Preocupados com as diretrizes de governo brasileiro no Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-Auto) e com a atual visão da indústria automobilística, o INEE – Instituto Nacional de Eficiência Energética realiza em Campinas, nos dias 20 e 21 de setembro, uma ampla discussão sobre o desempenho energético do etanol e das vantagens competitivas desse combustível para o Brasil, inclusive incorporando os compromissos do país para redução das emissões definidas na COP 21.
O III Seminário internacional sobre o uso eficiente do etanol será realizado no auditório da Bosch (Via Anhaguera, Km 98, em Campinas, interior de São Paulo.
Informações sobre o evento e inscrições online podem ser feitas pelo link etanoleficiente2016.inee.org.br.
Falso conceito – Ao colocar o etanol em discussão, o INEE quer alertar o Governo Federal de que, hoje, os baixos níveis de eficiência decorrem do falso conceito de que o esse combustível é intrinsicamente menos eficiente por ter um poder calorífico menor do que a da gasolina e por seu uso automotivo ser uma solução brasileira.
“Essa desinformação sobre o potencial de aumento de eficiência no uso do etanol influencia diretrizes de governo, decisões de montadoras e do próprio setor de cana que tendem a se conformar com o status quo. Queremos que o resultado desse debate seja considerado no Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-Auto) que será alterado pelo Governo Federal em 2017”, explica Jayme Buarque de Hollanda, diretor geral do INEE e gerente do PrEE – Programa Etanol Eficiente.
O uso eficiente do etanol veicular, além dos impactos ambientais e sociais favoráveis, afeta positivamente a economia de consumidores e agentes ao longo da sua cadeia de produção.
O seminário discutirá formas para aumentar a competitividade do etanol no mercado brasileiro.
Etanol competitivo – Especialistas que vem sendo reunidos pelo INEE desde 2013 têm evidenciado a viabilidade técnica de aumentar a eficiência do uso do etanol mediante tecnologias dominadas, tanto em carros flex quanto naqueles movidos exclusivamente a etanol, que ainda pode substituir competitivamente o óleo diesel em circunstâncias especiais.
“Desconsiderar a vantagem competitiva do etanol prejudica todos os agentes da cadeia energética da cana, com reflexos significativos para o país, que tem sua balança de pagamentos afetada, o nível de emissões aumentado e postos de trabalho reduzidos”, diz Jayme Buarque de Hollanda.
Na opinião dele, perdem os consumidores, por serem levados a consumir mais combustível do que o necessário; a agroindústria da cana, que tem seus resultados reduzidos, mercê da política anti-inflacionária que não reajusta o preço da gasolina; e os fabricantes de veículos, que deixam de trabalhar um nicho de mercado potencial de cerca de 4 milhões de pessoas que consomem preferencialmente o etanol.
“O momento para avançar no tema é particularmente oportuno. Ao contrário do que ocorria no passado, o Brasil não é mais um solitário produtor de etanol em larga escala. Atualmente responde por cerca de um quarto da produção mundial; o aumento das exportações e a diversificação de produtores tornam o combustível uma “commodity” o que reduz os riscos de desabastecimento e poderá contribuir para estabilizar seus preços”, diz.
“O país pode voltar a liderar o tema, pois tem um mercado potencial suficientemente grande para absorver novidades e tem ampla rede de distribuição de etanol já instalada. Para tanto, é importante que as instituições mais diretamente interessadas no desenvolvimento do uso automotivo eficiente do etanol trabalhem para que isto aconteça. A indústria, quando perceber a existência de uma demanda reagirá prontamente, como no passado, apresentando soluções”, acredita.
Participantes – O Seminário será dividido entre palestras e debates das 8h30 às 17h30, nos dois dias e terá como palestrantes os principais representantes dos setores envolvidos com a política do etanol. Entre eles, Aurélio Amaral, diretor da ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis;
Elizabeth Farina, Presidente ÚNICA – União da Indústria da Cana de Açúcar; Arnaldo Vieira de Carvalho, Consultor BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento-; Bernardo Hauch Ribeiro de Castro, do Departamento de Indústria Pesada do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; Alexandre Novgorodcev, Gerente Programa Etiquetagem INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia; e Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Participam também representantes da indústria automobilística e de autopeças, como o presidente da Robert Bosch América Latina, Besaliel Botelho; o diretor global de Tecnologia da MAHLE, Ricardo Abreu; o gerente da área de Engenharia de Motores e Transmissão da Volkswagen do Brasil, Roger Tadeu Guilherme, e o diretor de Relações Institucionais da SCANIA, Rogério Barretto de Rezende.
Também foram convidados pela diretoria do INEE, pesquisadores que estudam tecnologias – injeção direta, turbos, transmissão automática – que permitem obter elevados desempenhos no uso do etanol em motores adequados.
Histórico – Há quase 40 anos, para reduzir a importação de petróleo e derivados, o Brasil iniciou duas importantes mudanças no mercado de combustíveis líquidos ao empregar o etanol: como aditivo da gasolina e como combustível substituto da gasolina (carros flex). O uso como aditivo renovável para aumentar a octanagem da gasolina é hoje adotado em cerca de 30 países.
A evolução da gasolina e das tecnologias de motores nas três últimas décadas dificulta comparar a eficiência dos flex atuais com os antigos carros a etanol.
Medições do consumo de combustíveis pelo INMETRO dão conta, porém, que a maioria dos modelos flex, ao utilizarem etanol, tem desempenho energético (MJ/km) menor do que o observado quando usam gasolina.
Isto porque são equipados com motores a gasolina que permitem o uso de etanol, porém sem aproveitar suas características, mais favoráveis do que as da gasolina, o que ensejaria que eficiências mais elevadas fossem alcançadas.
Hoje há cerca de 30 milhões de carros flex em circulação, a maioria no Brasil e EUA, além dos utilizados na Suécia, França e Alemanha. Fora do Brasil, os pontos de abastecimento de etanol (E85) ainda são escassos.
A maioria dos proprietários de carros flex nos EUA desconhece que seus carros podem ser abastecidos com etanol enquanto no Brasil o carro flex é uma exigência do mercado. À medida que a rede de distribuição for ampliada, certamente vai aumentar a demanda por carros a etanol mais eficientes.