Aeromoça aposentada constrói alisadora automática de roupas que deve substituir o tradicional ferro de passar, inventado há mais de 400 anos.
No futuro, as próximas gerações estudarão nos livros de história que a invenção da máquina de passar roupa é de uma brasileira. O equipamento, que promete livrar as donas-de-casa de uma das tarefas do lar mais estressantes e chatas, economiza 65% no consumo de energia em relação ao método comum.
Conhecida no meio cientifico como Alisadora Automática de Roupas, o equipamento foi desenvolvido pela Coll Projetos Engenharia e Tecnologia Ltda, empresa incubada no Cietec – Centro Incubador de Empresas Tecnológicas, situado na Cidade Universitária (USP).
A patente de invenção do equipamento já foi obtida pela aeromoça aposentada e arquiteta Célia Jaber de Oliveira e é válida por 20 anos. Depois de 18 anos de trabalho como comissária de bordo, Célia, que costumava desamassar roupas no vapor quente do chuveiro de hotel, decidiu junto com o irmão construir a primeira alisadora de roupa automática a vapor do mundo.
O produto ainda está em fase de teste, mas o objetivo de seus inventores é de, tão logo fique pronto, tornar o produto popular.
Como nasceu a idéia
Certa vez, a aeromoça percebeu que as roupas penduradas no banheiro, enquanto o chuveiro estava ligado e as portas fechadas, podiam ser desamassadas com o vapor quente que saía da ducha. A partir daí Célia apostou na possibilidade de criar uma máquina de passar roupas que não dependesse do trabalho humano.
A idéia começou em 1995 num exemplo de como soluções caseiras também podem dar origem a inovações tecnológicas.
A meta era desenvolver um equipamento que pudesse ser uma alternativa mais prática para a tarefa de passar peças de roupas e surgiu da necessidade da aeromoça de nas viagens utilizar roupas alinhadas.
“Fizemos os primeiros protótipos em casa, com plástico e alumínio, usando um gerador de vapor para saunas residenciais”, conta Célia.
“Funcionou tão bem que as amigas e vizinhas queriam passar roupa na minha casa”. O protótipo da Alisadora Automática de Roupas é do tamanho de uma geladeira, com capacidade para 12 peças de roupa.
A máquina consiste em submeter as roupas a um fluxo contínuo de vapor saturado, de modo a obter o relaxamento e o alívio das tensões das fibras do tecido. A segunda etapa é a secagem por convecção forçada, com o objetivo de manter a microgeometria das fibras obtida no ciclo anterior.
O tempo de alisamento é de 35 a 40 minutos. A empresária estima que a versão comercial do produto, quando chegar ao mercado, custará entre R$ 600 e R$ 1.200.
Uma pesquisa realizada com 200 mulheres, de 25 a 50 anos, pertencentes às classes A, B e C foi realizada com o intuito de verificar a necessidade e aceitação de uma máquina com esta função. Os dados obtidos foram surpreendentes, pois a idéia de livra-se da tarefa de passar roupas e poupar tempo foi muito bem aceita.
Os dados mostraram que a tarefa passar roupas é considerada a mais desagradável; 55% das entrevistadas passam roupas pessoalmente, sendo que na classe C esta proporção sobe para 79%; 97% demonstraram reação positiva na aceitação do produto; e 84% das mulheres provavelmente comprariam o produto de imediato.
Ferro de passar atual foi inventado há 400 anos
Para Célia, “na atividade doméstica, o trabalho de passar roupas ainda exige tempo, esforço físico e manuseio constante do usuário, sendo considerada uma das tarefas mais desagradáveis e cansativas pela maioria da população”.
Todos os eletrodomésticos modernos são automáticos, mas o ferro de passar foi inventado há 400 anos e não evoluiu quase nada. “Só mudou do carvão para a tomada”.
Segundo a inventora, o desenvolvimento de um produto de baixo consumo de energia elétrica, totalmente automatizado, com uma mudança na forma e no método de passar roupas, minimizando o tempo e o esforço do usuário, preenche uma lacuna existente no mercado e supre a necessidade da maioria da população. A empresária pretende negociar com empresas interessadas em fabricar o produto.
INVENÇÃO É UM DOS PROJETOS INCUBADOS NO CIETEC
A máquina é um dos destaques da lista de 160 produtos em desenvolvimento nos laboratórios do Cietec. A incubadora tem como objetivo oferecer supor técnico e gerencial necessário para que idéias como a de Célia possam se transformar em fonte de lucro. Graças a este apoio a Coll Projetos começou a se estruturar como empresa.
“As incubadas têm de trabalhar pelos próprios recursos, mas ganham acesso a toda infra-estrutura de pesquisa da USP, do IPT e do IPEN, além de assessoria de marketing e jurídica do Cietec”, explica Sergio Risola, gestor executivo do Cietec.
A alisadora de roupas desenvolvida pela Coll Projetos, Engenharia e Tecnologia tem mais ou menos as dimensões de uma geladeira e dentro devem ser penduradas as peças de roupas em cabides. O único trabalho da dona-de-casa será colocar e retirar as peças da máquina. “Ainda estamos em fase de testes sobre o desempenho da alisadora”, ressalva Célia.