Quando se fala em símbolo de malandragem, picaretagem ou qualquer outra…nagem, da vida, a primeira coisa que nos vem à cabeça é a figura do mecânico (a segunda opção é a figura do advogado) – sempre sujo, expressando-se muito mal, o eterno malandro, sempre pronto a passar a perna naqueles que nada sabem sobre automóvel, restando aquele ar no semblante das pessoas de pura desconfiança e incredulidade. Até os meios de comunicação e propaganda utilizam-se deste recurso.
Somente vejo isto no Brasil, nunca vi nada igual, em nenhum lugar do mundo e com tamanho peso discriminatório – racial e tecnológico.
Uma especialidade profissional de nível técnico não pode ser tratada desta maneira. O nosso silêncio e a nossa omissão fortalecem a questão.
Em qualquer outro país, a profissão de mecânico é cercada de normas e regras, fiscalizadas pelas prefeituras e entidades ligadas ao setor automobilístico, posso citar como exemplo, os EUA, Itália, Inglaterra, Austrália, França, que normalizam e cobram qualidade e responsabilidade dos profissionais envolvidos, apenas uma ilustração de como poderíamos copiar algo de bom que vem lá de fora!.
Lá as leis são para serem cumpridas e não para adornarem a sociedade, tudo é feito por respeito ao cidadão.
Este achincalhe é uma ilegalidade, é imoral e desnecessário, sugeriria ser coibido pelos órgãos de fiscalização de propaganda.
Por que não são utilizadas como exemplos as seguintes carreiras: deputados, senadores, ministros, militares e tantos outros exemplos diários de achincalhe nacional?
Em Pindorama, aqueles que não deram certo em nada, foram atirados à mecânica, como alternativa para não queimar na chama do inferno. No Brasil do ano 2000, o tema é profissionalizar. É questão de ordem.
As escolas devem estar preparadas para não somente repassar uma profissão, mas ensinar, fornecer padrões éticos de conduta, oferecer condições para que o indivíduo pense, com lógica e lucidez, pois isto é dar cidadania. O mercado agradece.
O profissional precisa conquistar novos clientes/parceiros sem perder os antigos, pois os nossos antigos clientes também evoluíram.
Dentro da cultura automotiva, onde o aprendizado era passado de pai para filho, assim como a estrutura do negócio, a figura do conhecimento e da especialização sempre foi alvo de duras críticas, pois sempre se apontava a baixa rentabilidade como justificativa e impedimento.
No mercado atual, onde investir é motivo de peregrinação aos órgãos de financiamento, muitas vezes sem sucesso, surge uma maneira de investir sem enlouquecer.
Surge a parceria com os fabricantes (montadoras, autopeças, aparelhos e instrumentos) – as BANDEIRAS DE FÁBRICA – parcerias que vêm para fortalecer a imagem de ambos, fornecendo o suporte necessário para a boa execução dos serviços prestados.
Ainda neste nicho, enfocando a questão treinamento, é de suma importância para o setor que seja reaparelhado o sistema S (SENAI e SESI) de forma a voltar a formar mão de obra com qualidade, como nos 70 e 80; o profissional precisa encarar o treinamento não como despesa e sim como investimento.
O saber nos pertence até o fim dos nossos dias e a única maneira de manter-se firme e dentro deste mercado competitivo que nos cerca é vestir a idéia da atualização constante.
A figura do profissional que faz de tudo um pouco, o generalista, está cada vez mais defasada (esta aparência de “bombril – 1001 utilidades” já não cabe no mercado de hoje).
É necessário para o reparador pensar em especialização, abraçar uma linha específica (que é uma maneira de reduzir o peso do investimento), pois o volume de informações é grandioso e requer muito do profissional para obter bons resultados.
Ao término dos anos 90, surgem as tábuas de salvação do mercado reparador nacional, que são a MANUTENÇÃO PREVENTIVA e a INSPEÇÃO VEICULAR, que juntas podem ser traduzidas como entrada de recursos (dinheiro, rotatividade e capacitação) nas oficinas, especialização profissional, resultando em trânsito ágil e seguro.
É a responsabilidade sendo dividida por todos os usuários de automóveis deste país.
A introdução da ASE em nosso país deu um ar de seriedade e competência, precisa de maior divulgação, porém ainda é pouco. Precisamos melhorar a escola básica, dar seriedade ao ensino médio, profissionalizar esta nação.
Temos uma grande quantidade de acadêmicos e esquecemos de que o capítulo manutenção está encravado, presente em nossas vidas, em tudo que realizamos.
Somente com boa formação o mercado reparador voltará aos níveis de outrora e o vento da mudança soprará sem cortar almas e empregos.