Em Ryazan, região a cerca de 200 quilômetros de Moscou, um novo carro de polícia está entrando em operação e mostrando até que ponto a tecnologia vai tornar a vida de procurados pela Justiça bem mais difícil.
A viatura, que acaba de ser apresentada pelo Ministério do Interior da Rússia, tem um nome que não explica muito – ela foi batizada de MBC, sigla para Complexo Biométrico Móvel.
Mas seu funcionamento é quase simples: trata-se de um automóvel dotado de uma poderosa câmera panorâmica com zoom, automatizada e móvel, e ainda conectado a outras 10 câmeras de vigilância externas.
Só isso? Não: o segredo está em um servidor de computador instalado na viatura.
Nele roda um sofisticado software baseado em redes neurais, criado pela start-up russa NtechLab, para reconhecimento facial de vídeo em tempo real.
As câmeras externas podem estar em qualquer lugar – no caso de Ryazan, elas foram localizadas junto a esquadrias móveis de detectores de metais usados em shows, festivais e grandes eventos esportivos.
As imagens de quem entra, sai ou circula nos locais de eventos são enviadas à viatura e processadas instantaneamente.
Um operador a bordo do carro pode ver o que está se passando nas 11 câmeras por meio de telas, mas o trabalho duro é mesmo da Inteligência Artificial embarcada no software da NtechLab.
Ela observa os rostos captados nos vídeos e os compara com uma base de dados faciais de criminosos ou de procurados pela Justiça.
O sistema permite que, alertado pela inteligência artificial, o agente a bordo da viatura identifique um criminoso em eventos de massa e envie um alerta na hora aos policiais de área, incluindo foto da pessoa e resumo do crime cometido.
Além da eficácia em termos de segurança para o público, o sistema ajuda a diminuir filas em pontos de controle de acesso de grandes eventos.
“Uma característica incrível é a interação entre pontos de verificação estacionários e móveis, o que dá aos agentes de segurança controle de todo o perímetro do evento e permite que ainda façam verificações pontuais de suspeitos”, diz Ivan Bakhilov, vice-chefe de polícia departamental do Ministério do Interior russo.
A mobilidade extra que Bakhilov cita decorre de que, além das câmeras, um gadget pode ser usado por agentes de campo para registrar foto de um suspeito ou de alguém que esteja aprontado alguma malandragem no entorno.
A imagem é processada também instantaneamente pelo software, que verifica se o registro bate com a imagem do banco de dados policial.
O sistema ainda não está sendo usado nos jogos da Copa, diz o CEO da NtechLab, Mikhail Ivanov, mas bem que poderia.
“É tudo muito novo. O complexo biométrico móvel de Ryazan é o primeiro em funcionamento na Rússia e acaba de ser implantado”, diz Ivanov.
“Mas a biometria facial é uma tecnologia fascinante: o algoritmo, além de analisar enormes fluxos de vídeo de pessoas sem as incomodar, leva menos de um segundo para localizar um rosto no banco de dados.”
Essa velocidade foi um dos fatores que levou o governo russo a optar pela tecnologia da start-up sediada em Moscou e fundada há pouco mais de dois anos.
Segundo Bakhilov, do Ministério do Interior, a tecnologia de reconhecimento facial da NtechLab já em testes prévios se mostrou como “a mais rápida e precisa” para controle de acesso em eventos de massa.
Para ele, depois de novos testes práticos de outras de suas características, o sistema deve ser implantando também em outras regiões do país.
Os olhos digitais do MBC prometem estar, pelo que tudo indica, em outros grandes jogos como os da Copa que se realizarem na Rússia – ou em outros países. Quem viver, verá.