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Baixar a quilometragem: trapaça para fazer o velho parecer novo

A compra de um carro seminovo ou usado pode se transformar em um pesadelo para o consumidor.

Entre as armadilhas mais comuns no mercado está a diminuição da quilometragem para fazer o veículo parecer mais novo. Um truque difícil de ser detectado e que a resiste às tecnologias desenvolvidas pelas montadoras.

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Por isto, a compra de um carro usado requer muitas vezes um exercício de investigação. A diminuição do número de quilômetros rodados de um veículo é feita com muita facilidade nos painéis analógicos.

Mas se engana quem pensa que a digitalização trouxe segurança para quem compra um seminovo.

A velha trapaça, antes feita com a desmontagem do hodômetro, a troca de peças e remontagem, hoje é executada com a leitura e alteração do programa do chip instalado em alguns modelos.

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Em Ribeirão Preto os próprios “profissionais” que atuam na área confirmam que fazem os serviços e que a demanda é muito grande. Todos, é claro, preferem não se identificar. “Desde que tenho a loja executo este tipo de serviço, pois a procura é muito grande”, conta um especialista em velocímetros.

A CIDADE ouviu cinco lojas especializadas no segmento, e 80% confirmaram que executam a trapaça.

“Não é legal, mas somos pagos para fazer um serviço no painel e não posso provar se o cara está fazendo isto para enganar quem está comprando, ou apenas para iniciar a marcação após uma retífica de motor”, justifica o dono de loja.

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Outro revela que chega a atender uma média de dois carros por dia com este tipo de serviço. “Tem muito garageiro por aí que traz os carros para este serviço. Conheço um monte”, denuncia.

Dos cinco comerciantes ouvidos, apenas um negou fazer este tipo de trabalho. Segundo ele, a sua praia é outra.

“Trabalho mais com equipagem em neom, instrumentação e outras modalidades. Atualmente não mexo em quilometragem, apesar da procura”, disse ele. Todos entrevistados admitem que o que fazem contribui para as falsificações e prejuízos aos compradores.

“É como quem recepta objetos roubados. Mas não posso afirmar para um cliente que ele não poderá fazer aquilo pois estará enganando quem vai comprar o carro.

Que certeza eu tenho que ele está colocando o carro à venda?’, disse. O quinto entrevistado pelo A CIDADE revela que quase foi vitima do “tombo” como costumam chamar este tipo de serviço.

“A gente tem vivência, mas já me ofereceram um carro e eu desconfiei. Só que não tinha como ter certeza, pois teria que desmontar o carro para provar”, conta. “Baixar a KM” (outra denominação que descobrimos para a prática) quase nunca deixa vestígios.

“Só se o cidadão não tiver o cuidado de desmontar o painel e deixar marcas com a pinça. Se fizer com capricho ninguém percebe”, explica um dos proprietários da loja especializada em serviços em velocímetro.

Delegado não vê contravenção – Crime ou pura desonestidade? Para o delegado ouvido pelo A CIDADE, dr. Fernando Tadeu Viana, não há contravenção nesta prática.

“Isto é pura desonestidade mesmo. Não vejo contravenção neste caso”, diz o delegado, observando que somente é possível incriminar o autor da adulteração mediante provas.

“Estas provas são difíceis. Se for provado que a alteração visa esconder vícios do veículo caracteriza-se uma infração no Código de Defesa do Consumidor”, ressalta.

Golpe já é feito “em domicilio”
O serviço feito na maioria das oficinas de velocímetros custa em média R$ 50,00. Um dos entrevistados, que afirma não executar a trapaça, conta que seu faturamento poderia aumentar significativamente, se optasse por executar a diminuição de quilometragem.

“Acho que aumentaria em 50 a 60 por cento. O telefone toca toda hora com gente perguntando se faço”, afirma Paulo Sérgio Firmino Junior. Entre aqueles que não querem aparecer, surge outra revelação.

“Tem gente, dois ou três na cidade, que só trabalha com isto e faz serviço em domicilio, ou empresas”, afirma.

Segundo este comerciante, o especialista em “tombos” atende empresas e lojas de venda de carros seminovos.

“Tem firma que baixa a quilometragem da frota e solicita o serviço. Outros fazem para ter vantagem na revenda”, emenda.

A reportagem do A CIDADE tentou ouvir os “garagistas” que atuam no mercado de carros usados. Aqueles que se dispuseram a falar sobre o assunto, negaram a prática, mas afirmaram conhecer colegas que pagam pelo “tombo” para valorizar os carros que negociam.

Na semana passada verificamos em uma grande concessionária da cidade um veículo Palio ano e modelo 97, com 101 mil quilômetros.

Alguns dias depois, visitando outra grande concessionária da cidade, encontramos o mesmo veículo à venda, só que registrando apenas 49 mil quilômetros do velocímetro, o que mostra que a trapaça não se limita apenas aos pequenos revendedo

Como evitar cair no golpe da KM?
O segredo na hora de comprar um seminovo é cruzar dados. Pré-requisitos como: avaliar se o preço está de acordo com a quilometragem, se a quilometragem está de acordo com o estado do carro e assim por diante são importantes. Mas alguns detalhes podem denunciar a trapaça.

Um carro que apresenta marcas de desgaste no volante, na “bolinha do câmbio”, no pedal, nas borrachas ou no apoio de braços, dificilmente terá rodado 30 mil quilômetros.

Verifique se a etiqueta das trocas do óleo apresenta quilometragem e datas compatíveis com a quilometragem marcada no momento da compra do carro.

Os “picaretas” distraídos podem esquecer de mudar também a etiqueta, e assim a quilometragem da última troca de óleo estar acima da marcada no painel. Outra dica é checar a quilometragem de cada revisão no manual (quando houver).

Compare quanto o carro rodou depois da última revisão com a quilometragem que fazia entre uma revisão e outra.

Se entre uma revisão e outra o carro andava uma média de 20 mil quilômetros e depois da última andou apenas 5 mil quilômetros, desconfie logo pois o marcador pode mesmo estar adulterado. Uma boa média considerada pelos mecânicos é de 12 mil km por ano.

Fonte: A Cidade – Igor Ramos

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