Sem a implantação de uma legislação rigorosa e específica, a segurança veicular no Brasil dificilmente avançará na proporção pretendida pelas empresas do setor, demandando ainda mais tempo e investimento para equiparar-se aos níveis internacionais.
Essas foram algumas das constatações feitas por Marley Lemos, superintendente da Vesta Engenharia, durante sua participação no Simpósio SAE BRASIL Carbody 2017, que está sendo realizado até amanhã (21/9) na sede do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP (IPT), com a participação de especialistas do setor de segurança veicular e de montadoras.
Além das apresentações, ainda é possível fazer um test drive com um veículo BMW elétrico e um crash test experience com óculos de realidade virtual, que simula os estragos decorrentes de um acidente ocorrido em um carro mais seguro e outro em que a segurança é deficiente.
Segundo assinalou o chairpeson da Carbody, Ed Taiss, na abertura do evento na manhã de hoje (20/9), a segurança veicular ainda é tratada pelo consumidor brasileiro com relativa superficialidade, que a vincula principalmente aos acessórios de segurança, sem relacioná-la diretamente à estrutura do veículo.
“Discutimos aqui os avanços dessa indústria, assim como as tendências, os investimentos em inovação, processos e mesmo entraves que dificultam ao mercado brasileiro ter uma percepção mais ampla sobre a segurança dos carros que dirigem diariamente”, enfatizou o executivo, acrescentando que o evento também debate os principais desafios do setor.
Em uma rápida enquete feita na abertura do evento, os participantes validaram a afirmação de Taiss sobre como a segurança veicular é percebida no Brasil, que ocupa a quinta posição entre os países com mais vítimas fatais em acidentes de trânsito, com cerca de 37 mil óbitos por ano e pouco mais de 200 mil feridos.
A ampla maioria dos presentes considerou que o Brasil precisa de legislação de segurança veicular mais rigorosa, com punições mais rígidas aos infratores, assim como campanhas contínuas de conscientização.
A enquete ainda informou que os participantes consideram que o consumidor não leva em conta aspectos de segurança na hora da compra e que os aspectos financeiros, como crédito e preços, são os itens que mais influenciam no momento da decisão do veículo a ser adquirido.
Além disso, os participantes do Simpósio apontaram a continuidade da instabilidade do cenário político-econômico com um dos fatores determinantes da fragilidade da evolução da cadeia de segurança automotiva brasileira nos últimos anos quando comparada aos principais polos industriais do mundo.
A força do design aliada à segurança – O design é uma das ferramentas que tem mais contribuíram para a expansão da segurança veicular na indústria brasileira.
Peter Fassbender, head Latam do centro de design da FCA, responsável por projetos como o Fiat Mio, iniciativa pioneira com base 100% ideation open source, afirmou que a aproximação consistente entre design e engenharia tem possibilitado ofertar produtos mais dinâmicos, arrojados, sem perder de vista a segurança.
“As expertises decorrentes do projeto Fiat Mio, realizado entre 2009 e 2011, são utilizadas até hoje. Estão presentes, por exemplo, no modelo Argo, lançado recentemente, cuja geração tem uma das proporções mais adequadas disponíveis na atualidade”, disse.
A tecnologia usada no Argo deu ênfase à interatividade, experiência e viabilidade econômica.
Para Fassbender, quanto mais alinhada a relação entre os designers e engenheiros, maior a probabilidade de a estrutura de segurança dos carros brasileiros avançar, principalmente no que diz respeito à concepção de suas carrocerias estruturais.
No cenário macro, a atual crise brasileira é vista por Camilo Adas, conselheiro da SAE Brasil, como uma oportunidade para a indústria debater as necessidades do mercado interno, considerando nesse panorama o fortalecimento dos sinais cada vez mais fortes de recuperação, o que abre perspectivas positivas.
“Também precisamos identificar como o que está sendo discutido lá fora pode ser adaptado à realidade brasileira. A presença de executivos das empresas do setor automotivo no Simpósio é um bom indicador da disposição do segmento de implementar avanços mais efetivos”, frisou.
Segurança alavanca sucesso da GM – Fábio Baccan, gerente de engenharia de produtos da GM, considerou que a performance acima da expectativa do Cruze Sport6 pode ser atribuída aos avanços tecnológicos do veículo, lançado no final de 2016 e que já detém 33% de market share.
“Trata-se de um modelo que pode ser definido pela sua esportividade, performance, refino e tecnologia”, descreveu o executivo. Entre as vantagens do Cruze, ele destacou os dispositivos e aplicativos de monitoramento, que diagnosticam as condições de uso do carro, o assistente virtual, que auxilia o motorista na hora de estacionar o automóvel, além do alerta de colisão frontal.
“O carro ainda ficou mais leve (20% a menos de massa), a carroceria maior, e com uma rigidez torcionais 6% maior, o que confere uma rigidez total superior a 18,4, número acima da média do mercado. Além disso, o Cruze é 28% mais econômico no consumo de combustível”, garantiu.
Denis Ramon dos Santos Peixoto, representante da Stock Car, evento de corrida esportiva referência em segurança automotiva, destacou que algumas demandas dos veículos comerciais se aproximam das exigidas pelos carros de alta performance, com diferenças de intensidade.
“Também são nossos desafios reduzir peso, aumentar a resistência, rigidez e segurança. Embora as diferenças de escala e dimensões possam, em princípio, dificultar a comunicação entre os setores, as similaridades podem possibilitar o desenvolvimento de parcerias que produzam novos conceitos de segurança”, concluiu.