O evento da AEA promoveu um debate aprofundado sobre a competitividade da indústria nacional, questionando “Vale a pena produzir no Brasil? E de que maneira?”. O seminário destacou a importância da Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT) na manufatura moderna, as exigências do cálculo da “pegada de carbono” em toda a cadeia e a necessidade de políticas que valorizem as vantagens regionais do Brasil, como o etanol.
A Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) promoveu na quinta-feira, 25, o X Seminário de Manufatura, voltado aos desafios e transformações do setor automotivo brasileiro.
O evento centrou-se no tema COP 30 e o Papel da Manufatura no Novo Cenário Automotivo Brasileiro, com o objetivo de provocar discussões sobre os modelos de produção e a competitividade nacional.
Fernando Villela, um dos coordenadores do seminário, abriu o encontro questionando a viabilidade da produção no país com a pergunta: “Vale a pena produzir no Brasil? E de que maneira?”.
O primeiro palestrante, Alessandro Rizzato, gerente de Transição Energética da Confederação Nacional da Indústria (CNI), enfatizou o engajamento da entidade nos debates climáticos globais.
O objetivo da CNI é promover uma transição justa na agenda climática por meio da atuação do setor privado, que tem o potencial de catalisar ações e reforçar soluções.
Rizzato observou que a partir das Conferências das Partes (COP), os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento triplicaram, e já existem 73 instrumentos de precificação de carbono em operação no mundo.
Segundo o representante da CNI, a COP 30, que ocorrerá em Belém (PA), deverá marcar um ponto de inversão na discussão climática, focando na implementação de soluções práticas.
Na sequência, Anderson Borille, do Conselho Diretor da AEA, apresentou o Desafio de IA e IoT, um projeto social que estimula jovens da rede pública a conceberem soluções baseadas em Inteligência Artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT).
O projeto já impactou mais de 500 estudantes e visa preparar esses jovens para liderar a próxima transição industrial, indo além do mero aprendizado e exigindo uma visão de negócio.
Em sua palestra sobre Verticalização da Cadeia de Suprimentos, Carlos Sakuramoto, diretor de Manufatura e Materiais da AEA, analisou a evolução dos modelos de negócio e processos produtivos.
Sakuramoto trouxe reflexões sobre eficiência, competitividade e a importância de aproveitar as vocações regionais, como a riqueza do Brasil em recursos naturais e energia limpa.
Ele argumentou que, para ser competitivo, o setor “não pode comprar o que sabe fazer melhor” e questionou se o país está conseguindo se beneficiar de suas vantagens regionais para ser mais competitivo.
Rodrigo Marino, gerente sênior de Negócios e Operações Automotivas da Flex, exemplificou como as novas tecnologias aprimoram a competitividade no tema Compartilhamento de Operações Fabris.
Marino destacou que a pandemia acelerou a automação e, hoje, a Flex utiliza a simulação de produção e o ajuste de processos antes da linha física, projetando ganhos de produtividade e qualidade até sem o toque humano.
Ampliando a discussão da descarbonização, Leonardo Amaral, gerente de Compliance Regulatório da Stellantis, apresentou a palestra Clusterização e parque de fornecedores.
Amaral contextualizou o cenário em meio às exigências de maior eficiência energética, mais segurança, complexidade logística e necessidade de priorizar a economia circular.
O executivo da Stellantis alertou que a descarbonização não se trata apenas do que sai do escapamento, mas de calcular a pegada de carbono em toda a cadeia, do berço ao túmulo (da extração ao descarte).
Segundo Amaral, há uma necessidade global de introduzir um padrão de cálculo universal para que todos “falem a mesma língua”, e um produto com menos carbono se torna mais competitivo.
A mesa redonda da tarde, sobre Reconfiguração da Cadeia de Fornecimento Global e Efeito da Tributação na Descarbonização, abordou os desafios de alinhamento de custos e suprimento.
Juan Padial, da KPMG, discutiu a cadeia global e os desafios brasileiros, citando o tarifaço dos Estados Unidos e sugerindo a compra de matérias-primas, como o aço, de países mais próximos, como a Argentina.
Ailson Marques, da Astemo, enfatizou a importância da redução de desperdícios e o foco na Indústria 4.0, defendendo a extensão dos incentivos fiscais e tributários aos fornecedores, principalmente os pequenos.
Em prol de maior eficiência operacional, Rafael Ceconello, da Toyota, propôs acordos comerciais bilaterais para fortalecer a relação com a Argentina e garantir escala para as linhas de produtos complementares.
Ceconello também sugeriu a concessão de linhas de crédito especiais para investimentos em tecnologias brasileiras de descarbonização, como forma de atrair planos das matrizes.
Por fim, o professor Luís Carlos Di Serio, da FGV, defendeu a importância do carro híbrido-flex, que tem um grande espaço no Brasil devido à valorização da cana de açúcar e do etanol, enquanto o carro elétrico terá demanda limitada.
Ao final do X Seminário de Manufatura, a AEA reconheceu quatro estudantes com a premiação Destaque Novos Engenheiros: Caio Henrique dos Reis (UFSCar), Gustavo Fernando Piotto (Mauá), Laura Lozada dos Santos Araujo (UFSC) e Rodrigo Rampaso de Morais (FEI). O Mecânica Online® teve o prazer de ser Media Partner do X Seminário de Manufatura da AEA.

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Descarbonização – Esforço para reduzir drasticamente a emissão de gases de efeito estufa, especialmente o dióxido de carbono, nas atividades industriais e de transporte, com o objetivo de combater as mudanças climáticas.
Verticalização da Cadeia de Suprimentos – Estratégia na qual uma empresa passa a produzir internamente componentes ou matérias-primas que antes eram comprados de fornecedores externos, buscando maior controle, eficiência e competitividade.
Pegada de Carbono – Medida da quantidade total de gases de efeito estufa emitidos direta ou indiretamente por um produto, atividade ou organização, calculada desde a extração da matéria-prima até o descarte final do produto.
Indústria 4.0 – Conceito de uma nova fase da revolução industrial, caracterizada pela fusão do mundo real com o virtual, usando tecnologias como IA, IoT, robótica e análise de dados para otimizar a produção e a cadeia de valor.