Álcool e gás natural veicular enfrentam situações distintas como alternativas à gasolina no Brasil
Uma reviravolta está acontecendo nas bombas de combustíveis dos postos do país. Duas opções alternativas à gasolina como combustível para carros de passeio passam por caminhos distintos na briga para ganhar os motoristas.
O álcool já foi um rival de peso para a gasolina – nos anos 80, chegou a ser o combustível de mais de 90% da produção de automóveis brasileira -, mas agora está em queda.
Já o gás natural veicular, ou GNV, está em franco desenvolvimento desde 1996, quando foi permitido o uso para carros particulares. Antes, desde 1986, só podiam usar o GNV ônibus e veículos de frota.
Em 1995, foram comercializados no país 99 milhões de litros de álcool combustível e 42,1 milhões de m³ de GNV.
Já no ano passado, as vendas de álcool somaram 58 milhões de litros, uma queda de 41,4%, e as de gás veicular atingiram 86,4 milhões de m³, um crescimento de 105,2%.
E a expectativa do setor para os dois combustíveis enfatiza os rumos opostos que eles seguem. “No ritmo atual e com a falta de uma ação do Governo contra os usineiros, em 2005 o álcool não será mais viável.
Já o GNV crescerá rapidamente”, alerta Alisio Mendes Vaz, diretor do Sindicom, sindicato dos distribuidores de combustíveis.
O principal fator para esta situação é o preço nos postos. Como o preço da gasolina já atinge a elevada média de R$ 1,65 por litro, a busca por opções mais baratas para abastecer o carro passa a ser uma constante entre os motoristas.
Com isso, a venda de veículos movidos a álcool até saiu do patamar de 1 mil unidades anuais de 1997 e 1998 e, no ano passado, “saltou” para 10 mil unidades. O setor começou o ano 2000 em ritmo elevado, mas os recentes aumentos de preços – que hoje está em torno de inconcebíveis R$ 1,25 – já fizeram a média cair de mil unidades mensais, no início do ano, para irrisórios 450 por mês.
Já o módico preço de R$ 0,65 do m³ do GNV faz o combustível atrair cada vez mais os motoristas. Atualmente, a Volkswagen é a única montadora que vende carros com kit de conversão para gás, mas 130 oficinas em todo o país têm autorização do Inmetro para instalar kits em veículos de qualquer marca.
O kit, que deixa o carro bicombustível, custa em média R$ 2 mil. Além da vantagem do preço, um carro roda mais com um m³ de gás do que com um litro de álcool ou gasolina. “Em média, um veículo anda até 30% mais com um metro cúbico de gás do que com um litro de gasolina e até 50% mais que com um litro de álcool”, afirma Cleonardo Fonseca, gerente de gás veicular da BR.
Por exemplo, o Gol 1.6, segundo a Volkswagen, tem consumo urbano de gasolina de 11,5 km/l, de 8,4 km/l de álcool ou de 14,3 km/m³ de GNV. Isso faz o quilômetro rodado pela versão a gasolina custar R$ 0,134 e a álcool, R$ 0,148. Já o Gol movido a GNV percorre um quilômetro por R$ 0,045 – em média, um terço do valor gasto com o mesmo carro a gasolina. Em relação ao álcool, a economia do carro a gás é de R$ 0,103 por quilômetro.
Com isso, para pagar o gasto de R$ 2 mil pelo kit de conversão, o motorista tem de rodar 19.417 km ou 53,2 km por dia durante um ano. “Antigamente, era necessário rodar mais de 100 km diariamente para compensar a conversão. Com o aumento do preço da gasolina e do álcool, a média caiu muito”, comemora Daniel Bermudo, engenheiro da Silex, empresa que fornece os kits de GNV para a Volks.
Na disputa com o álcool, o GNV ainda leva vantagem no quesito emissões de poluentes. Devido à crescente tecnologia de controle de emissões nos motores, o álcool praticamente não apresenta mais vantagem sobre a gasolina. “Já o GNV emite 70% menos monóxido de carbono e 50% menos óxido de nitrogênio que a gasolina”, explica Carlos Henrique Ferreira, consultor técnico da Fiat.
O GNV polui menos, mas faz o propulsor perder cerca de 15% de potência em relação à gasolina, enquanto o a álcool é, em média, 10% mais potente.
Já achar o GNV para abastecimento é um missão quase impossível. Atualmente, há apenas 86 postos com o combustível gasoso no país, todos nas regiões Sudeste e Nordeste. Até o final do ano, o número de postos deve subir para 200 e as grandes cidades da região Sul também passarão a ter GNV.
Mas, mesmo assim, as distribuidoras estão confiantes na expansão do gás veicular. “Hoje temos uma frota de 60 mil carros à gás no país. Em 2005, esperamos ter 1 milhão de veículos”, afirma confiante Cleonardo Fonseca, gerente da BR. O país com a maior frota a gás do mundo, a Argentina, possui 450 mil veículos rodando com o combustível.