A qualidade do combustível é um dos pilares do bom funcionamento e da durabilidade dos automóveis, além de influenciar diretamente na economia do motorista. Em 2024, mais de 643 mil veículos sofreram danos relacionados ao uso de combustíveis adulterados, segundo levantamento do Instituto Combustível Legal (ICL), afetando motoristas em 18 estados brasileiros.
A NTK, marca do grupo japonês Niterra — também responsável pela NGK —, especializada em sistemas de ignição, alerta para os impactos que o uso de gasolina e etanol fora das especificações causa em componentes críticos, como velas de ignição, sensores e injetores. Muitas dessas falhas se manifestam de forma silenciosa e progressiva, o que dificulta a identificação por parte dos motoristas.
Entre os principais problemas detectados, a gasolina de baixa octanagem é um dos vilões mais perigosos. Ela pode provocar a chamada detonação — ou batida de pino —, uma combustão fora de tempo que eleva significativamente a pressão e a temperatura na câmara de combustão, prejudicando o motor e as velas de ignição. Quando aditivada com substâncias como óxido de ferro para simular octanagem elevada, o combustível gera resíduos avermelhados que comprometem sensores de oxigênio, catalisadores e até bombas e injetores.
Outro fator subestimado é a gasolina envelhecida. Muitos motoristas desconhecem que o combustível tem prazo de validade. Mesmo armazenada corretamente, sua eficiência na queima começa a cair após três meses. Isso pode dificultar a partida do motor, gerar falhas de ignição e entupir os injetores com resíduos formados pela degradação dos compostos.
O etanol contaminado também representa um risco expressivo. Embora o etanol hidratado comercializado no Brasil já contenha de 5% a 6% de água em sua composição, o excesso desse contaminante ou a alta acidez afetam diretamente a eficiência da ignição, acelerando a corrosão de bicos injetores, válvulas e câmaras de combustão. Com isso, o desgaste do motor se acelera e os custos de manutenção aumentam consideravelmente.
“Mesmo veículos modernos, com sistemas de proteção e sensores avançados, sofrem com a exposição prolongada a combustíveis de má qualidade”, alerta Hiromori Mori, consultor técnico da Niterra do Brasil. “Esses problemas normalmente se desenvolvem de forma gradual, o que dificulta a percepção imediata do motorista e pode gerar prejuízos maiores no longo prazo.”
Entre os sintomas mais comuns que indicam o uso de combustível adulterado estão: aumento de consumo, dificuldade na partida (especialmente a frio), perda de desempenho em acelerações e o acendimento da luz de injeção no painel. Esses sinais geralmente surgem de maneira sutil e exigem atenção redobrada.
Para evitar esses transtornos, a principal recomendação é abastecer somente em postos de confiança. “Desconfie de preços muito abaixo do mercado. Esse é um alerta importante”, enfatiza Mori. Além disso, é essencial exigir nota fiscal, monitorar a média de consumo do veículo e observar a densidade do combustível durante o abastecimento.
O consumidor também tem o direito de solicitar o teste da bomba no posto e acionar a bandeira do posto caso identifique qualquer irregularidade. No que se refere à tecnologia dos veículos, embora os sensores de oxigênio e de nível de combustível atuem como barreiras protetoras, o uso contínuo de combustíveis fora dos padrões pode reduzir significativamente a vida útil desses componentes.
A prevenção começa no abastecimento. Escolhas conscientes protegem o motor, reduzem custos e preservam o desempenho do seu veículo.
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Octanagem – Refere-se à resistência do combustível à detonação (combustão fora de tempo). Quanto maior a octanagem, melhor a performance e proteção do motor.
Sensor de oxigênio – Mede a quantidade de oxigênio nos gases de escape para regular a mistura ar-combustível, essencial para o controle de emissões e consumo.
Velas de ignição – Responsáveis por gerar a centelha que inicia a combustão da mistura ar-combustível no motor a gasolina, etanol ou flex.
Injetores – Componentes que pulverizam o combustível na câmara de combustão. Sua eficiência depende da pureza do combustível.