O biodiesel, combustível renovável, produzido a partir de plantas oleaginosas, começa a chegar aos postos este ano, no Estado do Pará.
Depois, será paulatinamente distribuído no País. A meta atual é que seja adicionado ao diesel na proporção de 2%. Em 2020, deverão ser 20%.
A Fiesp promoveu seminário sobre este programa do governo, expressando o apoio da indústria paulista à iniciativa. O desafio, agora, é remover os entraves à plena implantação do projeto.
O seminário “Programa do Biodiesel Entraves Existentes para sua execução” foi organizado pelo Departamento de Infra-estrutura (Deinfra) da Fiesp, cujo diretor titular, Saturnino Sérgio da Silva, afirmou que o novo combustível deverá ser uma bandeira da entidade.
“Estudos apontam que o Brasil poderá vir a ser a sexta maior economia mundial a partir de 2015. Assim, precisamos estar mais nivelados ao primeiro mundo. Este é um grande desafio.
A Fiesp contribuirá para a implantação com sucesso do Programa Nacional de Biodiesel, recentemente lançado pelo Governo Federal”, frisou o dirigente na abertura do evento, realizado dia 4 último.
O biodiesel, combustível renovável, produzido a partir de oleaginosas como mamona, soja, girassol e dendê, já está autorizado no Brasil para mistura de 2% ao diesel do petróleo e deverá chegar aos postos ainda este ano, na região de Belém.
Atualmente, 20% do diesel consumido no país são importados. Utilizado principalmente no transporte de passageiros e de carga, o diesel tem consumo de 38,2 bilhões de litros/ano (57,7% do consumo nacional de combustíveis veiculares).
De acordo com Luiz Gonzaga Bertelli, diretor da Divisão de Energia do Deinfra, o biodiesel reforça a promoção do uso de fontes renováveis e possibilita a diversificação da matriz energética brasileira.
“Ao lançar as bases legais e normativas para a o Biodiesel, o Brasil, mais uma vez, inova no uso de combustíveis renováveis, assim como fez na década de 70 com o álcool extraído da cana-de-açúcar”.
Segundo o especialista, as fontes renováveis respondem por 43,8% da matriz energética brasileira, enquanto a média mundial é de 13,6% e nos países desenvolvidos, de apenas 6%.
Confiante, Bertelli afirma que o Brasil dispõe de tecnologia para produzir um biodiesel de qualidade internacional e o primeiro no mundo fabricado a partir de rota tecnológica utilizando o etanol.
“Nos demais países, o processo de produção utiliza o metanol, derivado do petróleo. Além disso, o uso do biodiesel implicará ganhos para a economia nacional a partir da redução das importações de diesel de petróleo, para a preservação do meio em ambiente e a geração de emprego e renda no campo, na indústria e nos serviços”.
No caminho certo – Nos últimos 12 meses, por meio do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), o Governo Federal organizou a cadeia produtiva, definiu as linhas de financiamento, estruturou a base tecnológica e editou o marco regulatório do novo combustível.
Para Donato Aranda, professor doutor de Engenharia Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Brasil começa a traçar um caminho de amadurecimento em relação ao biodiesel.
“O programa é extremamente promissor em diversos aspectos. Estimativas mostram que não precisamos derrubar uma árvore para o plantio de sementes oleaginosas, pois temos 40 milhões de hectares disponíveis”. No entanto, ele alerta para alguns cuidados quanto à matéria-prima.
“O Brasil dispõe de palma, mamona, algodão, babaçu, girassol, nabo forrageiro, canola, amendoim, soja e até mesmo sebo animal. Todos são passíveis de transformação em biodiesel, mas precisamos estar atentos para as questões referentes à oxidação, teor de fósforo, acidez, viscosidade e propriedades que reagem em contato com baixas temperaturas”, explica.
Preocupações – Investir no Biodiesel tem sido uma das prioridade do Governo Federal, que já destinou para o desenvolvimento de pesquisas e processo de produção, R$ 16 milhões dos fundos setoriais, geridos pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT).
Afinal, dados do Ministério de Minas e Energia mostram que o petróleo é responsável por 43,1% da matriz energética brasileira. Em segundo, estão as hidroelétricas, com 14%, seguidas da cana-de-açúcar, com 12,6%.
Em quarto lugar, com 11,9%, aparece o carvão vegetal, depois o gás natural, com 7,5%, carvão mineral, com 6,6%, outras biomassas, com 2,5%, e, em último, o urânio, com 1,8%.
Levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostra que o diesel é responsável por 50,7% do consumo de combustíveis nos veículos.
Em segundo lugar, a gasolina, com 28,5%, seguida do álcool anidro, com 11%, e álcool hidratado, 7,9%. O gás natural ficou em último, com 2,2%.
Diante deste cenário, o presidente da Comissão de Energia e Meio ambiente da Anfavea, engenheiro Henry Joseph Jr, faz um alerta: “Precisamos ter muito cuidado na alteração do combustível voltado à frota rodoviária, já que 90% usa o diesel”.
Ele também chama atenção para o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), bastante focado na questão social.
“O governo pretende beneficiar a agricultura familiar como fonte produtora de matéria-prima para o biodiesel, questão que pode impedir a produção em larga escala”.
O Brasil tem a nona frota mundial, com 21,85 milhões de veículos, não incluindo motocicletas, tratores e máquinas agrícolas.
O uso do biodiesel, proveniente da mamona já está sendo testado pela Anfavea em Ribeirão Preto, na Distribuidora de Bebidas Ipiranga, em 140 caminhões. Mas, de acordo com o engenheiro, há ainda muitas questões em aberto.
“Não somos contra o biodiesel, mas a Anfavea não abre mão de algumas exigências: que ele seja compatível com as tecnologias veiculares previstas para atender os novos limites de emissão de gases; não deve impor aumento nas manutenções periódicas e preventivas; que possa ser usado pela frota atual e, principalmente, que as características da mistura do biodiesel atendam às especificações da ANP (agência Nacional do Petróleo), mas que também tenha um olhar na futura adoção dos padrões internacionais”.
Joseph Jr. Ressalta como ponto importantíssimo e difícil a responsabilidade pela qualidade do combustível, que, segundo a Anfavea, deve ser dos distribuidores do combustível, responsáveis também pelo desenvolvimento e qualidade de seu fornecedores.
Produção integrada – O engenheiro José Luiz Olivério, vice-presidente de Operações da Dedini S/A, também apresentou alguns entraves.
Porém, otimista, acredita que o programa brasileiro será um sucesso, principalmente se houver uma integração das cadeias produtivas de grãos e da cana-de-açúcar.
De acordo com ele, produção integrada permite uma significativa redução nos custos.
“Precisamos aproveitar o potencial destas instalações, processos, sistemas, recursos humanos e transformar as usinas de álcool do Brasil em usinas produtoras de Energia, combustíveis e alimentos”.
Preocupado com os altos impostos dos combustíveis, o engenheiro lembra que no ano passado o Brasil consumiu cerca de 41 bilhões de litros de diesel convencional. Deste total, parte foi importada, representando um dispêndio em divisas de US$ 830 milhões.
Dentro do Programa Nacional, o biodiesel será misturado ao diesel inicialmente na proporção de 2%, com o objetivo de, até 2020, atingir 20% da mistura.
“Ou seja, esta meta significa um programa de proporções semelhantes ao realizado com o etanol, no qual o Brasil é líder mundial, como deverá ser na área do biodiesel”, conclui.