Um desafio veterinário incomum se transformou em um marco de inovação no Centro Universitário de Brasília (CEUB). Estudantes de Medicina Veterinária e Engenharia criaram um protótipo de cadeira de rodas pioneiro para o cão Bili, que nasceu sem as patas dianteiras. Desenvolvido com tecnologia de impressão 3D, o dispositivo é anatômico e teve um custo 63% menor do que os modelos comerciais, mostrando o potencial da tecnologia para democratizar o acesso a soluções de mobilidade para animais.
Um desafio veterinário incomum se transformou em uma oportunidade de inovação no Centro Universitário de Brasília (CEUB). O protagonista é Bili, um cão da raça Poodle que nasceu sem as patas dianteiras. Essa condição rara, pouco estudada e ignorada pela indústria de acessórios veterinários, levou estudantes de Medicina Veterinária e Engenharia da Computação a criarem uma solução inédita: uma cadeira de rodas anatômica e de baixo custo, que devolveu a mobilidade ao animal.
O projeto, que se iniciou como um estudo de iniciação científica das alunas Beatriz Miranda e Sarah Mazetti, exigiu mais de 50 horas de trabalho contínuo, com sucessivos testes, falhas e correções. Segundo Beatriz, o ineditismo do caso exigiu uma revisão aprofundada de pesquisas e um mapeamento detalhado dos requisitos técnicos e materiais adequados para a criação de um dispositivo assistivo.
O processo de criação começou com medições detalhadas do corpo de Bili, incluindo a altura, largura do tórax e comprimento. Para garantir as proporções, foi utilizado um escaneamento 3D e um molde de gesso para validar as áreas de apoio. A partir dessas informações, as estudantes projetaram a modelagem digital em um software CAD, onde foram feitos os ajustes para otimizar a ergonomia, o conforto e a resistência do protótipo.
Com o apoio do curso de Engenharia da Computação do CEUB, o estudo evoluiu para a fase prática. Os modelos digitais foram transformados em peças físicas por meio de um processo de prototipagem rápida e impressão 3D. O estudante de Engenharia da Computação, Arthur Dornfeld, foi responsável por essa etapa, que incluiu falhas na impressora e correções sucessivas até chegar à versão ideal.
Apesar dos obstáculos, os primeiros testes mostraram que Bili se adaptava bem à cadeira. Sarah Mazetti relembra que, mesmo sem estar totalmente ajustada, o cão já demonstrava familiaridade com a cadeira desde o primeiro teste. A versão final do protótipo foi fabricada em plástico PLA para as partes rígidas, e recebeu um material flexível chamado TPU nas áreas de contato, garantindo estabilidade e, principalmente, o conforto do animal.
O professor de Engenharia, Hudson Capanema, destaca que o design do protótipo foi pensado de forma a permitir que a cadeira de rodas pudesse acompanhar o crescimento do cão, com a possibilidade de ajustes conforme ele ganhasse peso ou aumentasse de tamanho. Ele também ressalta a escolha de materiais específicos para cada componente, como o TPU mais confortável para o corpete de apoio, facilitando a adaptação e reduzindo incômodos.
A inovação do projeto não está apenas na tecnologia, mas também em seu potencial de impacto social. O protótipo foi concluído a um custo de apenas R$ 448,81, um valor 63% inferior ao de cadeiras de rodas comerciais, que podem chegar a mais de R$ 1.200 e, ainda assim, não atendem a casos tão específicos como o de Bili. Para o coordenador de Medicina Veterinária do CEUB, professor Carlos Alberto da Cruz Júnior, a solução tem um grande potencial para ser replicada por clínicas e ONGs a um baixo custo.
Para as estudantes Beatriz Miranda e Sarah Mazetti, a impressão 3D na veterinária tende a se popularizar, mas ainda enfrenta barreiras como a capacitação de profissionais e a disponibilidade de equipamentos. Elas acreditam que, com a evolução e o fomento a projetos como o delas, a utilização desse tipo de tecnologia pode se expandir, oferecendo a mais animais a mesma oportunidade que Bili teve.
Além de devolver a mobilidade a Bili, o projeto também marcou a trajetória de Arthur Dornfeld, estudante de Engenharia da Computação responsável pela modelagem das peças. Ele considera a experiência um salto em sua vida acadêmica, por poder participar da criação de um produto real e acompanhar todo o processo, desde a ideia inicial até a sua concretização.
O caso de Bili representa um avanço científico no Brasil, mostrando como a dedicação, a pesquisa interdisciplinar e o uso de novas tecnologias podem transformar vidas e abrir caminhos para soluções que, até então, pareciam inimagináveis. Mais do que um simples protótipo, a cadeira de rodas é um exemplo prático de como a inovação e o conhecimento podem ser aplicados para fazer a diferença.
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Prototipagem rápida – Processo de criação de um modelo físico de um projeto digital de forma rápida e eficiente, geralmente utilizando a impressão 3D ou outras técnicas de fabricação aditiva.
Impressão 3D – Tecnologia que cria objetos tridimensionais a partir de um modelo digital, depositando camadas sucessivas de material, como plástico, metal ou resina.
Software CAD – Ferramenta de Desenho Assistido por Computador (em inglês, Computer-Aided Design), utilizada para criar modelos digitais 2D e 3D, comumente usada em engenharia e design.
Plástico PLA – Material termoplástico, biodegradável e de origem renovável, amplamente utilizado em impressoras 3D devido à sua facilidade de uso e baixo custo.