Por Lucia Camargo Nunes*
A saída de linha de um carro sempre tem seus motivos, e eles podem ser diversos.
Desde uma opção estratégica da fabricante, para dar espaço na linha de produção a outro modelo que vende mais; ou no caso de ser importado, aquele modelo passou a custar mais (impostos, desvalorização cambial) e até por baixos volumes, o que nem sempre as montadoras admitem.
Seja lá qual for o motivo, o consumidor não gostará. Ele, que investiu muito num bem de alto valor agregado, vai se preocupar com a desvalorização e uma possível dificuldade de manutenção depois de um tempo.
Nem todos os modelos que saem de linha perdem valor, até porque nosso mercado de seminovos vive uma fase aquecida.
Onix Joy, V-Drive e WR-V – O desconforto, felizmente, atinge apenas parte desses consumidores desalentados. Isso porque carros de maior volume ficam mais protegidos pelas forças do mercado. E sair de linha pode afetar menos seu bolso.
Neste cesto, podemos incluir os Chevrolet Onix Joy e Joy Plus (2019-2021), que deixaram de ser produzidos porque não atenderiam às novas normas de emissões.
Ambos compartilham componentes do veículo mais vendido por anos no país, o Onix, e certamente são modelos bem aceitos no segmento de usados.
Outro veículo que teve um bom volume de vendas e conviveu com sua nova geração por um ano foi o V-Drive, da Nissan (2020-2021).
Ele era o antigo Versa que mudou de nome. Por motivos de mercado, pandemia, etc. a Nissan o tirou de linha (era feito em Resende – RJ) e preferiu concentrar esforços da planta no SUV Kicks.
Por suas qualidades em relação a espaço, principalmente, é um modelo muito procurado por motoristas de aplicativo.
Sua saída do mercado, embora precoce, não deve abalar seu bom custo-benefício.
Os carros da marca japonesa Honda estão sempre entre os mais bem cotados no quesito “baixa desvalorização”.
A maioria dos modelos produzidos no Brasil tem ótima aceitação entre os usados. Por isso, a saída de cena do WR-V (2017-2021) não deve afetar sua reputação.
Quem pode se dar mal – Mas há modelos de menor volume e de marcas menos consagradas que podem representar a temida dupla “desvalorização + dificuldade em achar componentes” para seus atuais e futuros proprietários.
Um dos casos mais emblemáticos é o Caoa Chery Tiggo 3x (2021-2022). Com menos de um ano de mercado, começava a despertar o interesse dos consumidores até porque passou a ser o modelo de entrada da marca – o Tiggo 2 havia saído de linha na virada do ano por não atender às novas normas de emissões.
O Tiggo 3x deixou de ser produzido por causa do fechamento da fábrica de Jacareí (SP), que passará por readequações e só está prevista de reabrir em 2025.
Com pouco mais de 8 mil unidades vendidas nesse curto tempo de mercado, é um carro que pode dar mais trabalho na revenda e na futura manutenção.
Híbrido de vida curta – O mesmo pode ocorrer com o Volvo XC40 Hybrid (2020-2021), que foi substituído pelo modelo elétrico.
Apesar do discurso da importadora ter sido na linha da “evolução” e estratégia de eletrificação, sabe-se que o híbrido não atenderia às novas normas de emissões e o investimento em uma redequação não valeria a pena.
Mas o pouquíssimo tempo de vida pode preocupar quem procure fazer reparos quando o carro já tiver um certo tempo de mercado.
Hatch vindo do México: baixo volume – Por fim, outro mal-aventurado é o mexicano Kia Rio (2019-2021), com menos de 2 anos no mercado.
Certamente a pandemia e a disparada do dólar foram os principais motivos pela sua saída, mas não é a primeira vez que a Kia decepciona seus consumidores.
Por ser menos conhecido, o hatch, que teve parcas 539 unidades vendidas, vai ser um carro para poucos no segmento de usados. E sempre vai pairar uma dúvida em relação à sua manutenção e oferta de peças.
*Lucia Camargo Nunes é economista e jornalista especializada no setor automotivo. E-mail: lucia@viadigital.com.br