Dados da Associação Nacional dos Organismos de Inspeção (Angis) e do Sindicato das Empresas de Inspeção Veicular do Estado de São Paulo (Sivesp) referentes ao segundo semestre de 2021 mostram que quase 80% dos veículos abastecidos com gás natural veicular (GNV) estavam irregulares.
Esse índice revela que a grande maioria dos motoristas não realiza nem mesmo a primeira inspeção veicular, que é obrigatória na instalação do cilindro – fator que interfere diretamente nos acidentes envolvendo veículos com sistema a gás.
Diante desse cenário, Hiromori Mori, consultor de Assistência Técnica da NGK, multinacional japonesa especialista em velas e cabos de ignição, ressalta alguns pontos de atenção indispensáveis para os condutores de carros com GNV. Confira:
Sistema de injeção e óleos do veículo – Uma das vantagens do sistema a gás é o baixo nível de resíduos gerados na queima do combustível, causando um menor índice de carbonização do motor e velas, e diminuindo a contaminação do óleo lubrificante e velas de ignição. Apesar do benefício, essa ação não garante a durabilidade do produto.
“Por isso, é importante realizar a manutenção do automóvel conforme o preconizado pelo fabricante do motor ou veículo. Para essa revisão, o indicado é procurar profissionais especializados na manutenção e instalação do equipamento de gás, que possuem uma maior experiência e equipamentos necessários para a manutenção destes veículos, que contam com algumas características distintas dos veículos similares sem esta adaptação”, aconselha Mori.
Quanto ao sistema de injeção eletrônica indireto, no coletor de admissão, o correto é ligar o veículo no combustível líquido e depois do aquecimento do motor, direcionar para o uso do gás.
Antes de desligar o veículo, o condutor deve voltar ao combustível líquido para que o sistema se adapte novamente ao combustível líquido, fazendo com que o sistema retorne aos parâmetros originais e evitando o envelhecimento do combustível líquido.
Já no que se refere à injeção direta, há kits específicos para as aplicações que permitem ao motor trabalhar em conjunto com ambos os combustíveis, evitando danos ao sistema de injeção original.
Atenção para os desgastes nas velas de ignição – Uma das grandes vantagens dos carros a gás é a economia gerada por utilizarem esse combustível.
Para a implementação do sistema é necessário fazer uma adequação no motor para que ele possa trabalhar com o combustível líquido e/ou o gás.
Como o motor não foi construído especificamente para trabalhar dessa forma, o rendimento é um pouco menor do que no combustível líquido, quando comparado aos motores que trabalham exclusivamente com gás.
A desvantagem é que esta mistura mais pobre quando comparado com o combustível original, provoca um desgaste maior nas velas de ignição, sendo necessário um ajuste na recomendação da troca dos componentes.
“Por se tratar de uso mais severo do motor, a indicação geral é cortar o plano de manutenção pela metade”, sugere Mori.
“O uso do GNV requer um ajuste do kit gás com uma boa calibração da injeção. Esse cuidado evita danos ao sistema de válvulas, principalmente as de escapamento, que sofrem maior influência da temperatura. “
Principais cautelas para os motoristas de condições severas – Os veículos a gás devem ter a sua manutenção abreviada, principalmente os utilizados para transporte individual, como táxis e carros de aplicativo e de entrega.
“Essas condições são classificadas como de uso severo, o que exige uma manutenção mais detalhada do veículo realizada por profissionais especializados”, explica o consultor.
Apesar do sistema gerar economia de combustível, a forma como o motorista utiliza o veículo interfere diretamente nessa questão. Boas práticas na condução, como evitar acelerações muito bruscas e velocidades incompatíveis com a via, devem ser incluídas no dia a dia de quem dirige.
Outro cuidado fundamental é a manutenção: conservar o carro em boas condições, com pneus calibrados e alinhados, também gera economia para o bolso dos condutores.
Motorista de carros menos potentes devem evitar o sistema GNV – O kit GNV é uma adaptação realizada no motor que, quando utilizado, resulta na perda de rendimento.
Nesse contexto, motores com a cilindrada muito pequena ou potência muito baixa devem ser evitados. Outro aspecto observado é o relevo da região em que o motorista mora.
Cidades planas não costumam oferecer grandes problemas, porém em regiões com número elevado de serras é recomendável a instalação do sistema somente em motores mais potentes.
Fique atento ao abastecer o veículo – “Para veículos equipados com sistemas flex fuel original, o recomendável é fixar um combustível líquido, seja ele gasolina ou etanol”, alerta Mori.
“Com o combustível líquido fixado, deve-se, então, realizar a regulagem do kit gás. Caso o usuário queira substituir o combustível líquido, será preciso efetuar uma nova regulagem no kit gás.”
De acordo com Mori, ao seguir essas dicas é possível aproveitar o carro a gás de forma mais segura e econômica.
“Juntamente com os benefícios gerados pela praticidade do sistema vem a responsabilidade social e ambiental de manter o automóvel em suas melhores condições”, finaliza o consultor da NGK Brasil.
Como última recomendação, Mori aconselha o usuário a seguir os planos de inspeção e homologação específicos dos veículos a gás.
“Algumas inspeções, como teste de cilindros e homologação da instalação, são obrigatórias para a legalização do kit. Já a manutenção do redutor, injetores de gás, válvulas de abastecimento e cilindro dependem da qualidade do gás e postos de abastecimento”, finaliza o consultor.