A Škoda revela mais uma evolução de seu conceito Enyaq RS Race, uma proposta de SUV cupê elétrico voltado para competições, que foca em desempenho, sustentabilidade e inovação tecnológica. No entanto, por trás do visual agressivo e dos materiais ecológicos, surgem questionamentos sobre a viabilidade real dessa proposta radical no universo do automobilismo.
Apresentado como a face esportiva e sustentável do futuro da marca, o Škoda Enyaq RS Race é baseado no Enyaq Coupé vRS de produção, mas foi transformado profundamente para se alinhar à exigente filosofia do motorsport. Com 316 kg a menos que a versão de rua, o conceito utiliza biocompósitos à base de fibras de linho — material que promete substituir a tradicional e cara fibra de carbono sem comprometer rigidez ou leveza.
Visualmente, o carro impressiona: carroceria 70 mm mais baixa, 72 mm mais larga na frente e 116 mm na traseira, com elementos aerodinâmicos agressivos como difusores, asa traseira de grandes dimensões e tomadas de ar otimizadas. Tudo isso para gerar mais pressão aerodinâmica e estabilidade em altas velocidades. O resultado é um visual de “carro de pista”, mas ainda inserido em uma silhueta SUV – o que, para muitos puristas, pode parecer um contrassenso.
O trem de força permanece igual ao do modelo de produção, com dois motores elétricos totalizando 250 kW (340 cv). A aceleração de 0 a 100 km/h em menos de cinco segundos é um número digno de respeito, mas não surpreende diante de concorrentes eletrificados mais potentes, como os modelos da Tesla ou da Porsche. A velocidade máxima é limitada a 180 km/h — um dado que evidencia a prioridade no torque e tração, mas limita a performance em pistas de alta velocidade.
O interior totalmente transformado adota bancos concha, estrutura tubular de proteção e comandos herdados do Fabia RS Rally2, incluindo volante esportivo e pedal box ajustável. Outro destaque é o sistema de som Havas, com alto-falantes ampliados e tonalidade ajustável, que tenta simular a experiência sonora dos motores a combustão em um ambiente elétrico. Embora curioso, esse recurso remete mais a uma tentativa de resgatar emoções perdidas do que uma real solução técnica.
A principal inovação do Enyaq RS Race está na adoção de materiais sustentáveis como os biocompósitos da Bcomp, com tecnologia PowerRibs™ que oferece rigidez semelhante à fibra de carbono, mas com redução de até 85% nas emissões de CO₂ durante a produção. O uso de impressão 3D com polímeros biodegradáveis e nylon reciclado também reforça a proposta de circularidade do projeto.
No entanto, algumas perguntas persistem: trata-se de um protótipo viável para competição? Ou é apenas um laboratório ambulante de marketing ambiental? O conceito não foi homologado por nenhuma federação de automobilismo até o momento, e não há planos anunciados de participação em categorias reais. A ausência de uma plataforma dedicada à competição limita seu uso a eventos promocionais ou, no máximo, track days corporativos.
A Škoda acerta ao posicionar o Enyaq RS Race como uma vitrine tecnológica, antecipando soluções que podem — e devem — migrar para modelos de rua no futuro. Mas, como proposta esportiva, o conceito ainda está mais próximo de um estudo de design do que de uma máquina pronta para disputar troféus.
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- Biocompósito de linho: material feito a partir de fibras naturais que substituem a fibra de carbono, com menor impacto ambiental.
- PowerRibs™: tecnologia de reforço 3D que aumenta a rigidez estrutural usando fibras naturais.
- Difusor traseiro: elemento aerodinâmico que melhora a estabilidade ao direcionar o fluxo de ar sob o carro.
- Freios de carbono-cerâmica: oferecem maior resistência ao calor e menor peso em comparação com discos convencionais.