Em um evento que uniu a indústria, a academia e o governo, os debates sobre a descarbonização e o futuro do transporte se aprofundaram em tecnologias e estratégias adaptadas à realidade brasileira. Mas, como as propostas apresentadas no SIMEA 2025 podem posicionar o país como líder global na transição energética?
A 32ª edição do SIMEA – Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva, promovido pela AEA – Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, confirmou que a transição para uma mobilidade mais sustentável no Brasil não seguirá um caminho único. A abertura do evento contou com falas de líderes como Marcus Vinicius Aguiar, presidente da AEA, e Ricardo Gondo, que ressaltaram a importância da engenharia local para o cumprimento das metas globais de sustentabilidade, reconhecendo a necessidade de múltiplas soluções tecnológicas adaptadas à realidade nacional. O Mecânica Online foi Media Partner do evento.
Uma das discussões centrais do simpósio foi sobre as políticas públicas já em vigor. Thaianne Resende, diretora do Ministério do Meio Ambiente, apresentou o sucesso dos programas PROCONVE e PROMOT, instrumentos do PRONAR – Programa de Qualidade do Ar. Graças a eles, um carro de 1986 polui o equivalente a 136 veículos atuais, com uma redução drástica nas emissões de monóxido de carbono, hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio, mesmo com o aumento da frota nacional.
A agenda de descarbonização do transporte foi detalhada por Fernanda Rezende, da CNT – Confederação Nacional de Transporte, que defendeu uma ação coordenada em três frentes. A primeira é a transição energética, com a diversificação de fontes como biometano, hidrogênio renovável, eletromobilidade e diesel verde. Ela ressaltou que cada alternativa tem vantagens e desafios de autonomia e infraestrutura. A segunda é a infraestrutura logística, um ponto crítico no Brasil, onde 64,85% das cargas são transportadas por rodovias e a maioria não é pavimentada. Essa deficiência gera um desperdício enorme de combustível e milhões de toneladas de CO₂ adicionais por ano.
Na parte da tarde, as discussões se voltaram para as inovações tecnológicas. Fabio Ferreira, da Bosch, detalhou as megatendências que guiam a indústria: a eletrificação, a direção automatizada e a experiência digital do usuário. Segundo ele, o desenvolvimento automotivo está se movendo para uma arquitetura centralizada, onde os carros se tornam veículos definidos por software (SDV), com sistemas que podem ser atualizados remotamente, exigindo uma infraestrutura de tecnologia mais integrada e flexível.
Outro ponto de destaque foi a apresentação de Roberto David Mendes da Silva, da Petrobras, sobre a nova estratégia de combustíveis de baixo carbono. A empresa está diversificando seu portfólio para incluir produtos como o Diesel R, que possui 5% de conteúdo renovável, e a Gasolina Podium carbono neutro, que compensa as emissões de sua produção. Essa iniciativa mostra o alinhamento da maior empresa de energia do país com as demandas por um futuro mais verde.
O segundo dia do evento trouxe um foco ainda maior na integração de tecnologias. Paula Aluani, do Google/Waze, demonstrou como a inteligência artificial pode otimizar a mobilidade urbana com soluções como o Greenlight, que ajusta semáforos em tempo real para reduzir congestionamentos, e o Environment Insight Explorer, que mapeia a qualidade do ar nas cidades. Essas ferramentas digitais ajudam os gestores a tomar decisões baseadas em dados precisos, impactando diretamente a saúde pública e a eficiência do trânsito.
O consultor Rodnei Bernardino introduziu quatro vetores que moldam a nova mobilidade: eletrificação, conectividade, autonomia e compartilhamento. Ele destacou a mudança no comportamento do consumidor, que passa a valorizar mais o acesso em vez da posse do veículo, o que impulsiona modelos de negócio como o carro por assinatura e o compartilhamento de carros. Essa nova realidade abre espaço para a personalização de serviços financeiros e seguros baseados em telemetria e análise de dados.
Para fechar o simpósio, o painel “Das pistas para as ruas” trouxe automobilistas como Lucas Di Grassi e Chico Serra para discutir como a tecnologia desenvolvida em competições como a Fórmula E e o rally é transferida para os veículos comerciais. A eficiência de motores elétricos, a durabilidade de componentes e o avanço em baterias e softwares de controle são exemplos de inovações que nascem nas pistas para depois serem aplicadas em carros de produção, acelerando a evolução da tecnologia veicular.
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Descarbonização – É o processo de reduzir a emissão de carbono (principalmente dióxido de carbono – CO₂) na atmosfera. No setor automotivo, isso envolve o uso de tecnologias e combustíveis que gerem menos poluentes, como veículos elétricos, híbridos e a etanol, para combater as mudanças climáticas.
Motores a biocombustíveis – São motores que funcionam com combustíveis de origem biológica, como o etanol e o biometano, produzidos a partir de plantas. Esses combustíveis são considerados mais sustentáveis porque o CO₂ emitido em sua queima é compensado pela absorção de carbono pelas plantas durante seu crescimento.
Inteligência Artificial (IA) – É um campo da ciência da computação focado na criação de sistemas que podem realizar tarefas que normalmente exigiriam inteligência humana. Na indústria automotiva, a IA é usada em tecnologias como o Greenlight (para otimizar o trânsito), veículos autônomos e sistemas de infoentretenimento personalizados.
Veículos Definidos por Software – São carros que têm suas funções e desempenho controlados em grande parte por programas de computador (software) em vez de apenas componentes mecânicos. Isso permite que o carro receba atualizações remotas (como um smartphone), adicionando novas funcionalidades ou melhorando as existentes sem precisar ir à concessionária.