Os resultados preliminares da avaliação do biocombustível Be8 BeVant em caminhões e ônibus da Mercedes-Benz, equipados com a tecnologia BlueTec 6, indicam uma performance semelhante ao diesel B15 em potência e consumo, mas com uma drástica redução de emissões. A solução de curto prazo para a descarbonização do transporte pesado brasileiro está mais perto da realidade?
A iniciativa, denominada “Rota Sustentável COP 30”, foi uma parceria estratégica para coletar dados expressivos sobre a viabilidade do uso do biocombustível 100% (B100) em motores de última geração. O percurso de mais de 4 mil quilômetros por estradas brasileiras, conectando o Sul e o Norte do país, teve como objetivo principal a comparação dos níveis de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) em condições reais de operação.
Os testes foram conduzidos em caráter experimental, utilizando dois caminhões Actros Evolution 2553 6×2 e dois ônibus O 500 RSDD 8×2, todos equipados com motores Euro 6 e a tecnologia BlueTec 6 da Mercedes-Benz. A comparação foi feita entre os veículos abastecidos com o diesel comercial B15 e com o biocombustível puro, o Be8 BeVant.
As medições foram realizadas pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), que aplicou protocolos técnicos rigorosos, transparentes e auditáveis, garantindo a credibilidade dos resultados. O Mecânica Online® informa que o Instituto Mauá de Tecnologia é referência nacional em ensino e pesquisa científica no setor.
Os dados preliminares mais impactantes referem-se à avaliação do ciclo “tanque à roda”, que considera apenas as emissões geradas pelo veículo durante o uso. Neste conceito, o biocombustível demonstrou uma redução de aproximadamente 99% nas emissões de GEE.
Essa redução significativa ocorre porque o biocombustível é produzido a partir de fontes renováveis, como o óleo de soja, que já absorveu o CO2e da atmosfera durante o cultivo. Em outras palavras, a emissão do veículo ao rodar é quase totalmente compensada pelo gás carbônico que a planta retirou do ar para crescer.
Analisando o ciclo completo, do “poço à roda”, que inclui todo o processo desde a produção do combustível até o uso, os dados preliminares apontaram uma redução de cerca de 65% nas emissões de CO2e.
Luiz Carlos Moraes, diretor de Comunicação e Relações Institucionais da Mercedes-Benz do Brasil, explica que a redução de 65% no ciclo completo não é maior porque o Brasil já utiliza o B15 (diesel com 15% de biodiesel) como combustível comercial.
O executivo ressalta o potencial da solução: o veículo abastecido com Be8 BeVant deixará de emitir aproximadamente 532 toneladas de CO2e se rodar os 700 mil quilômetros previstos pela norma Proconve P8 (Euro 6).
O projeto é visto pelas empresas como uma solução imediata para a descarbonização do transporte de cargas e passageiros. Camilo Adas, Diretor de Transição Energética e Relações Institucionais da Be8, afirma que o objetivo de demonstrar o Be8 BeVant como solução acessível para o agora foi plenamente atingido.
Erasmo Carlos Battistella, Presidente da Be8, confirmou que o desempenho dos veículos com o BeVant foi semelhante em consumo e potência, com a grande vantagem das emissões menores.
Os motores utilizados nos testes incluem o OM 471 de 550 cavalos, o mais potente da marca no Brasil, presente no caminhão Actros Evolution 2553 6×2, e o OM 460 de 380 cavalos do ônibus rodoviário O 500 RSDD 8×2.
A metodologia de cálculo de emissões utilizou parâmetros técnicos robustos e seguiu padrões internacionais, como o Protocolo GHG e a ISO 14064, além de utilizar dados certificados por programas como o RenovaBio e o ISCC (International Sustainability and Carbon Certification).
Os veículos da caravana foram expostos no estande da Be8 na Green Zone da COP30, em Belém, com o objetivo de apresentar essa solução a autoridades, especialistas e mídia internacional. O evento acontece entre os dias 10 e 21 de novembro.
Renato Romio, do Instituto Mauá de Tecnologia, reforçou que a participação do Instituto assegura a credibilidade dos resultados, baseada em medições comparativas em condições reais de uso.
A iniciativa reafirma o compromisso da Daimler Truck e da Mercedes-Benz do Brasil com a sustentabilidade ambiental, buscando a neutralidade de CO2 em seus produtos e operações, alinhados aos princípios do Acordo de Paris.
A Mercedes-Benz está em fase de testes e validações para garantir a segurança e a regulamentação do uso comercial do Be8 BeVant, oferecendo suporte técnico e monitoramento para frotistas com motorização BlueTec 6 que demonstrem interesse.
Embora os veículos da marca estejam autorizados a usar até B20, a montadora continua avaliando testes até o B100 em condições experimentais autorizadas pela ANP, mas não recomenda o uso de biocombustível 100% sem o acompanhamento de suas equipes.
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Euro 6 – É a norma de controle de emissões de poluentes mais recente e rigorosa para veículos comerciais no Brasil (equivalente ao Proconve P8), exigindo tecnologias avançadas para reduzir gases nocivos.
BlueTec 6 – Tecnologia desenvolvida pela Mercedes-Benz para atender às normas Euro 6/Proconve P8. Utiliza um sistema de Redução Catalítica Seletiva (SCR) com Arla 32 para converter óxidos de nitrogênio (NOx) em substâncias inofensivas, reduzindo as emissões.
Ciclo “Tanque à Roda” – Análise que considera apenas as emissões geradas pelo veículo no momento em que ele está rodando. O biocombustível tem grande vantagem aqui por ter compensado o CO2e durante o cultivo da matéria-prima.
Ciclo “Poço à Roda” – Análise mais completa que contabiliza as emissões desde a produção do combustível (extração ou cultivo, processamento, transporte) até o uso final no veículo, sendo o método mais preciso para medir o impacto ambiental total.
CO2e (CO2 equivalente) – É uma unidade de medida padronizada usada para calcular e comparar as emissões de diferentes Gases de Efeito Estufa (como metano, óxido nitroso, etc.) em relação ao dióxido de carbono (CO2).
