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Quando o estepe é motivo de preocupação

De boas intenções, o inferno está cheio. O provérbio pode se aplicar ao engenheiro que primeiro teve a idéia de montar um estepe sob o fundo do carro, prática cada vez mais difundida na indústria automobilística. Teoricamente, isso ajudaria o motorista:

— Carros como a Palio Weekend foram pensados para quem anda sempre com o porta-malas cheio. O estepe montado externamente, sob o assoalho, evita que se tenha que tirar a bagagem se, eventualmente, um pneu furar na estrada — defende o assessor técnico da Fiat, Carlos Henrique Ferreira.

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Ganho de espaço? Não há. A única vantagem é mesmo facilitar a retirada do sobressalente quando o automóvel está carregado. Seria perfeito, não fosse a sanha de ladrões pé-de-chinelo que têm reforçado o caixa roubando estepes.

No caso da Weekend, basta entrar sob o carro, forçar uma frágil trava e levar o pneu. O dono, quase sempre, só descobre quando está numa situação de emergência.

O técnico em informática Ronaldo Barros, por exemplo, estava na Linha Vermelha quando um pneu de sua Weekend furou. Como não achou o sobressalente, Ronaldo, teve que continuar rodando com o aro no chão, devagarinho, até descer a rampa de acesso ao Campo de São Cristóvão.

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Um amigo foi convocado para ajudar. O embaraço durou das 18h às 21h e rendeu uma mania: agora Ronaldo sempre olha sob o carro quando vai sair de casa.

— Enquanto eu estava parado, um flanelinha disse que casos assim, envolvendo a Palio Weekend, são freqüentes — diz o técnico em informática.

E devem ser mesmo, tanto que já acarretaram até uma ação na Justiça contra a Fiat. No fim do ano passado, a montadora teve que pagar R$ 142,27, por danos materiais, ao consumidor Alexandre Almeida de Moraes, que teve o estepe roubado. A juíza Flávia Capanema, que cuidou do caso, chegou a ir a uma concessionária e viu como é simples violar a trava do pneu.

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“O erro de projeto se verifica, não só da facilidade com que se opera a subtração, mas do fato de que uma vez efetuada esta, é impossível ao consumidor perceber a ausência do estepe”, diz o veredicto.

Existem ainda fábricas que descobriram o filão e estão fazendo reforços de aço especiais para a trava da Palio Weekend. O dispositivo é fácil de ser instalado e custa cerca de R$ 40 em lojas de acessórios.

— A tranca não é inexpugnável, mas com certeza dificulta muito o trabalho do ladrão — diz José Amaral, da Dujan, que produz o antifurto. Amaral afirma que até algumas concessionárias da Fiat já estão vendendo o equipamento.

Mas a Palio Weekend não é a única a ser criticada. Sobressalentes expostos sob o fundo do carro sempre foram comuns também nos modelos de origem francesa. Nos Dauphine e Gordini, por exemplo, o estepe ia numa espécie de gaveta que ficava em baixo do porta-malas (que era na frente do carro). Muitas vezes, pouco tempo após trocar um pneu, a gavetinha se abria com o carro andando.

Hoje, donos de automóveis franceses continuam reclamando. O projetista João Carlos de Carvalho Silva teve um estepe roubado quando seu Peugeot 206 tinha menos de 2.500 quilômetros rodados.

— Na concessionária, me disseram que era o quarto 206 que entrava lá com o mesmo problema — conta João Carlos.

Olhando o suporte, ele ficou espantado:

— Nem precisa ter má índole para ver como se destrava o estepe. A proteção pode funcionar na Europa, mas é inadequada para o Brasil — afirma.

Além dos roubos há outros inconvenientes. O sobressalente fica, quase sempre, sujo de lama, óleo e poeira, provocando uma lambança na hora da troca. Além disso, calibrar o estepe passa a exigir tempo e paciência. Resultado: muita gente deixa de verificar se o estepe está cheio.

— No posto, o frentista tomou uma surra, foi obrigado a deitar-se no chão e gastou 15 minutos para descer o estepe e conseguir encaixá-lo de volta — diz a professora Maria Alice Curvello, dona de um Fiesta, carro em que o sobressalente vai preso a uma chapa inteiriça sob o fundo do porta-malas.

Maria Alice teme que um pneu fure:
— Imagine, num dia de chuva, ter que deitar no chão e fazer um esforço danado para tirar o estepe que fica embaixo do carro. Já fui proprietária de carros com o estepe dentro do porta-malas e nunca tive qualquer tipo de problema — diz ela.

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