Motores equipados com injeção eletrônica não terãodesempenho comprometido, garantem os especialistas
Volta e meia, a gasolina ganha espaço de destaque nos principais veículos da imprensa nacional. O governo federal autoriza um aumento do percentual de mistura de álcool anidro no combustível, que salta de 22% para 24%.
A decisão foi tomada em reunião do Conselho Ministerial do Açúcar e do Álcool (Cima), órgão formado por 12 ministérios e responsável por todo assunto relacionado aos dois produtos.
De acordo com o coordenador geral do Ministério da Agricultura, Cid Caldas, a medida não agride o decreto federal que estipula o grau máximo de mistura exatamente em 24%.
Caldas explica que o acréscimo de 2% da substância à gasolina visa recuperar a cotação de açúcar no mercado externo, diminuindo sua produção.
Além de possibilitar que o escoamento da safra de cana deste ano, que cresceu 20% em relação ao mesmo período de 2001, seja utilizado para a fabricação de álcool. Em suma, a velha lei da oferta e procura associada ao forte lobby dos usineiros.
Porém, a notícia causou alvoroço no universo automotivo.
Isso porque existe temor por parte de montadoras, revendedores, associações ligadas ao setor e consumidores, devido a especulações sobre a possibilidade de que o aumento de álcool anidro no combustível prejudique o desempenho dos veículos .
“Para os proprietários e fabricantes de automóveis, a medida não altera nada e ainda melhora os atuais níveis de emissão de poluentes”, garante Caldas.
Sua afirmação encontra eco entre técnicos da área. “É verdade que o álcool polui menos o meio ambiente do que a gasolina”, confirma o engenheiro mecânico especializado em tecnologia automotiva, Gilson Dantas.
Ele explica também que boa parte dos carros atuais equipados com injeção eletrônica, dotados de módulos de leitura inteligentes, é produzida para se adaptar a essas modificações.
Quase todas as peças recebem, inclusive, tratamento anticorrosão, principalmente nos sistemas de alimentação, conjunto de componentes que possuem maior contato com a mistura.
Para o assessor técnico da Fiat, Carlos Henrique Ferreira, as alterações no rendimento dos carros da marca não foram substanciais.
“Fizemos testes em todos os nossos modelos e chegamos à conclusão de que até o limite estipulado de 24% não tem problema algum no motor”, atesta Ferreira. Já o diretor executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas e Bicicletas (Abraciclo), Franklin de Mello Neto, é mais cauteloso: “Existe um grau de tolerância que os veículos de duas rodas podem suportar. O que preocupa são as mudanças constantes, pois as motos saem de fábrica com carburação regulada”.
Dantas alerta que, embora os consumidores não devam se preocupar tanto com o motor, é preciso estar atento para algumas pequenas transformações.
O especialista chama a atenção para um leve aumento do consumo, pois o álcool tem menor poder calorífico do que a gasolina.
“Agora, será necessário um pouco mais de combustível para gerar a mesma energia. Por conta disso, o carro perderá também um pouco da potência”.
“Se existem problemas de fato, esses se referem aos carros mais antigos, que ainda são carburados e terão de se adaptar aos novos percentuais”, conclui.
“Batizada” é mais prejudicial-O aumento de dois pontos percentuais da mistura de álcool anidro à gasolina não deve surtir efeito negativo em larga escala ao bolso do consumidor e ao desempenho do motor do veículo.
Contudo, o que ainda prejudica os proprietários é a adulteração criminosa do combustível, mais conhecida como “batismo”, que pode causar sérios danos ao desempenho dos automóveis.
A gasolina é “batizada” geralmente com solventes industriais. Os sinais de combustível fraudado com esse tipo de produto não são tão difíceis de se perceber.
O primeiro indício é a dificuldade em dar partida no carro pela manhã quando o motor começa a falhar, o popular “engulho”.
À medida que o propulsor esquenta, esses sintomas vão desaparecendo gradativamente, causando a sensação de que o defeito é temporário.
Porém, basta uma olhada do mecânico para se detectar o causador desse problema, observado através do forte cheiro dos solventes aliado ao fraco desempenho dos carros abastecidos com a mistura.
Sem contar o prejuízo ao sistema de alimentação, principal equipamento a sentir as conseqüências do uso de gasolina adulterada.
Outro produto muito comum presente neste tipo de fraude é o álcool utilizado em proporções bem maiores do que a estabelecida pela legislação.
Nesse caso, pode ocorrer corrosão em diversas partes do automóvel, perda de potência e torque e aumento exagerado de consumo.
Para constatar o “batismo”, é preciso apenas retirar uma pequena quantidade de combustível do tanque, coloca-lo em um recipiente com água e esperar para ver a reação.
Caso a combinação adquira coloração esbranquiçada, o melhor a fazer é esvaziar o reservatório, fugir do local onde o carro foi abastecido e procurar um posto confiável.
Jairo Costa Júnior – Correio da Bahia