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Congresso Mundial do Sono no Brasil e os acidentes ao volante

Artigo destaca a inércia dos legisladores brasileiros quanto à não obrigatoriedade de equipamentos que monitoram o sono dos motoristas.

Por Sidnei Canhedo* – Entre os dias 20 e 25 de outubro a cidade do Rio de Janeiro se transformará na capital mundial do sono ao sediar o World Sleep 2023. Estarão reunidos grandes nomes do tema, experts de mais de 70 países, apresentando papers inéditos e imersos em debates que elucidem detalhes desse estado fisiológico que ocupa cerca de um terço do dia de cada ser humano.

Serão, em sua maioria, médicos e cientistas focados em estudos que demonstrem os impactos da falta ou do excesso de sono em nossas atividades diárias. Será um congresso bastante técnico, mas fundamental para chamar a atenção das autoridades brasileiras quanto a uma tragédia pouco destacada na mídia, mas que mata ou fere milhares de pessoas todos os dias nas ruas e estradas do país: a mistura entre sono e volante.

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O estudo mais recente realizado este ano pela da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET) demonstra que o sono foi o responsável, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PFR), por 961 mortes e 7,5 mil feridos em 2022. Na comparação com o ano anterior, o número de sinistros relacionados ao sono aumentou em 25%, um salto expressivo e lamentável.

São diversas as razões para esse quadro triste, quase endêmico em nossa sociedade. Quase todas elas passam pela responsabilidade de governos nas mais diferentes esferas. Se por um lado cientistas e médicos, em congressos como este que ocorrerá no Rio, tentam entender cada vez mais os efeitos e a estrutura do sono, as autoridades seguem estáticas quanto à prevenção e mitigação de tragédias. Sim, pois há muitos caminhos disponíveis para alcançarmos uma redução drástica de acidentes.

Começando por campanhas educacionais. São pontuais os alertas que vemos em ruas e estradas sobre a importância de não dirigir se estiver sentindo cansaço. Esporádicas e regionalizadas, a eficácia é quase nula. Seria preciso inserir na sociedade esse senso de responsabilidade, utilizando de meios de publicidade, de mobilização em redes sociais e de blitzes policiais específicas para identificar condutores com sinais de sonolência. Mesmo sem apoio de tecnologia, há testes simples de reflexos que podem ser aplicados a fim de revelar sinais de possíveis problemas.

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Quase não há áreas convidativas e estruturadas para descanso em rodovias. Na Austrália, por exemplo, novas estradas já estão sendo projetadas com um conceito de uma parada de 15 minutos, a cada duas horas. Durante feriados, em muitas das chamadas ‘resting areas’, são oferecidos até café gratuito para estimular esses descansos.

Entramos também no aspecto legal. O Brasil não impõe o rigor devido para coibir motoristas sonolentos. Ao menos não como fazem Estados americanos, Nova Jersey e Arkansas, que aprovaram legislações rigorosas em suas regras regionais de trânsito.

Se qualquer motorista estiver nas ruas de alguma cidade de Nova Jersey. Praticando uma condução ‘conscientemente sonolenta’ e ele se envolver em um homicídio fatal, ele poderá ser acusado de homicídio veicular. O estatuto da ‘Lei de Maggie’ define como fadiga estar sem dormir por um período superior a 24 horas consecutivas. A equiparação penal será a mesma de alguém que dirige um veículo sob o efeito de álcool.

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Segundo dados recentes do ‘Denatran’ americano, a National Sleep Foundation, cerca de 25% dos americanos não dormem o quanto deveriam. Assumem o volante causam milhares de mortes anualmente, ao preferirem arriscar de forma irresponsável, ao invés de serem sensatos.

Remédios também são grandes vetores de motoristas sonolentos. Uma infinidade de medicamentos causam reações corporais ligadas à fadiga, mas nem a indústria farmacêutica e nem os governos fazem campanhas para alertar sobre as consequências desse quadro de riscos. Drogas que parecem inofensivas como antialérgicos, anti-histamínicos ou mesmo antidepressivos são administradas de forma irresponsável, sem que brasileiros tenham consciência do start de um sono que poderá surgir antes de uma curva qualquer.

Seguimos com a constatação da fraqueza de nossa legislação quando olhamos o que faz agora a União Européia. O Bloco impôs uma lei obrigando todas as montadoras, a partir de 2024, a entregarem seus veículos novos com algum dispositivo de identificação de fadiga e sono. Será um item de segurança como passou a ser, por exemplo, o airbag. O equipamento faz parte de um pacote chamado de New Safety Features in your Car (Novas Configurações de Seguranças no seu Carro). Em uma das principais justificativas dos legisladores de Bruxelas, eles citam um estudo que aponta que 90% dos acidentes são de causa humana e que, portanto, é obrigação dos fabricantes usarem as novas tecnologias a fim de mitigar os riscos.

No Brasil, como sempre, quase tudo é atrasado e arrastado até o limite da sensatez. Não há no momento nenhuma discussão avançada em Brasília no sentido de adotarmos e implantarmos com eficácia legislações como essas de prevenção e de punição. Ao contrário dos motoristas brasileiros que comumente desrespeitam os limites de velocidade, na capital federal a marcha é lenta.

Há no país cases de sucesso como os utilizados em caminhões fora de estrada em grandes mineradoras. Os condutores usam um sistema de monitoramento de fadiga, que lê os movimentos oculares 500 vezes por segundo, identificando com precisão se o motorista não está apto a guiar naquele momento. Estudos demonstram mais de 95% de redução de acidentes nos caminhões que atuam com esse sistema.

O World Sleep 2023 mergulhará no âmago do sono. Mentes brilhantes seguem incessantemente tentando encontrar respostas que, em um futuro próximo, especialmente com o auxílio da Inteligência Artificial, possam contribuir para reduzir os problemas causados por esse estado fisiológico.Tê-lo no Brasil, na capital carioca do samba e do futebol, será uma imensa oportunidade para que os holofotes do Congresso iluminem Brasília e despertem nossos legisladores de uma inexplicável letargia.

*Sidnei Canhedo é Mestre em Saúde Ambiental e Gestor da Optalert, biotech australiana, líder mundial em tecnologia de controle de fadigas.

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