Com um crescimento superior a 50% no mercado de veículos elétricos em 2023, a ABVE destaca o avanço do setor, ainda restrito, mas promissor. Especialistas apontam tanto as vantagens quanto os desafios que podem definir o futuro dos elétricos no país.
O mercado de veículos elétricos no Brasil está em ascensão. O ano de 2023, de acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), foi o melhor para o setor, com um crescimento de mais de 50% em todas as regiões.
A alta no preço da gasolina e a busca por alternativas mais sustentáveis têm incentivado essa transição. Contudo, a participação dos veículos elétricos na frota nacional de mais de 50 milhões de automóveis ainda é modesta, e questões sobre a infraestrutura e o custo permanecem em debate.
Os carros elétricos se destacam por sua contribuição ambiental, uma vez que não emitem gases poluentes durante a condução. Segundo especialistas, essa característica é fundamental para reduzir a poluição atmosférica nas grandes cidades. Contudo, o impacto ambiental não é nulo: a produção de baterias, que utiliza lítio e outros metais, causa danos ao meio ambiente e demanda grandes recursos hídricos e energéticos. A extração de lítio é particularmente controversa, pois sua mineração pode impactar ecossistemas locais e comunidades.
Outro ponto positivo dos elétricos é a redução nos custos de manutenção. Como eles não possuem motor a combustão nem sistema de escapamento, as demandas mecânicas são consideravelmente menores. “Em termos de manutenção, os veículos elétricos apresentam uma grande vantagem sobre os a combustão, pois contam com menos peças móveis e necessitam de menos trocas ao longo do tempo”, explica Wellington Dutra, coordenador do curso de Engenharia Elétrica do Centro Universitário Newton Paiva.
A economia de combustível também é um atrativo significativo. Embora ainda sejam mais caros na compra inicial, os elétricos são bem mais econômicos no dia a dia, especialmente onde há políticas de incentivo para energia renovável. Carros elétricos podem ser recarregados em casa, aproveitando tarifas de energia reduzidas, como as da madrugada. Assim, os custos de rodagem tornam-se bastante competitivos em comparação com os carros a combustão.
Entretanto, a autonomia das baterias ainda é uma barreira para muitos consumidores. A maioria dos modelos disponíveis no Brasil oferece autonomia entre 200 e 500 quilômetros por carga, uma distância que exige planejamento de paradas para recarga em viagens longas. Isso pode ser suficiente para trajetos urbanos, mas limita a praticidade em viagens intermunicipais e interestaduais, onde a recarga rápida nem sempre está disponível.
A infraestrutura de recarga para carros elétricos, embora crescente, ainda é insuficiente. Segundo Dutra, essa rede está concentrada nas principais capitais e cidades desenvolvidas, dificultando o uso de veículos elétricos em regiões mais afastadas e viagens de maior extensão. No entanto, o mercado está ciente dessa demanda e já há iniciativas públicas e privadas em expansão para aumentar a cobertura de pontos de recarga pelo país.
Outro ponto importante é o custo de aquisição. O preço dos veículos elétricos novos ainda é alto devido aos custos de fabricação das baterias e dos sistemas eletrônicos especializados. Mesmo com incentivos fiscais, como a isenção do IPVA para veículos elétricos em alguns estados, a diferença de preço continua a ser uma barreira para grande parte dos consumidores.
“O preço de um veículo elétrico zero quilômetro ainda é mais alto do que o de um veículo a combustão, e a desvalorização na revenda também é maior”, afirma Dutra, ressaltando que o valor elevado pode ser desestimulante para alguns perfis de compradores.
Ainda assim, o Brasil parece estar caminhando para uma mobilidade mais verde. A crescente popularidade dos carros elétricos demonstra que o interesse por alternativas sustentáveis está em expansão, com cada vez mais modelos chegando ao mercado. No entanto, o país ainda depende de incentivos e políticas públicas para apoiar essa transformação e garantir uma transição bem-sucedida.
