Protótipo futurista exibido no novo filme de Spielberg anima o debate sobre o destino dos automóveis
Como serão os carros daqui a 50 anos? O cineasta Steven Spielberg convocou um time de especialistas em design e tecnologia automotiva para especular sobre o futuro dos automóveis.
O resultado desse esforço chegou às telas dos Estados Unidos. Tom Cruise, protagonista do filme de suspense Minority Report, assume a pele de John Anderton, um policial do ano de 2054.
Movimenta-se pela paisagem de Washington num carrão com desenho tão inusitado que a frente parece a traseira — e vice-versa.
Modelo no Salão do Automóvel em 2002
Desenvolvido especialmente para o filme pelos desenhistas da Lexus, a marca de luxo da Toyota, o protótipo encarnou com agressividade a tendência de linhas curvas dos carros atuais.
A aposta estética é razoavelmente segura. Também é certo que os carros do futuro, como o Lexus de Spielberg, sejam equipados com sistemas de localização por satélite, controles acionados por comando de voz e sensores capazes de ajustar a suspensão de acordo com a velocidade.
Tais tecnologias já estão disponíveis hoje em carros luxuosos. Outros recursos são obviamente fantasiosos. É difícil acreditar que, dentro de meio século, os carros mudem de cor segundo a ordem do motorista, como Cruise faz no filme. E só em ficção científica se poderia conceber um automóvel apto a reconhecer o dono analisando seu DNA.
A incerteza sobre a aposta do filme recai em outros detalhes do protótipo. Será viável algum dia o sistema automático que guarda na garagem o Lexus cenográfico e o traz de volta por controle remoto? Um automóvel com piloto automático, guiado por pinos magnéticos embutidos no asfalto, funcionaria no trânsito encalacrado das grandes cidades?
A história recente dos automóveis não recomenda previsões tão radicais. Nos últimos 50 anos, o acabamento interno melhorou muito.
Com isso, conquistou-se o público feminino. Os modelos avançaram bastante na segurança, graças à legislação dos Estados Unidos, a pátria das montadoras, que exige itens como o air bag e a luz de freio no vidro traseiro. Mas, essencialmente, o carro preservou o velho motor de combustão.
Nos anos 80, a pressão ecológica tentou forçar a substituição do motor a gasolina por similares elétricos, não poluentes. A idéia nunca vingou, graças à oposição da indústria automobilística e ao custo exorbitante da nova tecnologia. Também despontaram filtros baratos e eficientes, capazes de reduzir a 10% as emissões de fumaça.
Graças a isso, os modelos de hoje são bem menos poluentes que os de 15 anos atrás. A indústria não abandonou por completo a idéia do carro elétrico, embora ainda a trate como excentricidade.
Recentemente, a Honda apresentou um protótipo, o Dualnote, que mescla um motor a combustível com outro elétrico — sem perda de potência.
Será o futuro?
Os recursos do carro no filme de Spielberg e as chances de que sejam realidade no ano de 2054
Provável
Localização por satélite
Ajuste da suspensão de acordo com a velocidade do carro
Painéis solares no teto para fornecer parte da energia do carro
Difícil, mas possível
Raios infravermelhos detectam aproximação de objetos e evitam colisões
O carro é guardado e retirado da garagem por controle remoto
O piloto automático conduz o carro sem a ajuda do motorista
Autoconserto da carroceria quando sofre colisões
Inviável
Sistema de segurança baseado no reconhecimento do DNA do dono
O carro muda de cor segundo a vontade do motorista
É possível que, nas próximas décadas, o motor de combustão seja substituído por células que geram energia a partir do hidrogênio, outra tecnologia sugerida no filme.
‘As células de hidrogênio quase não são poluentes e já existem há muito tempo, mas só agora estão diminuindo de tamanho para caber nos carros’, diz Glauco Arbix, professor de sociologia da USP e estudioso da indústria automobilística. Também se pode prever que o espectro da informática vai crescer dentro dos automóveis.
‘Os computadores e os sistemas de comunicação deverão tornar os veículos um ambiente amigável como a própria casa’, diz Arbix. Muitos recursos já são encontrados em carrões de luxo, como o Mercedes que responde ao comando de voz e o BMW que reuniu diversas funções num joystick. Nos Estados Unidos, as chaves estão sendo substituídas por cartões magnéticos.
Este Lexus (intitulado “carro do futuro”) foi criado apenas para contracenar com o ator Tom Cruise no filme Minority Report (de Steven Spielberg). O design foi feito por Harald Becker, pai do Batmóvel, que ouviu algumas sugestões do ator.
O resultado é um carro com uma dianteira bem curta, uma traseira comprida e linhas que se projetam para trás, confundindo qualquer um na questão “onde está a frente do carro?” (para evitar qualquer dúvida, o que você está vendo na foto é realmente a dianteira do protótipo). Como é um carro do futuro, ele usa eletricidade para se movimentar.
De todo modo, é um equívoco imaginar que os carros vão transformar-se com a mesma velocidade dos computadores.
‘O mercado não aceitaria mudanças tão rápidas’, diz o empresário e ex-piloto Denísio Casarini. ‘O automóvel é um bem relativamente caro. O consumidor não toleraria que ficasse obsoleto com pouco tempo de uso.
Se o modelo apresentado no filme de Spielberg tem serventia, é o de alimentar a mística dos automóveis no imaginário dos homens. A Lexus pagou US$ 5 milhões ao cineasta para emplacar seu protótipo no filme.
A propaganda é inteiramente institucional, uma vez que o carrão modelo 2054 não será posto à venda. Em tempo: os recursos do modelo talvez sejam o ponto mais verossímil do filme. O personagem de Tom Cruise trabalha com uma tecnologia fictícia, capaz de identificar e prender assassinos antes que eles pratiquem os crimes.
Aproveite e participe dessa aventura em 2054 l http://lexus.teamoneadv.com/minorityreport/index/