mercado, Debora e as colegas de turma criaram o Make Up Code, movimento que tem como objetivo reunir e incentivar as mulheres a criarem e inovarem na esfera tecnológica. Uma das integrantes do grupo, Gabriela Saori Hara, também estudante de Sistemas de Informação, leva esse incentivo principalmente nas atitudes da própria vida, participando de todos os eventos que consegue.
Hackathon – Gabriela já participou, durante sua graduação, de cinco hackathons – maratonas de programação que resultam na criação de projetos e soluções inovadoras.
Segundo ela, assim como nas empresas, os hackathons costumavam ter maior engajamento masculino, porém isso já tem mudado.
“Com o tempo, a mulher tem se destacado não só no campo de tecnologia e desenvolvimento, mas também em outras coisas. Eu, por exemplo, trabalho mais no âmbito dos negócios, mas ainda envolve tecnologia”, explica.
O Hackathon SENDI 2016, que aconteceu de 4 a 6 de novembro, em Curitiba, contou com a participação considerável do público feminino: ao todo, foram mais de 80 mulheres, entre estudantes, mentoras e juradas, dentre os cerca de 400 participantes de todo o evento. Nathália Pimentel, estudante de Engenharia de Energia da UP, diz que este foi o primeiro evento tecnológico que participou.
“Fui convidada por meus amigos porque o tema é condizente com o que estudo, mas sempre tive interesse na área tecnológica. Além disso, me senti confortável no evento, principalmente por ver um bom número de mulheres participando”, relata.
A coordenadora do Laboratório de Varejo da UP, Fabíola Paes, foi uma das coordenadoras do Hackathon SENDI 2016. Para ela, não existe mais profissão na qual a mulher não seja bem vinda ou não tenha talento para exercer.
“Sendo professora, tento incentivar ao máximo a presença das alunas nos eventos tecnológicos e é gratificante ver que toda a esfera de ciência e tecnologia tem acolhido melhor todas elas”.
Fabíola foi uma das vencedoras do Hackathon da Lóreal, no início do ano, ganhou R$ 100 mil para colocar a ideia em prática e visitou o Vale do Silício.
TechLadies- No dia 10 de dezembro, a TechLadies – uma rede de apoio criada para empoderar mulheres interessadas em ingressar na área de Tecnologia da Informação – promove um encontro para a troca de experiências, discussão sobre os desafios do setor e conexão entre as participantes.
O evento é gratuito, aberto ao público, e acontece na Universidade Positivo, a partir das 9h.