Um carro com design futurista que consome apenas um litro de gasolina para rodar 480 quilômetros: assim poderia ser descrito o veículo brasileiro que participou da 18a Shell Éco-Marathon, realizada nos dias 31 de maio e 1o de junho no circuito de fórmula-1 Paul Armagnac, em Nogaro (França).
A competição, que ocorre anualmente e reúne equipes de todo o mundo, tem por objetivo avaliar carros mais econômicos e menos poluentes que usam combustíveis derivados de petróleo.
O grupo brasileiro, formado por professores e alunos da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) e da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg), era o único representante da América Latina em 2002.
O veículo mineiro, batizado de Sabiá 4, foi considerado o carro de melhor design.
Se comparado aos carros tradicionais, que às vezes rodam menos de dez quilômetros com um litro de combustível, o veículo da equipe mineira apresenta excelente desempenho.
Para economizar gasolina, o Sabiá 4 foi equipado com um computador que ajuda o piloto a dirigir o veículo de modo mais econômico. A máquina orienta o motorista, por exemplo, sobre a rotação ideal do motor em cada situação.
Ela também pode tomar certas medidas para evitar o desperdício de combustível sem consultar o piloto: se o carro desce uma ladeira íngreme, o computador desliga o motor e só volta a ligá-lo quando a velocidade estiver abaixo de um dado limite.
O bom desempenho do veículo também está associado ao tipo de motor e aos materiais usados em sua construção.
O carro de cada uma das 180 equipes participantes da 18a Shell Éco-Marathon deveria, em quatro tentativas, dar até seis voltas no circuito, enquanto computadores na pista registrariam seu desempenho.
O veículo vencedor, criado por um grupo da Universidade de Toulouse (França), estabeleceu o novo recorde mundial: é capaz de percorrer 3492 quilômetros com um litro de gasolina.
Embora o desempenho do carro brasileiro tenha sido muito bom, ele foi bem inferior ao do primeiro colocado.
Segundo Laércio Caldeira, professor da Unifei e um dos coordenadores da equipe mineira, isso se deve ao pouco patrocínio conseguido pelo grupo: enquanto algumas equipes estrangeiras chegaram a gastar US$ 250 mil na construção de seu veículo, a brasileira usou menos de R$ 25 mil.
“Muitos grupos estrangeiros contavam com motores cerâmicos, que têm desempenho surpreendente”, diz.
“Além disso, seus carros pesavam 30 ou 40 quilos, pois as carrocerias eram feitas de materiais leves, como fibra de carbono ou policarbonato.”
A equipe mineira construiu um veículo de 83 quilos que usava motor convencional e tinha carroceria de fibra de vidro.
“Como não tínhamos condições de investir no desempenho, decidimos apostar em um design arrojado e diferente”, afirma Caldeira.
Foi uma boa opção: o Sabiá 4 foi considerado o carro mais bonito da competição.
Porém, os pesquisadores, que contam com o apoio do CNPq, pretendem desenvolver um veículo com melhor desempenho para os próximos torneios.
Fernanda Marques – Ciência Hoje on-line